INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:
AMÓS
INTRODUÇÃO
Visão geral
Autor: o profeta Amós.
Propósito: Revelar a severidade do julgamento divino por causa da infidelidade pactual em Israel e Judá e declarar a esperança de grande restauração depois da destruição e do exílio que estavam se aproximando.
Data: 760-750 a.C.
Verdades fundamentais:
Assim como as nações gentias seriam julgadas pela sua pecaminosidade, Israel e Judá seriam julgadas pelos seus pecados por meio da agressão assíria.
O pleito de Yaohu contra Israel era inegável e a causa de muitos problemas para Israel, tanto na natureza quanto na guerra.
As visões do futuro de Amós confirmaram que Samaria seria destruída pela agressão assíria.
Embora Israel e Judá fossem ser julgadas juntamente com as outras nações, após o exílio elas seriam exaltadas acima de seus vizinhos gentios.
Propósito e características
Amós desafiou vigorosamente a idolatria e a injustiça social de Israel, declarando que a adoração sincrética negava as mais básicas verdades sobre Yaohu o Deus de Israel. O ETERNO é soberano sobre tudo o que ele criou (4,13; 5,8; 9,5-6). Ele é o verdadeiro Deus – Yaohu – sobre as nações. Como tal, ele é capaz de jogar nação contra nação (1,3 – 2,3) e de julgar o povo da sua aliança por meio da agressão de outras nações (6,14). Porém, a despeito de tudo isso, ele é um Deus de amor que deseja a vida, e não a morte do seu povo (5,4).
Amós ressaltou que por Israel não ter-se arrependido, mesmo depois de ter sido julgada (4,6-11), o ETERNO faria um julgamento ainda mais severo, que terminaria em total destruição e exílio (4,12 – 5,20). Pouco depois de Amós ter previsto que Israel cairia perante o Império Assírio, suas previsões começaram a se cumprir. Sob o reinado de Tiglate-Pileser III (745-727 a.C.), a Assíria ganhou poder e se expandiu para o norte e para o oeste. Judá logo se tornou um vassalo assírio. A Síria, localizada entre Israel e a Assíria, passou a fazer parte do Império Assírio (2Rs 16,7-9).
CHRISTÓS, “O UNGIDO” –, EM AMÓS.
(Yaohushua):
As profecias de Amós revelam O UNGIDO de três maneiras.
1. O tema principal de Amós – julgamento contra as nações e os infiéis de Israel e Judá – prenuncia o julgamento que vem em O UNGIDO. O Novo Testamento ensina que O UNGIDO julgará aqueles que se voltam contra Yaohu (Jo 5,21-27; Rm 2,12-16), incluindo o povo em aliança com Yaohu (Hb 10,26-30; 1Pe 4,17; Ap 2,4-5.14-16.20-23; 3,1-3.15-19). Em última análise, O UNGIDO cumpre o tema do julgamento em Amós.
2. Am 9,11-15 fala da restauração prometida a Israel e Judá após o exílio.
Seguindo o padrão estabelecido por Moisés (Lv 26; Dt 4,15-31; 28,1-68), Amós anunciou que o exílio seria seguido de um tempo de grandes bênçãos para o povo de Yaohu. Após o fracasso daqueles que retornaram à Terra Prometida em 539 a.C., essas profecias de restauração começaram a se cumprir. O Novo Testamento explica o cumprimento inicial dessas profecias de restauração por meio da entrega do Rúkha como o penhor da herança daqueles que acreditam na primeira vinda de O UNGIDO (Ef 1,14), assim como o seu cumprimento final nos novos céus e nova terra quando O UNGIDO retornar (Ap 21,1ss.).
3. Amós falou da restauração do “tabernáculo caído de Davi” – a dinastia real de Davi (9,11). Essa previsão indicou que, algum tempo após o exílio, um filho de Davi lideraria o povo de Yaohu à vitória sobre as nações (9,12) e garantiria segurança eterna para eles (9,15). Essa profecia é cumprida por Yaohushua, o filho real de Davi (Mt 1,1; Lc 1,32-33; Ap 22,16). Yaohushua subiu ao trono da casa de Davi em sua ressurreição e ascensão (At 2,25-36). Ele reina agora e promove uma guerra santa contra as nações por meio do evangelho (At 15,13-19; 1Co 15,23-25). No final, ele derrotará todos os seus inimigos e estabelecerá um reino universal quando retornar em glória (At 2,34-36; Ap 19,11-21; 21,1; 22,5).
AMÓS: O profeta e seu tempo. Amós é o primeiro entre os profetas a ter seus gestos e palavras recolhidos numa coleção particular. Antes dele, atuaram em Israel outros profetas, e deles falam sobretudo os livros de Samuel e Reis. Amós abre uma linhagem nova, o que nós chamamos de profetas escritores, porque a Bíblia conservou o eco imediato de suas intervenções em livros que levam os nomes deles. Normalmente, estes livros não são obra dos próprios profetas, mas de seus discípulos, assim como serão os evangelhos em relação à atividade e pregação de Yaohushua. Contudo há passagens – mormente aquelas em que o profeta se exprime na primeira pessoa do singular – que bem podem provir de sua pena, como o relato das cinco visões de Amós nos caps. 7, 8 e 9 de seu livro.
