quinta-feira, 1 de setembro de 2011

MISHLEI (PROVÉRBIOS).

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:






PROVÉRBIOS







INTRODUÇÃO







Visão geral

Autores: Vários, incluindo Salomão, Ezequias, Agur e Lemuel e outros.

Propósito: Oferecer um recurso para o ensino da sabedoria aos jovens, em primeiro lugar para a família real e, em segundo lugar, para todas as outras famílias em Israel.

Data: 960-686 a.C.

Verdades fundamentais:

Yaohu é a fonte de toda a sabedoria e ele a revelou para que os seres humanos a aprendam.

A sabedoria humana pode ser obtida apenas no contexto da reverência a Yaohu.

Os jovens precisam da instrução de pais e mães mais velhos e mais sábios.

Os líderes do povo de Yaohu, em especial, devem ser instruídos nos caminhos da sabedoria.







Propósito e características

Enquanto os livros históricos relatam o desenvolvimento do reino de Yaohu por meio das alianças com Israel, a literatura sapiencial da Bíblia não menciona explicitamente a eleição de Israel ou suas alianças e trata apenas em raras ocasiões dos detalhes históricos da fé Israelita. Não obstante, pode ser facilmente integrada à fé histórica de Israel mediante o seu apelo comum ao “temor do ETERNO” (cf. Dt 6,5; Js 24,14; Pv 1,7). “Yaohu” é o nome de Deus que expressa o seu compromisso pessoal com Israel (Gn 12,8; Êx 3,15; 6,2-8). “Teme-lo” significa sujeitar-se à sua vontade revelada, quer esta seja expressa por Moisés ou por Salomão, motivado pela convicção de que ele cumprirá as suas promessas de vida para os fiéis e as suas ameaças de morte para os infiéis. Moisés, Salomão e os profetas procuraram mostrar a sabedoria de Yaohu. Embora a teologia de Provérbios complemente a visão histórica unificada de outras partes do Antigo Testamento, Provérbios se concentra mais na vida cotidiana do que na Histórica, mais nas coisas comuns do que nas extraordinárias, mais no indivíduo (ainda que não isolado do contexto das relações sociais) do que na nação, mais na experiência pessoal do que na tradição sagrada.







CRISTO EM PROVÉRBIOS.

Como a Lei de Moisés, Provérbios dá testemunho de Cristo retratando a sua pessoa e a sua obra. Vemos na lei a pessoa justa e santa e a obra do filho de Abraão que herdaria as bênçãos da aliança de Yaohu e seria o seu mediador para todas as nações. Em provérbios (e na literatura sapiencial como um todo), vemos o discernimento e o trabalho do discípulo sábio. Somente o ETERNO – “SALVADOR” cumpre plenamente essa visão. Provérbios, bem como a literatura sapiencial em geral, também revela a semelhança na qual todo o verdadeiro Israel será conformado pela graça por meio da fé: A semelhança do SALVADOR, a encarnação da sabedoria de Yaohu (1Co 1,24.30; Cl 2,2-3).







PROVÉRBIOS: O livro dos Provérbios {O termo hebr. Designa um procedimento literário que consiste essencialmente numa “comparação” [como, aliás, os gregos o traduziram] ou numa sentença construída de forma a evidenciar a simetria de duas idéias, de duas imagens antitéticas ou complementares (cf. Pv 26,7). A tradução latina, a Vulgata, traduziu-o por “parábolas”, enfatizando o aspecto enigmático e didático da maioria dos Provérbios. Trata-se, em resumo de “pensamentos” dos Sábios, na maior parte do livro expressos em dísticos, o que até hoje caracteriza os nossos provérbios.}, é uma coletânea de textos de diferentes origens e datas. Melhor dizendo, é uma coletânea de coletâneas. Pertence à literatura sapiencial ou gnômica, gênero literário que floresceu, desde remotas eras, no Crescente Fértil e no Egito. Existe mais que parentesco entre nossos Provérbios e seus homólogos sumérios, assírio-babilônicos, cananeus, hítitas ou egípcios, como se pode ver pelo tratamento dos mesmos temas, com expressões iguais e, às vezes, até empréstimos diretos. Tudo isso, mais a atribuição de duas pequenas coletâneas a sábios estrangeiros (Pv 30,1-14 e 31,1-9), comprova a existência de uma vida literária internacional, à qual Israel não se furtava.

