quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ESTUDOS DOS EVANGELHOS/INTRODUÇÃO [BOAS-NOVAS SOBRE YAHUSHÚA] (B'RIT HADASHAH) NT.

NOVO TESTAMENTO:








FINALMENTE, A 3º E ÚLTIMA APOSTILA SOBRE: A ESCRITURA SAGRADA. QUEM TIVER LIDO A PRIMEIRA E A SEGUNDA APOSTILAS (AT), ENTENDERÃO TUDO O QUE ESTÁ DESCRITO NESTA ÚLTIMA APOSTILA (NT) –, SENDO QUE: “NA 1ª APOSTILA, ESTÁ RELACIONADO TODOS OS DIREITOS AUTORAIS DE ONDE, FORAM COPIADOS OS DESCRITOS NESTAS TRÊS APOSTILAS. SENDO, EU, ANSELMO ESTEVAN, APENAS UM RELATOR DOS FATOS E, AJUNTANDO TODOS NUM ÚNICO ESTUDO. VAMOS LÁ”:





INTRODUÇÃO



O Novo Testamento apresenta-se sob a forma de uma coletânea de vinte e sete livros, todos escritos em grego e de dimensões muito desiguais. Por volta do século II criou-se o costume de designar esta coletânea pela expressão de “Novo Testamento”. Com efeito, os escritos que a compõem haviam pouco a pouco adquirido tamanha autoridade que eram tidos praticamente em pé de igualdade com os textos do Antigo Testamento, por muito tempo considerados pelos remanescentes sua única Bíblia, por eles nomeada “a Lei e os Profetas”, segundo o costume judeu da época. Se os escritos remanescentes acabaram sendo chamados de “Novo Testamento”, isto se deve essencialmente a terem os primeiros teólogos “remanescentes”, depois de Paulo (2Co 3,14), julgado que esses textos encerravam as disposições de uma nova aliança, cujos termos deviam reger as relações entre Yaohu e seu povo durante a última fase da história da salvação. A palavra “Testamento” traduz o termo empregado em hebraico para designar a aliança concluída entre Yaohu e Israel. O fato de falarem numa nova aliança levou os remanescentes a designarem, conseqüentemente, a coletânea dantes denominada “a Lei e os Profetas”, com o nome de Antigo Testamento, indicando com isso que viam nela sobretudo a codificação da antiga Aliança mosaica, que a seu ver, fora simultaneamente renovada e superada por Yaohushua.

A redação desses vinte e sete livros e sua compilação numa coletânea única decorreram de um processo demorado e complexo. Por outra parte, a transmissão dessas obras, desde a antiguidade até nossos dias, implicou certo número de contingências, que não isentaram o texto de alterações. Finalmente, à distância, tanto histórica como geográfica e cultural, que nos separa do universo do Novo Testamento constitui uma dificuldade essencial para uma boa compreensão desta literatura. Torna-se, pois, indispensável, hoje, situa-la no ambiente que assistiu ao seu nascimento e difusão inicial.

Qualquer introdução ao Novo Testamento, por sumária que seja, vê-se obrigada a examinar de início as condições em que os primeiros “remanescentes” foram levados a elaborar uma nova compilação das Sagradas Escrituras. A seguir, deve estudar como esses textos, constantemente copiados e recopiados, conseguiram vencer os quase quatorze séculos de movimentada história entre sua redação e sua fixação de forma quase imutável, quando da invenção da imprensa; e deve, ao mesmo tempo, dar conta da maneira pela qual se podem remediar as diversas alterações sofridas pelo texto no decorrer de sua transmissão manuscrita. Finalmente, a Introdução tenta fazer uma apresentação tão exata quanto possível do ambiente histórico, religioso e cultural em que o Novo Testamento nasceu e se difundiu.

Esses três principais aspectos da Introdução são comumente denominados de problema do cânon, problema do texto e problema do ambiente de origem do Novo Testamento.





O cânon do Novo Testamento. Assim como a palavra portuguesa “REGRA”, a palavra grega Kanôn admite um sentido figurado, o de regra de conduta ou regra de fé. Em português, a palavra “cânon” conservou este segundo sentido; designa, em certos casos, uma lista oficial. Neste sentido é que se fala de um cânon dos livros sagrados para designar a lista oficialmente reconhecida dos livros considerados normativos para a vida e a fé da Igreja. Com este sentido, o termo só entrou efetivamente em curso, na literatura “remanescente”, a partir do século IV. (ONDE ESTIVER OS “TERMOS EM NEGRITO: “REMANESCENTE”, “MESSIÂNICO” -, ESTÁ NO LUGAR DO TERMO ERRÔNEO (INVENTADO) – [“CRISTÃO”!]. GRIFO MEU. ANSELMO ESTEVAN”.

Cabe perguntar como os primeiros “remanescentes” foram induzidos a pensar e concretizar a constituição de uma nova coletânea de livros sagrados e a realiza-la, complementando a coletânea denominada “a Lei e os Profetas”. Sumariamente, esta evolução pode ser esquematizada da seguinte forma:

Para os remanescentes da primeira geração, a autoridade suprema em matéria religiosa assentava-se em duas instâncias. A primeira era o Antigo Testamento, citado pelos primeiros autores remanescentes em todas as suas partes, ou quase, como revelação de Yaohu. A segunda instância, que logo adquiriu preeminência, era comumente denominado “O ETERNO – YAOHU”. Esta expressão designava, de uma só feita, o ensinamento outrora ministrado por YAOHUSHUA (1Co 9,14) e a autoridade do Ressuscitado, expressa por intermédio dos apóstolos (2Co 10,8.18). Dessas duas instâncias que tinham força de critério, só o Antigo Testamento constava de textos escritos. Em contrapartida, as palavras de Yaohu e a pregação dos apóstolos foram conservadas oralmente durante muitos anos, e só com o desaparecimento dos últimos apóstolos se tornou consciência da necessidade, quer de fixar por escrito e essencial do seu ensinamento, quer de assegurar a conservação do que eles haviam redigido. A questão da autoridade de que se revestiam essas novas obras devia necessariamente surgir um dia, mesmo que, num primeiro tempo, a autoridade da tradição oral tenha prevalecido em face dos documentos escritos.

