INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:
ZACARIAS
INTRODUÇÃO
Visão geral
Autor: O profeta Zacarias.
Propósito: Encorajar a confiança nas profecias de Zacarias, não apenas referentes ao julgamento, mas, também, nas referentes às grandes bênçãos prometidas para Jerusalém quando o reino de Yaohu vier em sua plenitude.
Data: 520-475 a.C. (ministério de Zacarias).
Verdades fundamentais:
Yaohu prometeu bênçãos maravilhosas para o seu povo após o exílio, por meio de Zorobabel, o filho de Davi, e por meio de Josué, seu sumo sacerdote.
Apesar das falhas daqueles que retornaram do exílio, Yaohu não falharia em cumprir as suas promessas.
Yaohu tem todo o poder para derrotar seus inimigos e o fará algum dia.
Uma batalha final trará a vitória absoluta para o povo de Yaohu.
Propósito e características
Zacarias contém uma variedade de formas literárias. As visões contidas na primeira parte são semelhantes às de Ezequiel e Daniel. O livro é sempre citado como um exemplo de literatura apocalíptica antecipada, e certamente métodos e temas característicos desse tipo de literatura estão em evidência. No cap. 14, encontra-se a descrição de uma guerra final contra Jerusalém, na qual Yaohu sai como um guerreiro vitorioso para salvar o seu povo de seus inimigos. Da mesma maneira, as visões dos cavalos (1,7-17), dos quatro carros (6,1-8) e da mulher dentro do efa (5,5-11) também podem ser vistas como formas antecipadas de literatura apocalíptica.
CHRISTÓS, “O UNGIDO” –, EM ZACARIAS.
(Yaohushua):
Zacarias falou tanto do futuro imediato de Israel como do futuro distante com O UNGIDO. Como ocorre com a maioria das profecias da restauração de Israel pós-exílio, as palavras de Zacarias tiveram um significado imediato para Zorobabel, o filho de Davi; para Josué, o sumo sacerdote, e para Jerusalém. Ao mesmo tempo, todavia, Zorobabel representava apenas a continuação e não o fim da linhagem davídica. Josué também representava a continuação da linhagem sacerdotal e fazia parte dos “homens de presságio” (3,8). Como resultado, o que foi dito sobre Zorobabel e Josué anteviu o que o último filho de Davi, o Messias, cumpriria um dia plenamente. Por exemplo, as profecias sobre a bênção de Yaohu sobre Jerusalém (p. ex., 2,5.11) eram ofertas genuínas aos que retornaram do exílio. Essas bênçãos poderiam ter sido percebidas em alguma extensão durante os primeiros anos pós-exílio, mas muitas se perderam por causa do pecado. Mas o que foi oferecido a Zorobabel certamente se cumpriria no Messias, que traria todas as esperanças da dinastia de Davi e do sacerdócio ao seu pleno cumprimento por meio de sua perfeita obediência. Portanto, podemos afirmar com certeza que Zacarias forneceu muitos vislumbres do Messias, YAOHUSHUA. Zacarias concentrou-se na família real de Davi (Zorobabel) e no sacerdócio zadoquita (Josué) como figuras centrais na realização das bênçãos de YAOHU na restauração. Não é de admirar, então, que o cumprimento desses dois papéis em O UNGIDO esteja ligado às profecias de Zacarias. YAOHUSHUA é o Rei que entrou em Jerusalém montado num jumento, como foi profetizado em 9,9-10, passagem que foi citada por Mateus para referir-se à entrada triunfal de YAOHUSHUA (Mt 21,1-11). A traição e a morte de O UNGIDO são citadas em 13,7. Além do mais, Zacarias desenvolveu a figura messiânica de um ramo de videira que combina as funções de um sacerdote e do rei (3,8; 6,12).
Embora o Messias não seja especificamente mencionado em 2,5.10, a promessa da habitação de Yaohu no meio do seu povo se realizou em O UNGIDO (Jo 1,14). Da mesma maneira, a Festa dos Tabernáculos, celebrada em 14,16-20, encontrará sua máxima expressão no estágio final o reinado do Messias nos novos céus e na nova terra (Ap 21,1-3).