O título, chave dos Provérbios. No seu conjunto, o livro dos Provérbios não representa uma literatura cosmopolita, apesar do parentesco e dos empréstimos diretos ou indiretos de seus homólogos. Na verdade, a coletânea é inteiramente atribuída a “Salomão, filho de David, rei de Israel”, sendo o nome engrandecido pelos dois títulos que o determinam. Por que “Salomão”? Porque só se toma emprestado de quem tem, e porque esse rei controvertido era conhecido por seus dons políticos e literários e como autor de inúmeras sentenças (cf. 1Rs 3,16-28; 5,9-14; 10,1.8 – 9.23).

O compilador desta coletânea julgou essencial frisar que Salomão era “filho de David”, um “davídida” e, além do mais, “rei de Israel”.

Ao apresentar o autor como “rei de Israel” referia-se à concepção, comumente admitida em todo o Oriente antigo, da origem real de toda sabedoria, concepção de significado ainda maior para o israelita. Não era o “ETERNO” o “rei de Israel” por excelência? Podia, pois, o rei ser considerado “oráculo de Yaohu” (2Sm 14,18-20; Pv 16,10-15: É certamente intencional a ligação entre essa breve seção sobre o rei e a seção precedente, 16,1-9, referente a Yaohu). Claro que poderia haver maus soberanos, infiéis à sua função “profética”, e os Provérbios têm ciência disso (28,16; 29,4)!

Ao qualificar o autor de “filho de David”, o compilador sacralizava um livro cujo conteúdo poderia restringi-lo à esfera do profano. Ora, David era o ungido do ETERNO, o portador da Aliança e das Promessas. Disso nada falam os Provérbios. Mas a sua sabedoria – pretensamente chancelada por um davídida – podia, por isso, parecer resgatável numa visão especificamente religiosa. Razão por que, desde o título, o leitor é sensibilizado para esse ponto, confirmado, aliás, pela maior parte do livro.

Isto significava, portanto, que os 31 capítulos a seguir fazem parte integrante da Revelação divina, que se exprime através da história do povo de Israel. Apresentam eles uma modalidade bastante “humanista” dessa expressão e podem ser até considerados parte eminente dela, enquanto avalizados por um grande rei de Israel.





Organização do livro. A) Abre-se o livro com breve introdução geral (1,2-7), em que se explícita o conteúdo e se justifica o título. A coletânea visa transmitir uma experiência moral e religiosa, que incentivará as gerações jovens e menos jovens a um procedimento correto e sensato, nas diversas circunstâncias da vida. Tal experiência é consignada no ensinamento dos mestres do passado e do presente, constituindo, na plena acepção da palavra, uma educação. Fique, porém, bem claro que o ETERNO está no ponto de partida dessa experiência.

B) A seguir, vem o livro propriamente dito, com suas nove coletâneas de tamanho variado. Essa divisão, hoje comumente aceita, nada tem de tradicional. Usamo-la aqui apenas para maior clareza e compreensão. Com o mesmo objetivo, acrescentamos os subtítulos.

Distinguem-se, pois, as seguintes seções:

1,1.8 – 9,18: exortações do pai-educador, prevenindo conta as más companhias e a “libertina”, mescladas com o elogio da Sabedoria, que aí aparece personificada, tomando a palavra (1,20-33); 8,22-35). Em antítese, aparece a Insensatez, num díptico sabiamente equilibrado (9,1-6 e 9,13-18).

II. 10,1 – 22,16: primeira coletânea salomônica de 376 sentenças sobre a vida moral. Caracteriza-se essa seção por forte inspiração religiosa, sendo, o nome de Yaohu –, o ETERNO, freqüentemente repetido. (YHWH). Os críticos, em geral, concordam em reconhecer aqui materiais dentre os mais antigos da compilação.