Até cerca do ano 150, parece que os remanescentes se deixaram conduzir quase inconscientemente ao esboço de uma nova coletânea das Sagradas Escrituras. Há grandes probabilidades de que eles primeiramente tenham reunido e utilizado em sua vida eclesiástica um compêndio das epístolas de Paulo. Ao agir assim, seu objetivo não era constituir um suplemento da Bíblia. Eles simplesmente se deixaram levar pelas circunstâncias: de fato, os documentos paulinos já estavam escritos numa época em que, em ampla escala, a tradição evangélica ainda se conservava só oralmente; ademais, o próprio Paulo preconizara a leitura pública de suas cartas, bem como sua circulação pelas igrejas circunvizinhas (1Ts 5,27; Cl 4,16).

Em todo caso, desde o início do século II, numerosos autores remanescentes dão a perceber claramente que conhecem um avultado número de epístolas paulinas. Daí poder concluir-se que uma compilação dessas epístolas foi constituída muito cedo e logo teve vasta difusão, devida, sem dúvida, à grande notoriedade do apóstolo. A despeito da autoridade que se atribuía a esses escritos, não existe todavia, antes do início do século II (cf. 2Pe 3,16), testemunho de que os tenham considerado como Escritura Sagrada e como detentores de uma autoridade comparável à da Bíblia.

Durante todo este período, a posição dos evangelhos não se manifesta tão claramente quanto à das epístolas de Paulo. Sem dúvida, as obras dos antigos autores remanescentes não carecem de citações dos evangelhos ou de alusões aos mesmos, mas quase sempre é difícil definir se as citações são feitas segundo textos escritos que esses autores tivessem ante os olhos ou se eles se contentavam com evocar fragmentos da tradição oral. De qualquer forma, antes de 140 não existe testemunho algum de que se tenha conhecido uma coletânea de escritos evangélicos. Nem se aduz qualquer caráter normativo ligado a uma dessas obras. Só na segunda metade do século II é que surgem testemunhas cada vez mais claros da existência de uma coletânea de evangelhos e da autoridade que, progressivamente, lhe foi atribuída.

Por volta de 150, inicia-se um período decisivo para a formação do cânon do Novo Testamento. Justino Mártir foi o primeiro a indicar que os “cristãos” liam os quatro evangelhos, por ocasião das assembléias dominicais, considerando-os como obras dos apóstolos (ou, quanto menos, de personagens diretamente ligadas aos apóstolos) e atribuindo-lhes uma autoridade análoga à da Bíblia.

Se esses escritos foram investidos de tamanha autoridade, não foi tanto por causa de sua origem apostólica, mas antes pelo fato de retraçarem a história de “YAOHU”, de acordo com a tradição recebida. Muito cedo, entretanto, ressaltou-se a apostolicidade dessas obras, em particular quando foi preciso defende-las contra a proliferação de escritos do mesmo gênero, mas cujo conteúdo dependia, o mais das vezes, de uma imitação grosseira, ou mesmo da mais pura fantasia.

De fato, pouco depois de 150, mal se fez sentir na Igreja a necessidade de uma norma aceita universalmente, os remanescentes voltaram-se para a coletânea dos quatro evangelhos, que então se haviam imposto à atenção de todos, em virtude de suas qualidades internas e da autenticidade do testemunho que davam de Yaohu. De muitos pontos de vista era tão esmagadora a superioridade dos quatro que, bem depressa, eles eclipsaram o conjunto da literatura paralela, de tal sorte que se pode considerar que, por volta de 170, os quatro evangelhos já haviam adquirido o estatuto de literatura canônica, muito embora esta palavra ainda não houvesse sido pronunciada.

Quanto às epistolas de Paulo, há quase certeza de que não entraram uma pós outra no cânon: foi o conjunto da coletânea que nele foi acolhido a partir do momento em que a idéia de possuir um cânon do Novo Testamento começou a se impor na Igreja. É provável que a noção de apostolicidade, já invocada em favor da autoridade dos escritos evangélicos, tenha atuado mais amplamente em favor da literatura paulina, que, pouco a pouco e de maneira fortuita, assumira o aspecto de uma compilação cuja autoridade era amplamente aceita nas igrejas do século II.

Percebe-se que assim nasceu o princípio de um novo cânon das Sagradas Escrituras, mas este princípio, no fundo, jamais foi verdadeiramente discutido. A existência do cânon é antes uma situação de fato, que se generalizou rapidamente na Igreja. A reflexão teológica só interveio a posteriori ante a necessidade de definir pormenorizadamente o conteúdo do cânon. Muito provavelmente este movimento foi acelerado pela intervenção do herege Marcião (+ 160) que, por rejeitar integralmente a autoridade do Antigo Testamento, tinha urgente necessidade de dotar a sua igreja de novas Escrituras Sagradas e, por conseguinte, de um novo cânon. Desta forma, os marcionistas contribuíram até certo ponto para vulgarizar o princípio do novo cânon, o qual se admite ser composto de duas partes, o Evangelho e os Apóstolos, exatamente como o antigo também compunha de duas partes, a Lei e os Profetas. Desde o fim do século II, a idéia de uma nova norma escriturística implantou-se solidamente na Igreja, mas faltava definir o conteúdo do novo cânon. A lista definitiva das obras pertencentes ao cânon só se fixaria progressivamente, à medida que se estabelecesse um acordo em prol da crescente consciência da unidade da Igreja, graças ao desenvolvimento das relações entre as diversas comunidades de remanescentes. Entre 150 e 200, assiste-se à definição progressiva do livro dos Atos como obra canônica. No fim do séc. II, Irineu de Lião considera esta obra como Escritura Sagrada e a cita como o testemunho de Lucas a respeito dos Apóstolos. De fato, o livro dos Atos foi acolhido no cânon especialmente por seu parentesco com o terceiro evangelho, do qual era continuação. A evolução da noção de autoridade apostólica, no decurso do séc. II, foi igualmente um fator importante para a inclusão no cânon desta obra, que bem cedo foi considerada como introdução necessária ao conjunto das epístolas.