ZACARIAS: Como o livro de Isaías, o de Zacarias não deve ser atribuído a um só profeta. Os caps. 1 – 8 são bem diferentes de 9 – 14 e constituem um livro bem delimitado, atribuindo ao profeta Zacarias, contemporâneo de Ageu, quando da volta do Exílio. A segunda parte provém de autor mais recente, geralmente chamado o Segundo ou Dêutero-Zacarias.
As características de ambas as obras merecem estudo à parte.
I. ZACARIAS 1 – 8
1. O profeta. A atividade do profeta Zacarias, cuja mensagem nos foi transmitida nos caps. 1 – 8 do livro que leva seu nome, segue de perto a do profeta Ageu. Sua primeira intervenção data de outubro-novembro de 520 a.C. (1,1), um mês antes do último oráculo de Ageu (Ag 2,10.20). Sua atividade prolonga-se no mínimo até novembro de 518 (7,1), ou seja, três anos antes da dedicação do novo Templo, em 515.
Ageu conseguiu provocar uma renovação religiosa (Ag 1,14). Zacarias consolida o movimento, tanto por seus apelos à fidelidade quanto por suas promessas concernentes ao futuro. Aproveitando os distúrbios políticos que atingiam o império de Dario (cf. Introd. a Ageu), diversos grupos de exilados voltaram de Babilônia a Jerusalém, cheios de esperança (2,10-13; 6,10); logo, porém, ficaram desanimados por conta de determinadas dificuldades de integração na comunidade (5,3-4; 8,16-17). A paulatina volta do mundo ao normal (1,11) eclipsou a expectativa de uma mudança rápida; a decepção apoderou-se dos espíritos.
Não sabemos quase nada da pessoa do profeta Zacarias. Ele desaparece por trás de sua obra. Apresentando como o neto de Idô (1,1 e 1,7) – sendo talvez filho de Idô (Ed 5,1; 6,14 e Targum) –, por volta de 500 ele parece ser o chefe da família sacerdotal de Idô (Ne 12,16). Sua qualidade de sacerdote explica sua insistência ao papel do Templo. Incumbia também a um sacerdote responder a uma consulta ritual como a dirigida a Zacarias acerca da manutenção ou supressão dos jejuns comemorativos (7,1-3; 8,18-19). Enfim, a preocupação com a pureza e santidade da Terra Santa (2,16; 5,1-4; 5,5-11) corresponde perfeitamente à mentalidade sacerdotal.
Este sacerdote, contudo, entra nitidamente na linhagem espiritual dos antigos profetas. Retoma seus apelos à conversão: 1,3-6; 7,4-14; 8,16-17; e liga-se a eles graças a certo número de empréstimos literários. Quanto às visões, é devedor de diversos profetas anteriores: Am 7, para o conjunto; Ez 40,3-4, para o anjo mediador; Ez 2,9-10, para o rolo voador. Diversas vezes a tradição tem insistido nesta qualidade de profeta para acentuar o peso de sua mensagem: 2,13; 2,15; 4,9; 6,15. Até a legenda adotou este profeta, transformando-o em mártir (Mt 23,35), em conseqüência da confissão com Zacarias filho de Iehoiada, assassinado pelo rei Joás (2Cr 24,20-22).
2. O livro. O essencial do livro é constituído por um relato de oito “visões”, espécie de diário redigido em primeira pessoa, a descrever antecipadamente a restauração definitiva da comunidade. Completado ulteriormente, este relato pode ser considerado obra do próprio profeta. É encabeçado por uma data precisa, em 1,7: meados de fevereiro de 519 a.C.; representa uma fase importante da pregação do profeta e o centro em trono do qual se desenvolveu o livro inteiro.
Este livrete das visões é entremeado por diversos oráculos que relacionam algumas das visões com os acontecimentos da atualidade. Assim, 2,10-17 é um apelo aos exilados para que voltem à cidade cujas condições são evocadas na segunda e terceira visões: 2,1-9. No cap. 3, os vv. 8,9c e 10 constituem uma promessa específica ao sumo sacerdote Josué depois da visão de sua investidura: 3,1-7 e 9a. Os vv. 4,6b-10a trazem uma garantia peculiar a favor do governador Zorobabel, palavra inserida na visão referente aos líderes da nova comunidade: cap. 4.
O plano do livrete é bem equilibrado: as três primeiras visões (os cavaleiros, os ferreiros, o agrimensor) apresentam as fases preparatórias da restauração messiânica; as duas visões centrais (a vestidura de Josué, os dois Ungidos) dizem respeito ao governo da nova comunidade; as três últimas, enfim (o livro, a mulher no alqueire, os cavaleiros) evocam as condições da restauração final.