O nome de Amós evoca o verbo levar, em hebraico. Talvez seja uma forma abreviada de Amosiá, que quer dizer O ETERNO levou, nome com que se exprime – como muitas vezes – o reconhecimento por uma intervenção favorável do ETERNO. Amós se apresenta a si mesmo como criador de gado (cf. 7,14 e o cabeçalho do livro em 1,1). É judaíta, vivendo em Teqoa, perto de Bet-Lehem, numa região ondulada propícia à criação de gado. As numerosas imagens tiradas da vida pastoril que ilustram sua mensagem confirmam esta indicação.
A época de sua atuação é a segunda metade do séc. VIII, quando do reinado de Jeroboão II em Israel (787-747) e de Ozias em Judá (781-740), sempre segundo o cabeçalho da coletânea (1,1). Amós precede o profeta Oséias de uns dez anos.
No plano político, o reino do Norte – o das dez tribos – conhece um último momento de sossego, devido principalmente ao declínio da Síria, região vizinha, que está sendo subjugada pela expansão assíria, a leste. Jeroboão recuperou os territórios outrora habitados pelas tribos de Israel além do Jordão (2Rs 14,25), em vitórias que suscitavam sonhos de grandeza (ver Am 6,13-14). A tranqüilidade parece definitivamente garantida (6,1-3), enquanto na realidade uma ameaça mortal paira sobre Israel: os exércitos assírios aproximam-se sempre mais da Palestina. No plano econômico, os intercâmbios comerciais com os estrangeiros trazem alguma prosperidade ao país, mas acentuamos desequilíbrios sociais entre pobres e ricos.
Na Samaria, especificamente, ostenta-se o luxo e floresce o que se pode chamar o esnobismo dos novos ricos (6,4-7; 3,12). A antiga solidariedade que unia os membros do povo da aliança cedeu o lugar à explosão dos pequenos pelos poderosos, encoberta pelos julgamentos iníquos dos tribunais (2,6-7; 4,1; 5,7). No plano religioso, o próprio culto se realiza em cerimônias esplendorosas, dos quais o povo todo se gloria, mas que provocam críticas severíssimas de Amós (4,4-5; 5,4-5.21-27).
A missão de Amós se caracteriza por um alcance “ecumênico” peculiar: originário do reino de Judá, recebe ordem de pregar para o reino de Israel (ver 7,15 e 1,1). Considerando a divisão dos Remanescentes hoje, poderíamos comparar Amós a um pregador que Yaohu mandasse de uma tradição confessional para outra. Sua vinda ao reino do Norte é sinal de unidade: Israel, por mais que esteja dividido no plano político e mesmo religioso, continua sendo um só povo aos olhos do ETERNO, que o elegeu e que vai pedir-lhe contas. Amós profetiza provavelmente em Betel, o principal santuário do reino do Norte, edificado quando do cisma, para rivalizar com o de Jerusalém. Intervém por ocasião de uma das grandes festas anuais, cujas cerimônias parecem descritas em 4,4-5. Mas seus oráculos visam também a Samaria, e alguns podem ter sido pronunciados na própria capital (p. ex. 3,9-12 ou 6,1-7). À diferença dos grandes profetas que vieram depois dele, o ministério de Amós foi de curta duração, no máximo alguns meses. Foi provavelmente interrompido pelo sacerdote de Betel que denunciou Amós ao rei e o expulsou como perturbador da ordem pública (7,10-17). Talvez por opor-se a esta proibição, Amós – ou um grupo de discípulos – começou a pôr seus oráculos por escrito e a fazê-los circular entre o povo. Assim, suas palavras continuam vivas depois dele, sendo transmitidas no círculo dos ouvintes atentos à palavra do ETERNO proclamada por seu profeta. É possível que certos oráculos tenham sido ulteriormente acrescentados à coleção, com o intuito de atualizar a mensagem do profeta em circunstâncias novas, por exemplo o oráculo contra Judá (2,4-5) e talvez a promessa final (9,11-15), cuja data continua objeto de discussão.
Linguagem e mensagem. De origem camponesa, Amós não é o iletrado, inculto,ou até rústico que às vezes se pretende representar. Medita sobre os acontecimentos que marcam a vida de sua própria terra e dos povos vizinhos; já pressente a potência que vem do norte, a Assíria, que destruirá Samaria em 721 ou 722. É sensível às ameaças que vêm da terra e do céu, nas quais vê a obra de Yaohu. Seria um engano ver em Amós um pregador negligente quanto às formas de linguagem. Sabe utilizar tanto as sutilezas da sabedoria (ver 3,3-8; 5,19; 6,12) quanto a amplidão solene da liturgia (1,3 a 2,16; 4,6-13; 5,4-6.14-15), sabe manifestar o elã do lirismo (ver 4,1-2; 9,1-4) e jogar com as palavras ou usar de ironia (ver 3,12; 5,5; 6,13; 8,1). Sua linguagem impressiona sobretudo pela sobriedade: para proclamar sua mensagem bastam-lhe poucas palavras, rápidas qual o raio, destruindo ilusões como o terremoto (cuja lembrança se liga ao seu ministério: ver 1,1). Estes dons literários manifestaram-se por serem sustentados pela força e grandeza do assunto: a impenitência de Israel em face dos apelos e da fidelidade de Yaohu.
