quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ESTUDO INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS E DE SABEDORIA:

INTRODUÇÃO






LIVROS POÉTICOS E DE SABEDORIA:







(JÓ; SALMOS; PROVÉRBIOS; ECLESIASTES; CÂNTICO).





A POESIA DO ANTIGO TESTAMENTO.

A Bíblia hebraica considera como livros poéticos apenas Jó, Salmos e Provérbios, enquanto na Bíblia cristã essa categoria inclui também os livros de Eclesiastes e Cantares dos Cânticos, Nenhum desses arranjos é inteiramente satisfatório. Por um lado, Cântico dos Cânticos, que é escrito em forma poética, foi excluído dessa sessão da Bíblia hebraica. Por outro lado, Eclesiastes, que é uma mistura de prosa e poesia, foi incluído nessa sessão da Bíblia cristã. A única coisa que os cinco livros têm em comum é o fato de não serem, estritamente falando, nem históricos nem proféticos. No entanto, uma vez que quatro deles foram redigidos inteiramente e um parcialmente em forma poética, tornou-se habitual chamá-los de livros poéticos. A poesia é extremamente comum em todo o Antigo Testamento, e os conceitos discutidos abaixo se aplicam a todas as passagens nessa forma literária.

A poesia bíblica pode ser distinguida da prosa de pelo menos quatro maneiras importantes: a regularidade das estruturas rítmicas, o uso freqüente de figuras de linguagem, forte dependência de imagens, e expressão emocional intensa. A concisão na fraseologia é também muito comum. Até certo ponto, a prosa também apresenta essas características, mas elas são mais freqüentes e perceptíveis na poesia.

Estrutura rítmica: Além de características como assonância e consonância, a estrutura rítmica formal da poesia hebraica pode ser vista de maneira mais clara no paralelismo, ou seja, a coordenação bastante próxima ou associação de um verso poético com outro. Os versos paralelos são constituídos de pelo menos dois versetos que formam um verso. O segundo verseto expande, enfatiza ou contrasta com uma ou mais dimensões do primeiro verseto. A ideia básica é “A, e, além disso, B” (ou, “A, mas, por outro lado, B”).

A importância dessa característica da poesia do Antigo Testamento pode ser ilustrada pela comparação de dois registros da maneira como Jael tratou Sísera no livro de Juízes. No relato em prosa de Jz 4,19 lemos: “Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água, porque tenho sede. Ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu”. Porém, no relato poético de Jz 5,25 temos:

Verseto A: Água pediu ele, leite lhe deu ela;

Verseto B: em taça de príncipes lhe ofereceu nata.

No relato poético, pode-se observar claramente o ritmo do paralelismo entre os versetos. O segundo verseto enriquece “lhe deu ela” de forma estereofônica com “em taça de príncipes” e “leite” com “nata”. Chama a atenção para a nata e para a taça requintada na qual Jael serviu a iguaria de modo que o público possa ver e sentir a astúcia de Jael. Ela tratou seu hóspede exausto da batalha como se fosse um membro da realeza a fim de deixa-lo à vontade e torna-lo vulnerável. Nesse sentido, o relato em prosa se concentra mais nos fatos objetivos, enquanto o paralelismo do poema cria uma impressão mais vívida.

Figuras de linguagem: A poesia também lança mão das figuras de linguagem com mais freqüência do que a prosa. Uma figura pode ser definida simplesmente como uma maneira indireta de dizer alguma coisa, ou como dizer algo intentando outro significado, de acordo com as convenções compartilhadas pelo escritor e o leitor. É comum os poetas recorrerem a figuras como a hipérbole ou exagero, simbolismo, metáforas, símiles, metonímias, sinédoques, sarcasmos, ironia e várias outras técnicas conhecidas de comunicação indireta.

O Salmo 1,3, por exemplo, emprega a símile de uma árvore frutífera para descrever a condição favorável daqueles que meditam sobre a Lei de Yaohu.

Ele é como árvore plantada

Junto a corrente de águas,

Que, no devido tempo, dá o seu fruto.

O Salmo 34,10 usa uma hipérbole, afirmando a ausência absoluta de necessidades físicas a fim de transmitir a satisfação de Davi com a resposta de Yaohu às suas orações.

Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome,

Porém aos que buscam o ETERNO

Bem nenhum lhes faltará.

Os leitores de poesia devem ficar atentos para a freqüência das figuras de linguagem e para o modo como elas funcionam. Uma leitura rígida e literal dos textos poéticos pode resultar em interpretações enganosas.

O uso de imagens: Pode ser definido como a forma de expressão de pensamentos que visa evocar a experiência mental de impressões sensoriais. É evidente que a prosa se vale da imaginação para comunicar os pensamentos do escritor, mas a poesia se apóia muito mais no poder imaginativo da linguagem. Em vez de falar claramente sobre uma questão, os poetas bíblicos muitas vezes conduzem seus leitores a experiências sensoriais dos temas tratados.

O Salmo 42,7, por exemplo, retrata as dificuldades do Salmista numa linguagem forte com os sons e sensações experimentados por alguém que está sendo dominado pelas águas impetuosas de uma cachoeira.

Um abismo chama outro abismo,

ao fragor das tuas catadupas;

todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim.

O Salmo 23,2 retrata a proteção de Yaohu numa expressão pitoresca de refrigério, conforto, cor e quietude.

Ele me faz repousar em pastos verdejantes.

Leva-me junto das águas de descanso.

Os intérpretes da poesia bíblica devem permanecer atentos ao uso freqüente de imagens. Os recursos poéticos muitas vezes oferecem aos leitores a oportunidade de fazer reflexões profundas e transformadoras.

Expressão emocional: A poesia bíblica também é particularmente eficaz na expressão e evocação de uma ampla gama de emoções apropriadas para os fiéis. Tratada da alegria e da dor, do louvor e do lamento, do amor e do ódio; praticamente nenhuma emoção é omitida.

No Salmo 130,1.2, por exemplo, encontramos um lamento desesperado:

Das profundezas clamo a ti, ETERNO.

Escuta, ETERNO, a minha voz;

Estejam alertas os teus ouvidos

às minhas súplicas.

Ao mesmo tempo, descobrimos louvor jubiloso no Salmo 57,7.8:

Firme está o meu coração, ó Yaohu,

o meu coração está firme;

cantarei e entoarei louvores.

Desperta, ó minha alma!

Despertai, lira e harpa!

Quero acordar a alva.

O enfoque emocional da poesia bíblica exige que os intérpretes atentem para suas próprias reações emocionais a essas Escrituras. Ao depararmos com os sentimentos intensos expressados nesses textos, somos desafiados a submeter à Palavra de Yaohu até as nossas paixões mais profundas.









A SABEDORIA DO ANTIGO TESTAMENTO



Dos cinco livros poéticos do Antigo Testamento, três são de sabedoria: Jó; Provérbios e Eclesiastes. Textos sapienciais aparecem ocasionalmente em outros livros, mas apenas de modo limitado. Partes extensas dos livros de sabedoria são poéticos e apresentam as características mencionadas acima. No entanto, os livros de sabedoria podem ser distinguidos dos demais livros poéticos de várias maneiras.

Características dos livros de sabedoria: Os livros de sabedoria apresentam pelo menos três características distintivas. Em primeiro lugar, o termo “sabedoria” e seus sinônimos, como, por exemplo, “entendimento”, aparecem com mais freqüência nesses livros do que nos outros. Em segundo lugar, eles apresentam um modo comum de revelação, baseando-se mais nas observações da vida do que em manifestações sobrenaturais visuais ou auditivas. Em terceiro lugar, uma vez que grande parte de sua inspiração é proveniente de observações contemporâneas da criação e das experiências humanas, a história da salvação não é o enfoque principal desses livros. São poucas as reflexões diretas sobre os acontecimentos redentores importantes ocorridos na história de Israel.

Definição de sabedoria: A sabedoria pode ser definida em dois níveis. Num nível mais superficial, a sabedoria é uma aptidão importante, como as habilidades de sobrevivência (Pv 30,24-28), habilidades técnicas (Êx 28,3; 36,1) e as habilidades judiciais e administrativas (Dt 1,15-18; 1Rs 3,1-28). Num nível mais profundo, porém, a sabedoria tem as suas origens na ordem criada. As Escrituras explicam que Yaohu fez a sabedoria existir antes do restante da criação e ela está por trás de todas as relações naturais e sociais (Pv 3,19-20; 8,22-31). Uma compreensão maior dessa ordem criada torna uma pessoa sábia no sentido mais completo do termo. Os sábios das Escrituras expõem essa sabedoria cósmica sob a inspiração do Espírito de Yaohu [RUACH HAKODESH] (Pv 25,2; Ec 12,9-12).