Quando se tenta, no limiar do séc. III, fazer um balanço desta evolução, chega-se às seguintes constatações: em toda a parte, os quatro evangelhos conquistaram uma posição inexpugnável, que nunca mais lhes seria contestada. Desde este período, pode-se considerar concluído o cânon dos evangelhos. Quanto ao que diz respeito à segunda parte do cânon (os Apóstolos), deparam-se por toda a parte citados como Sagrada Escritura treze epístolas de Paulo, o livro dos Atos e a primeira epístola de Pedro. Certa unanimidade formou-se acerca da primeira epístola de João. Assim, o cânon definitivo já está mais do que esboçado. Subsistem, todavia, zonas de incerteza. Ao lado de obras que se impuseram universalmente à Igreja por uma espécie de evidência interna, encontra-se um número importante de obras “flutuantes”, mencionadas como canônicas por alguns “Padres”, mas tidas só como leitura proveitosa por outros. A epístola aos Hebreus, a segunda de Pedro, a de Tiago e a de Judas entram neste caso. Paralelamente, obras que nesta época são habitualmente citadas como Escritura Sagrada, e por conseguinte incluídas no cânon, não se manteriam muito tempo nesta situação e se veriam por fim expulsas dele. Foi o que sucedeu com a obra de Hermes intitulada “o Pastor”, com a Didaqué, com a primeira epístola de Clemente, a epístola de Barnabé e o apocalipse de Pedro.

Nesta fase do processo, o critério de apostolicidade parece ter atuado de forma bastante geral, e vêem-se pouco a pouco cair em desgraça todas as obras que era impossível vincular a um apóstolo. Os livros que ainda seriam contestados durante o séc. III foram precisamente aqueles cuja apostolicidade era discutida neste ou naquele setor da Igreja. Os casos mais controversos foram os da epístola aos Hebreus e o do Apocalipse. A canonicidade da primeira foi por longo tempo energicamente negada no Ocidente e a do segundo, no Oriente. Por outro lado, a segunda e a terceira epístola de João, a segunda epístola de Pedro e a epístola de Judas só se impuseram lentamente. Não é necessário acompanhar pormenorizadamente todas as fases desta evolução, que resultará, no decorrer do séc. IV, na constituição de um cânon cujo conjunto é idêntico ao que nós conhecemos hoje, só persistindo incerteza quanto à ordem dos livros.

A preocupação com a unidade, numa Igreja na qual se impunha sempre mais a precedência romana, contribuiu consideravelmente para atenuar as divergências que se haviam manifestado em alguma fase do processo da formação do cânon.





Os apócrifos do Novo Testamento. Os livros reconhecidos como canônicos tornaram-se, por isso mesmo, textos sagrados e passaram a desfrutar, a partir da data de sua agregação ao cânon, uma espécie de imunidade que lhes valeu chegar até a era da imprensa em bom estado de conservação.

O mesmo não sucedeu com as obras que não lograram implantar-se no cânon. Se algumas delas (como a Didaqué ou a epístola de Barnabé) desfrutavam de estima geral e, por este motivo, foram bem conservadas a despeito da sua exclusão do cânon, outras, em compensação, por não terem os mesmos títulos, foram descartadas de forma bem mais brutal da prática eclesiástica, tornaram-se assim muito vulneráveis, o que explica que ainda só existam em forma de vestígios.

Reservou-se a denominação de “apócrifos”, ou seja, “escondidos”, para um certo número de obras que, apesar de certa semelhança com os escritos canônicos do Novo Testamento, eram consideradas como transmissoras de idéias estranhas às da Igreja e, em geral, secretas ou latentes, isto é, reservadas para um ambiente “sectário”, único a poder dispor delas para nelas haurir um “verdadeiro conhecimento”, ou gnose. Mais tarde, consideraram-se apócrifos as obras sobre as quais a Igreja recusava fundamentar a doutrina e fé e cuja leitura pública nas funções dominicais não autorizava. Esses livros, embora fossem em certos casos recomendados à leitura individual por seu caráter edificante, deviam permanecer ocultos no decorrer da prática litúrgica pública. É nesta última acepção que a palavra seria ordinariamente compreendida antes de, no momento da conclusão do cânon, vir a designar escritos falsamente atribuídos a apóstolos. A partir desta data, uma conotação nitidamente pejorativa prende-se ao termo “apócrifo”. As obras apócrifas serão então consideradas como veículos de erro.

Seja qual for o seu valor literário, os apócrifos do Novo Testamento não deixam de ser obras extremamente preciosas para o estudo da evolução das idéias religiosas nos séculos II e III.

Podem-se distinguir, grosso modo, no conjunto da literatura apócrifa, quatro categorias de escritos, que correspondem às diversas classes de escritos canônicos. Vale dizer que existem evangelhos, atos dos apóstolos, epístolas e apocalipses apócrifas. Só algumas destas obras serão aqui mencionadas.

Os evangelhos dos Nazarenos, dos Hebreus e dos egípcios só chegaram até nós através de citações feitas pelos Pais da Igreja. Pelo que se pode julgar, tratava-se de escritos bastante parecidos com os evangelhos canônicos. O evangelho de Pedro, do qual se descobriu um fragmento no Egito nos fins do século passado, já contém traços de um gnosticismo que se manifesta em toda a sua extensão em obras mais bem conhecidas por nós, desde a recente descoberta, sempre no Egito, de livros como o evangelho da Verdade, o evangelho de Filipe e o evangelho de Tomé, este último contendo muitos pontos comuns com os evangelhos sinóticos. Essas obras diferenciam-se claramente, porém, dos evangelhos canônicos, pelo fato de não comportarem praticamente nenhum elemento narrativo. O livro conhecido com o nome de Proto-evangelho de Tiago apresenta uma narrativa ampliada dos evangelhos da infância, interessando-se mais particularmente pela história de Maria e pelos fatos que cercaram o nascimento de Yaohushua.