Yaohu apareceu a Amós em cinco visões, que constituem o objeto principal dos três últimos capítulos do livro. Para Amós, apegado às tradições e atento aos fatos, estas visões foram um desafio divino provocando-o à pregação. Depois de ter intercedido por seu povo e ter obtido, por duas vezes, o perdão, Amós aprende de Yaohu que não haverá mais perdão (7,8) e que a casa de Jacó será destruída, embora não completamente (9,8). Esta revelação o constrange a falar (3,8), embora certa sabedoria pudesse recomendar-lhe calar-se (5,13).
A mensagem de Amós tem por objeto a grandeza de Yaohu, seu poder e sua justiça que se estendem a todas as nações, mas também sua irreversível predição pelo povo de Israel. Lembra as exigências da Lei, especialmente da que ordena o culto e da que define os direitos dos pobres e dos indigentes. Com solenidade e violência, Amós proclama aos ricos, aos poderosos, aos juízes e aos sacerdotes o que o Evangelho voltará a dizer: Todas as vezes que o fizestes a um destes mais pequenos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40). Amós lembra também que o culto que agrada a Yaohu é o que exprime, na humildade e na justiça, a resposta de Israel ao amor de seu Deus – Yaohu. Também neste ponto Amós recebe a companhia do Novo Testamento: Que tens que não hajas recebido? E se o recebeste, por que gabar-te como se não o tivesses recebido? (1Co 4,7).
O Deus – Yaohu – de Amós é um Deus ciumento, de amor inflexível, capaz de decidir que o peso do mundo mau afastará os homens longe dele – e, às vezes, o faz –, mas capaz também – e isso em relação tanto a Israel como aos que pertencem a Israel espiritualmente – de não se deixar vencer pelo peso do pecado e pelas insanas exigências dos pecadores que vivem sem Yaohu ou fora de suas leis. Ele é capaz de pronunciar que o pecado e o orgulho devem atrair sobre o pecador toda espécie de castigo; ele pode fazer superabundar o perdão e a graça lá onde o pecado e a insolência foram abundantes. Amós nos ensina, ainda, que a oração do homem pode ter tamanha eficácia que chegue a comover Yaohu e a faze-lo voltar atrás de algumas de suas decisões. Esta intercessão do profeta pelo povo de Yaohu terá seu acabamento na oração de Yaohushua pelos seus (Jo17).
O Yaohu de Amós não tem duas faces, a de um Yaohu que castiga e a de um Yaohu que salva. É o mesmo Yaohu e ETERNO que castiga, querendo salvar. O próprio castigo ultrapassa a ordem fria e rigorosa da justiça sem perdão, pois é a expressão de um amor ferido ou traído que, num último grito e para além do castigo, ainda chama à conversão. Oseias, que profetizará em Israel poucos anos depois de Amós, descreverá numa linguagem nova este drama do amor divino.
Assim, o livro de Amós comporta:
Uma revelação carregada de ameaças: há quem morra de fome e de sede (8,11), por ter procurado tarde demais a Palavra de Yaohu e não a ter encontrado;
Uma revelação que se abre à esperança (5,15; 9,8) e que será retomada por outros profetas: quando tudo está perdido, Yaohu pode ainda agraciar.
Divisão do livro. Depois do título (1,1) e um breve prólogo (1,2), abre-se uma primeira parte, constituída por uma seqüência de oráculos contra as sete nações vizinhas de Israel e contra Israel mesmo (1,3 – 2,16), todos eles formados no mesmo molde, mas com desenvolvimento maior no último.
A segunda parte constitui-se dos oráculos contra Israel (caps. 3 a 6). Entre estas palavras, geralmente breves e agrupadas sem ordem certa, podemos relevar particularmente o discurso sobre a impenitência de Israel (4,6-13), as palavras contra o culto de Betel (4,4-5; 5,4-5.21-27), as denúncias da injustiça social (3,9-11; 4,1-3), do orgulho e das falsas seguranças (3,1-2; 5,18-20; 6,1-7,13-14); as descrições do juízo iminente (3,13-15; 5,18-3.13.16; 6,8-11); o apelo para voltar ao ETERNO (5,4-6.14-15).
A terceira parte (caps. 7 a 9) agrupa o relato de cinco visões, das quais as quatro primeiras se correspondem duas a duas: os gafanhotos (7,1-3) e o fogo (7,4-6); o estanho (7,7-8) e o fim do verão (8,1-2); e, conclusão, a visão do abalo do santuário (9,1-4). Alguns oráculos se encontram agrupados em torno às visões (7,9; 8,3-14; 9,7-10), como também o relato da expulsão de Amós (7,10-17). A coleção termina num oráculo de restauração e de salvação (9,11-15), que alguns hesitam em atribuir ao próprio Amós.
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