Embora a observação comum seja um elemento fundamental para o processo de aquisição de sabedoria, ela não se dava de maneira isolada dos valores religiosos. Os sábios que contribuíram para os livros de sabedoria e os compilaram se valeram com freqüência dos ensinamentos de Moisés e Davi para nortear suas interpretações da experiência. O sobrescrito de abertura do livro de Provérbios, por exemplo, informa aos seus leitores: “Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel” (Pv 1,1). Salomão falou como rei da aliança de Israel; realizou a sua tarefa não apenas com um olhar atento para o mundo e os comportamentos sociais, mas também com um coração repleto de fé proveniente de sua herança piedosa e, portanto, dependente de uma revelação anterior. Até mesmo Agur, o sábio prosélito de Massá, relatou como descobriu que a sabedoria só era possível dentro da fé israelita. Citando primeiro Davi (Sl 18,30) e depois Moisés (Dt 4,2), declarou em Pv 30,5-6:

Toda palavra de Yaohu é pura;

ele é escudo para os que nele confiam.

Nada acrescentes às suas palavras,

para que não te repreenda,

e sejas achado mentiroso.

Sabedoria didática e meditativa: O Antigo Testamento apresenta dois tipos principais de sabedoria. A maior parte da sabedoria didática se encontra no livro de Provérbios. Esse tipo de sabedoria costumava ser ensinado no contexto familiar (Pv 1,8.10). Consistia principalmente de ditos, enigmas e parábolas sapienciais (Pv 1,6) fáceis de memorizar e, muitas vezes provocativos criados para ensinar a sabedoria prática. Mediante o aprendizado dos provérbios, os jovens de Israel eram treinados para discernir orientação para inúmeras situações de vida.

O valor prático da sabedoria proverbial é resultante não apenas do conhecimento que ela apresenta de modo direto, mas também da compreensão de que nem sempre é fácil conciliar a sabedoria proverbial com a experiência de nosso mundo decaído.

Pv 22,29, por exemplo, diz:

Vês a um homem perito na sua obra?

Perante reis será posto;

não entre a plebe.

Não é preciso muita vivência para saber que existe certa dissonância entre esse provérbio e grande parte da nossa experiência. Sabemos que o provérbio não descreve uma série inevitável de acontecimentos, pois nem sempre as pessoas de grande perícia são colocadas perante reis. Antes, observações da vida nos mostram que o objetivo desse dito era incentivar o desenvolvimento de aptidões instilando a esperança de reconhecimento. Não prometia que todas as pessoas habilidosas obteriam tal reconhecimento. Pode-se dizer o mesmo de vários provérbios, pois o pecado levou o mundo a ficar aquém dos padrões ideais que costumam ser descritos na sabedoria didática. Grande parte da sabedoria proverbial aponta para aproximações da ordem ideal experimentadas ocasionalmente e volta os olhos dos fiéis para uma esperança além deste mundo (Pv 12,28; 14,32; 23,17-18; 24,19-20), quando tudo será corrigido pelo julgamento final. Então, todas as dissonâncias entre a sabedoria proverbial e a experiência serão eliminadas.

A sabedoria meditativa por sua vez pode ser vista em Jó e Eclesiastes. Esse estilo literário explora o uso apropriado da sabedoria proverbial chamando a atenção para o enigma da vida. Jó e Eclesiastes ajudam os intérpretes a evitar expectativas e interpretações exageradas da sabedoria proverbial. O livro de Jó testa a utilidade da sabedoria proverbial para aqueles que passam por sofrimento. Onde está a justiça de Yaohu quando os justos sofrem e os perversos usam a sabedoria proverbial para acusa-los falsamente? Quanto da sabedoria de Yaohu os seres humanos são capazes de compreender em tais circunstâncias? Do mesmo modo, Eclesiastes assinala os limites da sabedoria proverbial na busca de contentamento e significado. Por que há tão pouca alegria no fruto do trabalho árduo? De que adianta buscar conhecimento ou adquirir riqueza se, ao que tudo indica, os justos e perversos perdem tudo o que conquistaram quando morrem? Os dois livros advertem contra interpretações simplistas da sabedoria didática que cria expectativa de justiça imediata e bênçãos contínua.