Quanto aos atos apócrifos, são em geral escritos de edificação popular, inspirados longinquamente no livro canônico dos Atos. Comprazem-se em desenvolver o elemento maravilhoso na vida dos apóstolos que pretendem glorificar. De qualquer forma, esta é a impressão deixada pelos atos de João, Paulo, André.

Excetuando-se o caso da Epístola Apostolorum, escrita por volta de 150, e que se prende mais ao gênero apocalíptico, pouco há a dizer das epístolas apócrifas. Na verdade, estes escritos não se podem comparar com as epístolas canônicas: assemelham-se menos a cartas do que a pequenos tratados de teologia, além de serem bastante medíocres. Quanto aos apocalipses apócrifos, podem ser citados, além do “Pastor” de Hermas o apocalipse de Pedro (uma especulação sobre a vida futura, o paraíso e o inferno) e o apocalipse de Paulo, que pretende pormenorizar a famosa visão relatada por 2Co 12, durante a qual o apóstolo fora arrebatado ao terceiro céu.

Todos estes livros são posteriores aos escritos canônicos, dos quais são muitas vezes imitações. Em geral, não incorporam em si nenhuma tradição histórica antiga e, por isso, não são de grande valia para o estudo do Novo Testamento, seja qual for o interesse que apresentem para a história do pensamento “cristão” tardio.





O texto do Novo Testamento. Conhecemos o texto dos vinte e sete livros do Novo Testamento através de um número muito grande de manuscritos, redigidos em línguas bem diversas e conservadas atualmente em bibliotecas espalhadas pelo mundo. Nenhum desses manuscritos é autógrafo: todos eles são cópias, ou cópias de cópias dos manuscritos outrora redigidos pela mão do próprio autor ou por ele ditados. Todos os livros do Novo Testamento, sem exceção, foram escritos em grego, e existem nesta língua mais de 5.000 manuscritos, sendo que os mais antigos estão redigidos em papiro e os demais em pergaminhos. Em papiro, só se possuem partes, por vezes pequenas, do Novo Testamento. Os mais antigos manuscritos gregos contendo a maior parte ou a íntegra do Novo Testamento são duas Bíblias em pergaminhos que datam do século IV. A mais venerável é o Codex Vaticanus, assim chamado por ser conservado na Biblioteca do Vaticano, este manuscrito, de origem desconhecida, infelizmente mutilado, atesta o Novo Testamento, salvo a Epístola aos Hebreus 9,14 – 13,25, a primeira e segunda epístolas a Timóteo, as epístolas a Tito e a Filêmon, o Apocalipse. No segundo manuscrito, denominado Codex Sinaiticus, por ter sido descoberto no mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai, o Novo Testamento está completo; acrescenta-se-lhe até a epístola de Barnabé e parte do “Pastor” de Hermas, livros que não seriam conservados pelo cânon definitivo do Novo Testamento. Hoje, o Sinaítico se conserva no British Museum, de Londres. Esses dois manuscritos estão redigidos em bela caligrafia chamada maiúscula ou uncial bíblica. Nada mais são do que os mais célebres dentre cerca de 250 outros pergaminhos de escrita idêntica ou mais ou menos análoga, datados do século III até o século X ou XI; aliás em sua maioria, máxime os mais antigos, só conservam uma fração, por vezes bem pequena, do texto do Novo Testamento.

Nem todas as cópias do Novo Testamento que chegaram até nós são idênticas. Muito pelo contrário, podem discernir-se entre elas diferenças, cuja importância varia, mas cujo número é, em todo caso, bem considerável. Algumas destas diferenças só concernem a pormenores gramaticais, ao vocabulário, ou à ordem das palavras; outras vezes, porém, verificam-se entre os manuscritos divergências que afetam o sentido de passagens inteiras.

A origem dessas divergências é bastante fácil de descobrir. De fato, o texto do Novo Testamento foi, durante muitos séculos, copiado e recopiado por escribas mais ou menos competentes, nenhum deles, porém, isento das deficiências de toda a sorte que fazem com que cópia alguma, por fiel que seja, se conforme plenamente a seu modelo. A isto deve-se acrescentar que certo número de escribas, animados das melhores intenções, tentaram por vezes corrigir passagens de seu modelo, que lhes pareciam eivadas quer de erros caracterizados, quer de alguma falta de precisão teológica. Ao agirem assim, introduziram no texto variantes inéditas, quase sempre errôneas. Pode-se finalmente acrescentar que o uso cultural que se fez de não poucos perícopes do Novo Testamento provocou freqüentes deslizes do texto, no sentido de embelezamentos litúrgicos ou de harmonizações favorecidas pela recitação oral.

Inevitavelmente, no decorrer dos séculos, as transformações introduzidas pelos escribas se somaram umas às outras, donde o texto ter finalmente chegado à época da imprensa carregado de corrupções várias, que se traduzem pela presença de um número assaz considerável de variantes.

O objetivo ideal visado pela “crítica textual” é reconstituir, com base em todos esses documentos divergentes, um texto que com a maior probabilidade se aproxime do original. De qualquer forma, não há como esperar uma recuperação do próprio texto original.

O primeiro trabalho da crítica textual consiste em levar em consideração todos “os testemunhos” existentes do texto. Em outras palavras, é-lhe necessário arrolar e classificar todos os documentos que reproduzem, no todo ou em parte, o texto do Novo Testamento. Aqui levam-se em conta não só os manuscritos redigidos em grego, mas também todos os que incluem traduções do Novo Testamento nas línguas correntes entre os remanescentes dos primeiros séculos (essencialmente o latim, o siríaco e o copta). Em certo número de casos, essas traduções se fizeram com base em originais gregos anteriores ao Vaticano ou ao Sinaiticus, podendo testemunhar um estado do texto anterior ao que se pode alcançar por intermédio dos mais antigos manuscritos gregos. À medida que o seu substrato grego pode ser reconstituído com precisão, as traduções antigas desempenham um papel importante no estabelecimento do texto do Novo Testamento.