Convém observar, porém, que a quarta visão (a investidura do sumo sacerdote) comporta características literárias e teológicas particulares. Confere ao sacerdote um lugar preponderante, enquanto a visão seguinte mantém os dois Ungidos em pé de igualdade. É possível que a quarta visão tenha sido introduzida posteriormente, o livrete original contendo somente sete. Tal modificação revela a importância conquistada pelo sacerdote a partir do desaparecimento do príncipe davídico Zorobabel. Semelhante evolução percebe-se em 6,9-14(15), onde a coroa originariamente se destinava a Zorobabel.
Completando deste modo, o livrete das visões foi emoldurado por pregações (1,1-6; 7,4-14) e promessas acerca do futuro (8,1-17.20-23). Estas últimas são agrupadas em torno a uma consulta referente aos jejuns comemorativos das calamidades de 587 (7,1-3 e 8,18-19). Estas pregações e oráculos foram colecionados e resumidos pelos discípulos do profeta, em certo caso até mui tardiamente, como 8,20-23. Assim, a mensagem de Zacarias permaneceu viva para as gerações seguintes.
3. A mensagem. A mensagem do livro de Zacarias apresenta duplo conteúdo.
De um lado, o profeta testemunha uma evolução na maneira de apresentar as intervenções de Yaohu entre os homens. Com os grandes profetas preexílicos, Yaohu entra se comunica diretamente por sua palavra ou por visões nas quais ele mesmo intervém. Ele é ao mesmo tempo o Yaohu santo, transcendente, e o que toma pessoalmente em mãos o rumo dos acontecimentos. Em Zc, Yaohu parece mais afastado do palco dos acontecimentos terrenos.
Se concede visões, já não é ele a quem se contempla, e sim, um anjo encarregado de explicar as intenções divinas. Os projetos de Yaohu são realizados por intermediários (anjos, cavaleiros).
Este afastamento de Yaohu em relação ao mundo traduz, sem dúvida, uma preocupação de espiritualização, mas corresponde também a uma experiência mais existencial, a de certa ausência de Yaohu. As provações do Exílio e as grandes dificuldades do memento presente (miséria, desânimo) suscitam a questão: será que Yaohu ainda está presente a nosso destino? A fé responderá multiplicando os intermediários que vão preencher o vazio aparente e aproximar o mundo celestial e os homens em provação. Os intermediários que, mais tarde, na apocalíptica, esconderão Yaohu por trás de um simbolismo cheio de mistério, constituem por enquanto um elo entre Yaohu e o homem.
Em segundo lugar, e de modo mais global, Zacarias está também a serviço da esperança. A uma comunidade que as dificuldades materiais e as decepções levariam à dúvida ou à resignação, ele proporciona nova esperança induzindo-a a ação. A reconstrução do Templo e a restauração de um culto válido são as maneiras concretas de aguardar a salvação. É o preço da instauração da era messiânica. As nações lhe serão associadas (2,15; 8,20-23). A salvação está à porta; o próprio Zacarias é considerado aquele que a deve inaugurar. A coroação simbólica que ele recebe (6,9-14) já é sinal disso.
Todavia fica-lhe associado um segundo personagem, que colabora com ele em pé de igualdade (4,14; 6,13): o sumo sacerdote. Surge assim a expectativa de um governo bicéfalo, dividido entre o sacerdote e o príncipe – idéia que na teologia medieval justificará o princípio de uma separação dos poderes civil e eclesiástico. Depois do desaparecimento de Zorobabel, esta expectativa se modificará e concentrará o papel messiânico na pessoa do sacerdote. É o que exprime a quarta visão (3,1-7) e a promessa especial feita a Josué e a seus colegas “que constituem um presságio” (3,8-10).
Esta esperança encontrará novas formas no AT (o texto pós-exílico: Jr 33,14-26) e, mais tarde ainda, em Jubileus e em Qumran. A carta aos Hebreus a proclamará realizada em Yaohushua (Hb 3).
II ZACARIAS 9 – 14 (DÊUTERO-ZACARIAS)
1. De Zacarias ao Dêutero-Zacarias. Esta segunda parte do livro de Zacarias exibe características que excluem sua atribuição ao mesmo autor da primeira.