III. 22,17 – 24,22: primeira coletânea dos Sábios. Inclui, entre outros elementos, uma seção muito próxima da Sabedoria egípcia de Amenêmope (22,17 – 23,14) e uma expressiva sátira da embriaguez (23,29-35).

IV. 24,23-34: segunda coletânea dos Sábios (anunciada no v. 23). Ressalte-se aqui o retrato do preguiçoso (vv. 30 – 34).

V. 25 – 29: Segunda coletânea salomônica. Composta de 127 máximas, organizadas, o mais das vezes, em dísticos regulares, como a primeira coletânea salomônica. Trata-se de materiais tão ou mais antigos que os da primeira coletânea.

VI. 30,1-14: palavras de Agur, sábio não-israelita.

VII. 30,15-33: série de provérbios numéricos, dispostos em enumeração progressiva de tipo x+1 (por exemplo: há 3... e 4...). O mesmo processo aparece no primeiro capítulo do profeta Amós.

VIII. 31,1-9: palavra de Lemuel, segunda coletânea de pensamentos de um sábio não-israelita.

IX. 31,10-31: célebre poema em louvor da mulher de valor. “Fecho de ouro” da obra, corresponde dignamente à figura da Sabedoria apresentada no cap. 9.





Sabedoria e sábios. Sem dúvida, a Sabedoria apresentada nos Provérbios é solidária com Yaohu. Ela participa da obra da criação (8,22-31; 3,19-20). Por isso, é apresentada como a fonte eminente da vida, que ela preserva do mal e da morte, e conduz ao temor do ETERNO e a todos os bens daí decorrentes.

Ela, porém, nunca aparece nos Provérbios de forma desencarnada. Após sua apresentação “junto de Yaohu”, no cap. 8, é personificada como dona de casa no cap. 9. Para adquiri-la, exigem-se algumas disposições morais: cumpre estar disponível e atento. No fundo, é o homem todo – espírito e corpo, religioso e profano – que será “sábio”, dentro da visão bíblica, que não dissocia o ser humano.

Que vem a ser o sábio? Percorrendo a Bíblia, vê-se que o termo designa quem se distingue em atividades as mais diversas, artísticas ou técnicas. Poderá ser um marinheiro experimentado (Ez 27,8), escultor, entalhador, ourives (Êx 31,6; Jr 10,9), tecelã (Êx 35,25) e até carpideira profissional (Jr 9,16) etc. Serão chamados “sábios” particularmente os especialistas em política, ou seja, os escribas, auxiliadores e conselheiros dos reis (Is 29,14), até mesmo quando, segundo lamentava Jeremias, houvessem perdido toda sabedoria (Jr 8,8; 9,11).

São naturalmente “sábios” os que exercem alguma atividade pedagógica, pois a formulação do seu ensino – ensino vivenciado –, como o vemos no livro dos Provérbios, testemunha uma técnica que a tradução deixa entrever perfeitamente.

As qualidades de artesão ou artista levaram, por outro lado, a atribuir essa coletânea a profissionais da pena, os “escribas” (nome genérico de funcionários públicos que constituíam o organograma dos vários “ministérios”, como os chamaríamos hoje). Gozavam eles de ócio e liberdade para se dedicar às letras. É aos escribas de que se trata em 25,1 que se deve atribuir a compilação de tudo o que outros anteriormente exprimiram. Deve-se admitir também que esses funcionários letrados, por força de seus contatos com o estrangeiro, anotaram passagens de moralistas não-israelitas (Agur, Lemuel), e imitaram outros (sabedoria de Amenêmope). Suspeita-se – na ausência de documentação suficiente – que também a sabedoria Cananéia e sua formulação tenham exercido influência. É bastante provável que as numerosas passagens a respeito do rei, da função do “príncipe” e dos conselheiros tenham sido incluídas nesta coletânea graças a esses escribas, tenham ou não sido eles os seus autores.