Além dos manuscritos gregos e das versões antigas, a crítica textual tenta valer-se das inúmeras citações do Novo Testamento que se encontram nas obras dos primeiros Pais da Igreja. A incontestável vantagem dessas citações é, em particular, a de remontar muitas vezes a um estado do texto anterior ao que transmitem as versões mais antigas (e, por conseguinte, além do que permitiriam conhecer os mais antigos manuscritos gregos). De outra parte, pode-se determinar a data e origem geográfica dessas citações com relativa facilidade e, assim, tem-se à mão um meio para formar uma idéia do texto do Novo Testamento em uso numa época exata, neste ou naquele setor da Igreja. Em contrapartida, estas citações apresentam um duplo inconveniente. Não só cada uma delas reproduz unicamente um fragmento do texto, mas sobretudo, infelizmente para nós, os “Pais” citavam o mais das vezes de cor e sem muito rigor, de modo que nem sempre é possível confiar totalmente nas informações que transmitem.

Uma vez arrolada e analisada a profusão de documentos constituída pelos manuscritos gregos, as antigas traduções e as citações patrísticas, a crítica textual, esforçamo-nos por ordenar tudo isso, a fim de utiliza-lo da melhor forma, com vistas a remontar o mais longe possível rumo ao texto original.

Nessa perspectiva, um exame atento levou os especialistas a constatar que o elenco das testemunhas conhecidas se repartia em um número bastante limitado de grupos capitais. Destarte, foi possível constituir três ou quatro grandes famílias de testemunhas, cujos representantes revelam ser cópias de um mesmo modelo.

Como conseqüência deste trabalho, ainda inacabado, mas já considerável, a crítica hodierna pode basear-se, em escala bastante ampla, não mais na massa de testemunhos individuais, mas em grupos de testemunhas, cada uma das quais representando um tipo de texto cuja origem pode ser datada e localizada com maior ou menor certeza.

Os principais tipos de textos identificados pela crítica são os seguintes:

- Um texto chamado “antioqueno” ou “sírio”, por causa de sua origem, geralmente situada em Antioquia, por volta de 300. Ele é atestado pela imensa maioria dos manuscritos gregos, sobretudo os mais recentes, pois tornou-se bastante rapidamente o texto mais usado no mundo bizantino – motivo pelo qual se chama também “bizantino” ou Koiné ékdosis (edição comum). Ele revela uma preocupação característica com a elegância e clareza; facilmente harmoniza entre si passagens mais ou menos paralelas e amalgama as variantes de um mesmo trecho. Sua qualidade crítica é medíocre. Apesar de tudo isso, foi a partir de variedades tardias deste texto que se efetuaram as primeiras edições impressas no Novo Testamento, cujo texto se imporia durante mais de três séculos como textus receptus ou texto recebido por todos.

- Um texto chamado “alexandrino” ou “egípcio”: tudo indica, de fato, ser a sua pátria o Egito e mais exatamente, Alexandria. Suas principais testemunhas são o Vaticanus e, em grau inferior, o Sinaiticus. Ele existia, ao mais tardar, por volta de 300, e certas descobertas recentes fazem pensar que, ao menos quanto aos evangelhos, teria existido numa data sensivelmente anterior. Chamam-no amiúde de texto “neutro”, pois parece não resultar de uma revisão realmente sistemática e tendenciosa. Todos os especialistas, ou quase, concordam em reconhecer-lhe, no conjunto, um valor crítico elevado, quer este provenha de uma tradição manuscrita especialmente fiel, que de uma restauração textual, cuja qualidade não seria de surpreender no mundo alexandrino. Por isso, desde a segunda metade do séc. XIX, as edições do Novo Testamento seguem de boa mente, e com razão, esse tipo de texto que, entretanto, não deve ser considerado como testemunha sempre e em tudo infalível.

- Um texto chamado “ocidental”. Este apelativo, que data do séc. XVIII, verificou-se parcialmente inexato. Com efeito, as antigas versões latinas do Novo Testamento e certos manuscritos greco-latinos, como o Codex Bezae (século IV?) para os Evangelhos e os Atos, atestam deveras a ampla difusão desse tipo de texto no Ocidente; agora, porém, é evidente que ele existiu também no Oriente, como o demonstram certas versões orientais, muitas citações e fragmentos de antigos manuscritos gregos. Em muitos casos, esse texto “ocidental”, cuja origem e unidade ainda permanecem problemáticas, apresenta-se como sendo a forma mais antiga e universalmente atestada do Novo Testamento. Ele se distingue por uma tendência pronunciada às explicações, à precisões, às paráfrases, às harmonizações, que muito geralmente o afastam do texto primitivo; em mais de um caso, porém, suas antigas variantes, sobretudo quando breves, são dignas de consideração.

Essas grandes famílias de manuscritos não são as únicas que se podem identificar. Existem também formas intermediárias entre os tipos mais definidos que acabamos de mencionar. Contudo, não é necessário adentrar nesses pormenores para dar a entender todo o interesse deste método, que consiste em isolar certos tipos de textos e situa-los no tempo e no espaço, graças aos dados cronológicos e geográficos que as versões, as citações e, em dadas circunstâncias, a paleografia oferecem. Com isso, torna-se possível esboçar, para cada variante, para cada livro, para o Novo Testamento inteiro, pelo menos uma história do texto que permita ver quais são as formas mais antigas, as mais amplamente atestadas e, por conseguinte, as que, em paridade de outras condições, têm maior probabilidade de corresponder ao texto original.