Mudou a situação histórica: os problemas da restauração da comunidade, da cidade e do Templo não têm mais incidência; a expectativa messiânica, antes associada à reconstrução do Templo e à pessoa de Zorobabel, agora se desloca para personagens não identificados: o rei-messias pobre (9,9-10), o bom pastor rejeitado (11,4-14) e o misterioso “traspassado” (12,1 – 13,1); e nenhum dos personagens claramente nomeados na primeira parte reaparecem na segunda. Os prisioneiros evocados diversas vezes (9,11-12; 10,8-11) já não são os deportados de 587, mas antes evocam a diáspora em sentido amplo.
Os dados literários são igualmente muito diferentes. As visões e os breves oráculos messiânicos acerca de Zorobabel, de Josué ou do povo todo cederam lugar a desenvolvimentos mais amplos, de teor épico; o profeta e o anjo-intérprete que falavam na primeira parte já não entram em cena. Certos termos, certas expressões características da primeira parte estão ausentes – ou quase ausentes – da segunda, e vice-versa. Aliás, ocorre em 9,1 um novo sobrescrito, repetido em Zc 12,1 e Ml 1,1, revelando a origem peculiar das últimas seções da coletânea dos Doze Profetas.
2. O enigma literário dos caps. 9 – 14. O complexo arranjo dos diversos fragmentos que constituem a coletânea atual levou a ver-se neles uma espécie de mosaico de trechos isolados ligados entre si por certa expectativa messiânica. Outros, ao invés, procuraram neles uma estrutura literária complicada, mas equilibrada. Alguns traços comuns caracterizam os poemas dos caps. 9 – 11, onde as alusões históricas e as relações da comunidade com os outros povos podem ser indícios das preocupações de um autor ou de um grupo determinados. Os últimos capítulos, redigidos sobretudo em prosa, e preocupados com a transformação interna da comunidade, talvez tenham outra origem. Utilizando estes componentes diversificados, dos quais alguns podem remontar até antes do Exílio (9,9-10; 10,1-2; 11,1-3), o redator final organizou um conjunto assaz coerente.
Quanto à data de composição do livrete, apresenta-se amplo leque de hipótese, indo do período preexílico (séc. VII ou VI) até o período dos Macabeus, quando a morte do sumo sacerdote Onias III (2Mc 4,34) ou de Simão (1Mc 16,11-17) {Livros apócrifos} Anselmo Estevan., teria feito surgir à figura do traspassado.
A origem do livrete parece sempre mais dever ser situada no início do período grego, entre 330 e 300.
De fato, a campanha militar de Alexandre Magno, em 332, ao longo da costa mediterrânea, como também a destruição de Tiro, são descritas, com certa precisão, em 9,1-8.
Os cativos mencionados em 9,11-12 e 10,8-11 são os membros da diáspora inteira, presos em regiões simbolicamente nomeadas Assíria e Egito. Este último país, aliás, viu chegar em 312 uma onda de prisioneiros judeus, após a tomada de Jerusalém por Ptolemeu Soter I . Assim se explica a designação de “gregos” (Iavan) em 9,13 como potência hostil ao povo de Yaohu.
A maneira com que o autor se apóia nos grandes profetas de antanho, utilizando-os de modo original e com grande maestria, obriga a situa-lo num período já muito afastado do Exílio.
A obra inteira revela inegável fermentação religiosa e intelectual em conseqüência das vitórias de Alexandre Magno. Coisa semelhante já ocorrera depois da invasão da Senaquerib, no tempo de Isaías, e quando do despertar religioso na volta do Exílio; e ocorrerá novamente em conseqüência da grande perseguição no tempo dos Macabeus.
3. Plano do livro. Tal como se apresenta atualmente, o livrete comporta duas partes simétricas, nas quais a obra da salvação se desdobre num duplo movimento: um deslizamento do povo rumo à ruína e uma renovação total realizando a salvação.
Primeira parte: 9,1 – 11,17. À maneira de um comunicado de vitória, o profeta anuncia a intervenção definitiva de Yaohu. Os povos vizinhos, vencidos, são purificados e depois integrados à comunidade dos fiéis: 9,1-8. Logo depois surge a figura do rei-messias, que, na humildade, instaurará o reino ideal: 9,9-10. Grandes combates permitirão o reagrupamento de todos os dispersos do povo, de qualquer lugar, a ponto de arrebentar as fronteiras tradicionais: 9,11-17 e 10,3 – 11,3.