A fé de Israel, nos Provérbios. O “temor do ETERNO” é o fundamento da sabedoria e, por conseguinte, da pedagogia que a ela conduz. Por isso, os nossos sábios comungam o mesmo pensamento dos que, em registros diferentes, viviam e pregavam o “temor do ETERNO”: Os pregadores levíticos e deuteronômicos, os profetas, e os salmistas e, mais genericamente, quantos explicavam e preconizavam a Lei de Moisés. São muitos os indícios de tal comunhão.

São bastante claras as exortações racionais da primeira parte do livro. O tema sempre recorrente é o “esquema deuteronômico da opção” (Dt 11,26-28; 30,15-20): escolhe a vida e os caminhos que a ela conduzem, evitar a morte e o resvaladouro que a ela conduz.

São muito freqüentes duas imagens-chave, que assinalam a profunda concordância com a tradição de Israel, expressa na Lei e nos Profetas: A Árvore da vida e a Fonte da vida (3,18; 10,11; 11,30; 13,12.14; 14,27; 15,4), que mostram como se entendia e se vivia a narrativa do Paraíso.

A Cidade onde a Sabedoria profetiza é Jerusalém (1,21; 9,3). Mas Jerusalém é impensável sem a Terra por excelência, terra confiada aos homens retos, donde os maus serão extirpados (2,21-22; 10,30; cf. Dt 4,26). Prepara-se assim a formulação do enraizamento da Sabedoria-Torá em Sião.

O acontecimento primordial do Sinai (a entrega da Lei, das “Dez Palavras” nas tábuas de pedra) está integrado também à experiência vivida e transmitida pelos sábios educadores dos Provérbios, em ligação com o profetismo. Como os profetas, eles querem gravar o ensinamento na “tábua do coração” (3,3; 7,3, paralelo a Jr 31,33).

Por fim, vale ressaltar duas referências à fé de Israel: Uma, à Aliança, que segundo Pv 2,17, é rompida quando se rompe a comunidade conjugal; a outra, em 5,14, que, com dois termos característicos, evoca a “comunidade sacral”.



Data e autores. Numa introdução sucinta, não se pode dar a devida importância à questão crítica das datas atribuídas às diversas partes do livro, à identidade dos autores e a outras questões da mesma ordem. Pode-se apenas afirmar que a base da coletânea remonta às origens da vida comunitária de Israel. Como muitos outros livros do Antigo Testamento, a transmissão oral certamente precedeu a sua codificação escrita. Ora, esta deve ter sido realizada bem cedo nos círculos dos escribas da corte, onde reinava a preocupação de formar administradores, espíritos cultivados. Contudo, essa preocupação administrativa aparece nos Provérbios menos nitidamente que nos mais antigos Ensinamentos egípcios. A época real deve ser considerada o berço privilegiado dessas coleções de sentenças. É certo, por outro lado, que a época pós-exílica também viu sérios esforços de organização e de empréstimo das sabedorias vizinhas.

Recentemente, porém, foram contestados os critérios literários – tidos por muito tempo como convincentes – que atribuíam a este período mais recente os nove primeiros capítulos de Provérbios. Por certo, Israel burilou seus Provérbios durante longo tempo, tanto quanto os seus Salmos.



As traduções. O tradutor moderno de Provérbios defronta-se com inúmeras dificuldades. Oferece-lhes a crítica diversas saídas, como o trabalho de simples crítica textual, o recurso à elucidação das literaturas da mesma família lingüística. Não deve esquecer que, muito antigamente, judeus que dominavam com perfeição o hebraico já haviam traduzido este livro para correligionários de língua grega. Mas a consulta a essa antiga tradução pode ser decepcionante. Por razões dificilmente discerníveis, os tradutores gregos do século I a.C., mais parafrasearam do que traduziram. As sucessivas versões coptas, siríacas e latinas antigas não melhoraram a obra. A tradução latina de Jerônimo se apegou mais ao texto hebraico lido no século IV d.C., mas também não resolveu as dificuldades do tradutor atual. Fiel a diretrizes do nosso trabalho ecumênico, a presente tradução, que se pretende de leitura acessível e de clara compreensão, evitou soluções aventurosas. Confiando na inteligibilidade do texto hebraico atual.

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