Este primeiro trabalho crítico, que se chama “crítica externa”, ainda não é suficiente. Não raro, por exemplo, ele resulta na constatação da existência, no séc. II ou III, de duas variantes do mesmo trecho bastante difundidas e entre as quais a escolha é difícil. Neste caso, só resta recorrer aos préstimos da “crítica interna”.

Esta já não considera essencialmente as variantes como tipos diferentes do texto do Novo Testamento. Pelo contrário, parte do princípio que o teor de cada variante deve ser examinado como um caso individual, resultante de uma intervenção intempestiva, consciente ou não, de um copista. O objetivo da crítica interna é, antes de mais nada, reconstituir de maneira precisa a espécie de interferência que foi feita pelo copista responsável pela eclosão da variante e quais foram as motivações dessa intervenção. Estabelecido isto, é relativamente fácil, a seguir, reter como leitura primitiva a que se revelou como sendo origem de todas as leituras corrompidas. Este método, contudo, dá margem a uma ampla intervenção do juízo subjetivo do crítico, que deve explorar simultaneamente sua opinião pessoal sobre o texto e seu conhecimento, não só do modo costumeiro de proceder dos escribas, mas também dos erros que eles cometem com maior freqüência. Este caráter subjetivo do método explica em grande parte por que só é empregado como complemento da crítica externa.

Seja como for, os resultados conseguidos desde cerca de 150 anos pela crítica textual do Novo Testamento são notáveis. Atualmente, o texto do Novo Testamento pode ser considerado como bem estabelecido. Só poderia ser novamente posto em dúvida seriamente devido à descoberta de novos documentos.

Esses resultados tornaram possíveis os progressos enormes que se podem verificar entre as edições modernas do Novo Testamento e as que haviam sido efetuadas entre 1520 e 1850, mais ou menos, antes da aplicação rigorosa das regras da crítica textual. A edição mais difundida em nossos dias é a da Nestle-Aland, que se baseia no texto das três grandes edições científicas realizadas na segunda metade do séc. XIX por Tischendorf, Wescontt e Hort, e Weiss. O Greek New Testament, editado pelas Sociedades Bíblicas e levado a cabo por K. Aland, M. Black, B.-M. Metzger e A. Wikgren, esmerou-se em aprimorar-lhe o texto. Nesta última edição é que, com algumas exceções, se baseia a presente tradução.





O ambiente do Novo Testamento. “O cristianismo nasceu no seio de um povo que passara por uma história tormentosa” (hoje chamado de os remanescentes – o “resto” do verdadeiro povo de Yaohu – conforme descrito na 2ª apostila – Anselmo Estevan – do qual faço parte...). Após o doloroso exílio babilônico, que marcara definitivamente a consciência judaica, Israel tornara a instalar-se precariamente na Palestina; mas, quando reintegraram a Terra Prometida, os judeus tiveram de se dar conta de que os tempos haviam mudado e já não se podia pensar em viver lá como nos tempos anteriores. De fato, a Palestina se tornara, mais do que outrora, objeto da cobiça de interesses que a ultrapassavam e também, mais do que outrora, via-se exposta às influências insidiosas e persistentes de idéias estrangeiras e, portanto, pagãs, (o que hoje leva a denominação de “cristãos”), Anselmo Estevan; que, de forma sempre mais aguda, entravam em conflito com as tradições judaicas ancestrais que eles se esforçavam por manter intactas, apesar de todos os obstáculos. Com o passar dos anos, o confronto entre o judaísmo e o mundo circunvizinho evoluiu para formas cada vez mais violentas.

Desde a morte de Alexandre Magno, em 323, a Palestina caíra sob a dependência dos reis helênicos. Estes tiveram para com os judeus atitudes muito diversas, desde uma grande tolerância até as mais furiosas tentativas de absorção cultural. O nome de Antíoco IV Epífanes (175-164) ficou ligado ao mais cruel destes esforços para subjugar a pulso o particularismo judeu, impondo-lhe a conversão ao helenismo. O ponto culminante foi à consagração do templo de Jerusalém a Zeus Olímpico. Esses acontecimentos, relatados no livro dos Macabeus, tiveram como efeito obrigar todos os judeus piedosos (os hasidim) quer à resistência passiva, que à revolta. A insurreição militar, sob a chefia dos irmãos Macabeus, resultou na reconquista de uma relativa independência política e religiosa, que durou cerca de um século. A dinastia dos hasmoneus, que tomou este nome de um antepassado de Judas Macabeu, governou de fato a Palestina até lhe ser imposto o regime romano. Intervindo para pôr fim às disputas internas que dividiam os últimos hasmoneus. Pompeu apoderou-se de Jerusalém no ano 63 a.C.

O período romano da história da Palestina foi dominado, em seus primórdios pela dinastia de Herodes, Herodes Magno (Mt 2,1) reinou de 40 a 4 a.C., não raro graças ao terror. A sua origem idioméia e, portanto, não-davídica, juntamente com a sua crueldade, atraíram sobre ele um ódio implacável por parte do povo judeu. À sua morte, os três filhos repartiram o reino entre si. A Herodes Antipas coube como herança a Galiléia (Lc 3,1) e a Peréia, onde reinou de 4 a.C. até 39 d. C. Ele é conhecido por ter mandado matar João Batista (Mc 6,17-29) e por ter desempenhado um papel no processo de Yaohushua (Lc 23,6-16). De Arquelau (Mt 2,22), que recebera a Judéia e a Samaria, e de Filipe, que recebera os territórios situados ao norte da Palestina (Lc 3,1), os evangelhos citam apenas os nomes.

Contudo, o poder político predominante estava na mão dos funcionários romanos, prefeitos ou procuradores. O Novo Testamento conservou a lembrança de vários deles. Pôncio Pilatos, o quinto da série, exerceu suas funções brutalmente, entre os anos 27 e 37; Félix, homem cruel e viciado (se acreditarmos em Tácito), procurador de 52 a 60, contribuiu amplamente para fazer eclodir a guerra civil nos territórios sob sua jurisdição. Perante ele é que compareceu Paulo em Cesaréia (At 23,23-24.26); seu sucessor foi Festo (At 25 – 26), diante de quem Paulo apelou para o tribunal de César (At 25,11-12).