Um breve intermédio: 10,1-2, vem lembrar que tudo é exclusivamente obra de Yaohu e que qualquer outro apoio é falacioso.
Após esta preparação, o messias, desta vez apresentado como o pastor, empreende a realização do seu programa, significado pelos dois cajados: “Benevolência” e “União”. Tamanha é, porém, a degradação religiosa dos chefes e do rebanho que sua empresa malogra: rejeitado, cede o bom pastor seu lugar a um velhaco que dizima desavengonhadamente o rebanho (11,4-17).
Segunda parte: 12,1 – 14,21. Quando tudo parece perdido, o sacrifício do traspassado provoca um restabelecimento: livrado dos seus inimigos exteriores o povo é brindado com um espírito novo (12,1 – 13,11). A purificação prossegue e se completa pela renovação da aliança (13,2-9).
A salvação se estende ao mundo inteiro; todos os povos devem reunir-se a Israel para confessar a realeza do ETERNO. Embora provavelmente mais tardio, constitui o capítulo 14 uma boa conclusão da obra toda.
4. A mensagem de Dêutero-Zacarias. Pode-se resumir todo o conteúdo do livrete sob o título: descrição do advento messiânico. Notar-se-á, contudo, que nele, em ambas as suas partes, se justapõem duas concepções complementares.
a) Um messianismo sem messias. Este ideal messiânico é apresentado pelas seguintes passagens: 9,1-8; 9,11-17; 10,3 – 11,3; 14. Achega-se ao do apocalipse de Isaías (Is 24 – 27). Toda a obra da salvação é pessoalmente realizada pelo ETERNO, que garante a redução dos inimigos e o reagrupamento de todo o povo. Cumprida essa condição preliminar, poderão os pagãos esperar a sua própria integração nessa comunidade. Terão o seu lugar entre os clãs de Judá. Terão, entretanto, de se submeter a todas as exigências da Lei, que se exprime nas observâncias rituais (9,7) e nas práticas cultuais (14,16-19). Visão generosa, mas um tanto limitada: a agregação dos estrangeiros passa pela sua afiliação à comunidade Judaica.
b) Um messias de vários semblantes. Esta ação atribuída exclusivamente a Yaohu se desdobra, em outras passagens, na ação de um personagem particular, apresentado sob tríplice imagem, nenhuma das quais recobre exatamente as outras duas.
O rei-messias: 9,9-10. Conquanto uma parte da terminologia o vincule aos protótipos David e Salomão, outra o situa na linha do ideal profético: o pobre e o justo. É um messias que exprime o ideal religioso dos “pobres do ETERNO” (Sf 2,3; 3,11-13; Is 49,13; 57,15; 61,1-2; 66,2; Sl 22,27; 69,33-34).
O bom pastor: 11,4-17 e 13,7-9. Apresentam uma fisionomia menos caracterizada. Já se prende menos firmemente à ideologia real e mais explicitamente, entretanto, à do Pastor que é o próprio ETERNO, tal como o apresenta Ez 34,11-22.31. Com efeito, a alegoria de Dêutero-Zacarias passa várias vezes, sem transição, do pastor imitado pelo profeta do ETERNO em pessoa. Orienta-se, de mais a mais, para a figura do traspassado, porque é rejeitado, vendido, eliminado, e seu sacrifício (13,7) contribui para restabelecer a aliança (13,9).
O traspassado: 12,9-14. Faz seqüência ao Servo sofredor de Is 53, embora os termos utilizados sejam completamente diferentes. Como para o Servo, o seu sacrifício é fonte de transformação dos corações (12,10), de purificação (13,1). O nexo com o antigo figura real permanece discreto. É indicado pela reiterada evocação de David e sua linhagem: 12,7-8.10.12; 13,1. A glória messiânica cede o passo ao despojamento e ao malogro, fonte de salvação.
A densidade messiânica do Dêutero-Zacarias nutriu fortemente o pensamento das gerações seguintes. Explica ela por que os evangelhos recorreram tão fartamente a esse profeta para apresentar a pessoa e o papel de YAOHUSHUA, especialmente na sua paixão: Mt 21,4-5 e Jo 12,15; Mc 14,27 e Mt 26,31; Mt 27,9-10; Jo 19,37.
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