Jó e Eclesiastes corroboram o valor da sabedoria proverbial, mas também abrem caminho para uma compreensão mais profunda e plena. Em primeiro lugar, enfatizam que os seres humanos são seriamente limitados em sua capacidade de discernir a sabedoria de Yaohu, especialmente com respeito às anomalias desconcertantes da vida. É o cúmulo da insensatez acreditar que podemos, de fato, dominar a sabedoria necessária para entender todos os caminhos de Yaohu (Jó 28; 40 – 42). Em segundo lugar, lembram os leitores que até mesmo a aquisição de uma consciência limitada da sabedoria exige um temor do ETERNO reverente e constante (Pv 1,7). Jó 28,28 conclui, “Eis que o temor do ETERNO é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento”. Do mesmo modo, Ec 12,13 diz, “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Tema a Yaohu e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem”. A sabedoria meditativa ressalta que o reconhecimento das limitações humanas e da necessidade de submissão ao ETERNO nos permite viver como pessoas sábias.





OS ESCRITOS



INTRODUÇÃO



Após a “Lei” e os “Profetas”, a Bíblia hebraica apresenta uma terceira coletânea, que não constitui um grupo homogêneo e não recebeu um título característico, já que foi simplesmente denominada Ketubim, ou seja, os (demais) Escritos.

A coletânea dos Ketubim não foi mantida nos diversos manuscritos gregos e nas listas eclesiásticas. Alguns desses livros foram inseridos entre os livros “históricos” (Rt; Cr; Esd-Ne; Est) e “proféticos” (Lm; Dn), e os demais passaram muitas vezes a formar um grupo de livros “poéticos”.

Nas listas hebraicas a seção dos Ketubim está sempre presente, mas nem sempre na mesma ordem interna.

À guisa de exemplo, a lista fornecida pelo Talmud (Baba Batra 14b) parece ordená-los segundo um princípio cronológico: Rute (que termina com a genealogia de David), Salmos (atribuídos a David), Jó (que alguns afirmam remontar à época da rainha de Shebá, cf. Jó 1,15), Provérbios, Eclesiastes (Coélet), Cântico dos Cânticos, (coletânea salomônica), Lamentações (atribuídas a Jeremias), Daniel (do tempo do Exílio), Ester, Esdras-Neemias, Crônicas (do período persa).

A despeito da variedade dos sistemas da classificação, constata-se que os Salmos, Jó e Provérbios figuram sempre juntos (freqüentemente na ordem: Salmos-Provérbios-Jó).

Analogamente, Crônicas figura sempre ou no começo ou no fim da coleção (sendo que Esdras-Neemias ocupa sempre ou o último lugar ou o penúltimo, respectivamente). A posição final de Crônicas é curiosa, pois Esdras-Neemias constituem sua seqüência natural. Esta posição já é conhecida do Novo Testamento (Mt 23,35; Lc 11,51). Dever-se-á isto ao fato de a incorporação de Crônicas no cânon ter ocorrido mais tarde? Ou será que se quis ordenar os livros da Bíblia de maneira a estabelecer uma correspondência entre o primeiro e o último livro, visto que tanto o Gênesis como Crônicas começam por um quadro do desenvolvimento da humanidade e terminam com a promessa da salvação e do retorno a Israel (Gn 50,24-25; 2Cr 36,1-23)?

O lugar dos Cinco Rolos (Ct; Rt: Lm; Ecl; Est) é muito instável. Todavia, em razão do costume de lê-los nos dias de festa (Cântico dos Cânticos na Páscoa, Rute em Pentecostes, Lamentações no aniversário da queda do Templo, Eclesiastes na festa das Tendas, Ester na de Purim), passou-se a justapor esses cinco livros nos manuscritos, e posteriormente também nas primeiras Bíblias impressas.

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