O governo dos procuradores fora interrompido por uma breve restauração do poder dos Herodes em benefício de Agripa I, neto de Herodes Magno, e que se salientou, segundo o Novo Testamento, como um dos primeiros perseguidores da Igreja nascente (At 12,1-23). Este intermédio (39 – 44) não viu melhorar a situação da Palestina. Sob os últimos procuradores, as perturbações políticas nada mais fizeram do que ampliar-se e, em 66, acabaram degenerando numa verdadeira revolta. A repressão energicamente aplicada pelos romanos levou, em 70, à destruição de Jerusalém e do seu Templo. Uma vez destruído o Templo, os judeus viram-se impossibilitados de celebrar o seu culto. Era todo o sistema político, religioso e nacional do judaísmo que naufragava na pior catástrofe de sua história.

Ao que parece, antes que se produzissem esses funestos eventos, a pequena comunidade remanescente saíra de Jerusalém, para refugiar-se em Pela, na Decápole.

A partir de 70, a história do judaísmo reduz-se praticamente à história dos milhões de judeus que, havia séculos, se tinham dispersado por toda a bacia do Mediterrâneo, na Mesopotâmia e até na Pérsia, ao sabor de todas as tormentas políticas que tinham sacudido o Oriente Médio. As comunidades mais numerosas desta dispersão ou “Diáspora” residiam em Alexandria, em Antioquia e em Roma. Ali, os judeus gozavam de um estatuto jurídico particular que lhes permitia manter uma administração religiosa e civil baseada na Lei mosaica. Um anti-semitismo popular latente contribuía para isolar essas comunidades de seu ambiente social, mas só raramente os hostilizava de forma deliberadamente violenta. A vida religiosa e cultural dos judeus da Diáspora centrava-se na Sinagoga, instituição que funcionava ao mesmo tempo como escola, núcleo cultural e lugar de culto. Este consistia essencialmente na oração, na leitura da Torá e na sua explicação.

Na época de Yaohushua, o judaísmo representava um sistema sociorreligioso homogêneo, fundado na fé no ETERNO, o Todo-poderoso e Único, e no respeito a uma norma absoluta, a Torá ou Lei. A partir desses dois elementos fundamentais, o pensamento judaico podia evoluir com muita liberdade, gozando, notadamente, de larga tolerância por parte das instâncias religiosas.

Toda a vida judaica desenrolava-se à luz divina da Lei. Sendo de origem divina, esta Lei é perfeita. Contudo, ela precisa ser explicada e interpretada, para poder aplicar-se aos problemas concretos e individuais. Protraindo-se de longos séculos, este esforço de explicitação teve como resultado desenvolver, em torno da Torá escrita, uma Torá oral, constituída pelo que chamavam de Tradição dos Antigos e tida como remontando até Moisés, através de uma cadeia ininterrupta de rabinos. O Novo Testamento dá o nome de escribas a esses letrados judeus, intérpretes da Torá. Na época de Yaohushua, eles desfrutavam de uma autoridade considerável no seio da população e, em particular, nas suas camadas médias. Exercendo na sociedade as funções de teólogos e juristas, ocupavam lugar de destaque na vida judaica. A partir do séc. III da nossa era, os rabinos empreenderam pôr escrito o conjunto da tradição dos escribas, que até então conservara-se oral. Este trabalho enorme resultou na constituição da Mishiná (repetição da Lei, comentário) que, por sua vez, entrou na composição do Talmud (ensinamento).

O outro pólo da vida judaica era incontestavelmente, no séc. I, o Templo de Jerusalém, para o qual convergiam os sentimentos religiosos e nacionais de todo o povo. De fato, o Templo era concebido como centro do mundo, lugar onde Yaohu devia manifestar-se no último dia. Todos os judeus maiores de idade e de sexo masculino consideravam uma obrigação, para não dizer um prazer, pagar o imposto do didracma, que se destinava a prover às necessidades do santuário. As funções cultuais e litúrgicas eram assumidas por sacerdotes que se escolhiam entre os descendentes da família de Aarão. Em suas tarefas, eram eles assistidos por levitas. Toda uma classe sacerdotal gravitava assim em torno do santuário de Jerusalém; ela se hierarquizava rigorosamente sob a autoridade suprema de um Sumo Sacerdote, que também presidia ao Sinédrio, assembléia de 70 membros, sacerdotes e leigos, que tinham competência em assuntos civis e religiosos.

Ao mesmo tempo, um crescente antagonismo opunha os escribas a esses representantes da classe sacerdotal. Este antagonismo era um dos aspectos da oposição que reinava entre o Templo e a Sinagoga, ou entre saduceus e fariseus. Essas duas grandes tendências formavam o que ordinariamente se denomina judaísmo oficial.

Na época de Yaohushua, os saduceus já viam a sua autoridade fortemente contestada. De fato, eles eram, sob todos os pontos de vista, conservadores e partidários da ordem, embora esta fosse romana, o que lhes garantia, aliás, o essencial de suas prebendas. Por isso, eles eram para o povo seriamente suspeitos de colaboração, senão mesmo de conluio com a potência pagã de ocupação. Em todo o caso, tinham perdido toda a influência sobre o povo. Este preferia, aos saduceus, seus adversários fariseus, nos quais via, ao contrário, patriotas fiéis ao ETERNO e à Lei, até mesmo descendentes dos famosos hasidim que se tinham associado à revolta contra Antíoco Epífanes na época dos Macabeus. Em 70, a ruína do Templo devia acarretar a dos saduceus, que dele dependiam inteiramente. A partir desta data, o judaísmo oficial é representado unicamente pela tendência farisaica.

À margem desses dois grandes “partidos”, existiam, no tempo de Yaohushua, diversas seitas, algumas das quais são de grande interesse para o conhecimento do ambiente de origem do “cristianismo”.

A respeito da seita dos zelotes, só possuímos informações parciais e difíceis de interpretar. Parece que formavam uma ala extremista do partido dos fariseus. Seus membros estavam dispostos a fazer respeitar as prescrições da Lei por todos os meios, inclusive violentos. Apresentados por vezes como vulgares assaltantes de estrada, eram antes fanáticos religiosos, irredutivelmente opostos a qualquer forma de autoridade que não proviesse diretamente da Lei. Por isso, não hesitavam em punir de morte os que, a seu ver se tinham tornado culpados de graves faltas contra a Lei e, mais particularmente, os que colaboravam com o poder pagão de ocupação. É possível que certos discípulos de Yaohushua, ou até Paulo, tenham tido relações com a seita dos zelotes, antes de se tornarem cristãos.

Ainda mais periféricos do que os zelotes, porém mais bem-conhecidos depois da descoberta dos manuscritos do mar Morto em Qumran, os essênios eram na maioria monges, mas alguns podiam residir fora do mosteiro central de Qumran e exercer notável influência sobre os habitantes da Palestina. Eram os essênios, muito hostis às autoridades judaicas que estavam no poder e principalmente ao Sumo Sacerdote. Apesar de judeus muito rigorosos, os essênios acolheram muitas idéias estrangeiras, as quais adaptaram à sua teologia. Assim é que, sem dúvida por influências iranianas, eles foram induzidos a desenvolver uma doutrina claramente dualista, fundada na oposição radical de dois espíritos ou duas forças, uma do Bem, outra do Mal, que lutam num combate sem tréguas até o dia derradeiro, em que se assistirá ao triunfo definitivo do Príncipe da Luz sobre o Anjo das Trevas.

O Novo Testamento nunca se refere aos essênios; não contém nenhum indício de uma influência direta do essenismo sobe o cristianismo. Pode-se afirmar, entretanto, que personagens como João Batista, Yaohushua e os primeiros discípulos estão mais próximos dos meios “sectários” judeus do século I do que do judaísmo oficial. Ora, enquanto se saiba, esses meios todos simpatizavam mais ou menos com as idéias essênias. Por isso, não é impossível que o cristianismo das origens tenha admitido até certo ponto essas idéias e que uma mentalidade e um procedimento de natureza essênia tenham predominado no seio da primeira comunidade cristã de Jerusalém, ao menos durante algum tempo.

Os essênios devem ter participado ativamente na rebelião contra os romanos. Eles desaparecem da cena da história na tormenta de 70.

Os acontecimentos que levaram à destruição de Jerusalém dão testemunho do grau de exasperação atingido pelas massas judaicas submetidas à arbitrariedade dos procuradores romanos. Esta exasperação, amplamente explorada pelos elementos zelotes, alimentava-se, outrossim, no manancial de todas as crenças apocalípticas que muito se tinham desenvolvido na Palestina desde o século II a.C. Cada vez mais, arraigava-se na consciência judaica a convicção de que Yaohu não tardaria a afrontar o desafio da presença pagã na Terra Santa e iria restabelecer a sua justiça, ao mesmo tempo que os privilégios dos seus eleitos, implantando de maneira espetacular o seu Reino na terra.

Esta intervenção divina devia marcar o fim das atuais tribulações, ao mesmo tempo que o início de uma nova era, da qual seriam banidos o Mal e a impiedade. Finalmente, tal advento devia ser anunciado por um recrudescimento das catástrofes e calamidades, acompanhadas pela subversão definitiva e total dos inimigos de Yaohu. Este conjunto de crenças constitui as concepções escatológicas do judaísmo antigo.

No século I da nossa era, as esperanças escatológicas estavam longe de constituir uma unidade coerente. O que havia era um pulular de idéias bastante confusas, difíceis de serem ordenadas. Contudo, o que se pode afirmar é que, nas proximidades da era cristã, essas concepções se radicalizaram muito claramente, pelo menos em certos meios. As desventuras de Israel eram então profundas demais para que fosse razoável esperar por mais tempo que um messias humano e histórico pudesse restaura-lo um dia em sua dignidade de povo eleito. Doravante, só de Yaohu é que, cada vez mais, se esperava uma mudança da situação, e somente em virtude de uma subversão cósmica e pela irrupção de um mundo totalmente novo se vislumbrava a realização da tão suspirada transformação. Neste cenário apocalíptico, o papel do messias nem sempre é muito importante. Ao se referirem a ele, os autores apocalípticos já não parecem considera-lo, com outrora, um messias terrestre, um ungido de YHVH – YAOHU, em outras palavras, um rei descendente da família de David que assumiria funções essencialmente políticas e militares para garantir, com a ajuda do DEUS - Yaohu, a libertação e a prosperidade do povo. O messias tende cada vez mais a assumir o aspecto de um ser sobrenatural, associado a Yaohu mais do que aos homens. Em certo número de apocalipses, ele recebe o nome de Filho do Homem – que designa, na realidade, uma figura essencialmente celeste, sem ponto de contato real com a humanidade e inacessível ao sofrimento. O conjunto das concepções messiânicas e apocalípticas desta época fornece certo número de materiais a partir dos quais se elaborou a cristologia dos cristãos. Contudo, a consideração do destino sofredor de Yaohushua impôs aos cristãos conferir um conteúdo inteiramente novo ao quadro que lhes era fornecido pelo messianismo e a apocalíptica dos seus contemporâneos.





Alguns traços do mundo greco-romano. No início da era cristã, o mundo romano é o herdeiro direto do império grego construído por Alexandre Magno. Por sob um verniz romano, deparam-se a mesma administração provincial, as mesmas condições de vida coletiva e individual, numa palavra, a mesma civilização helenista, e a língua comum ainda é o grego.

Um olhar sobre o mapa do império romano, mais que uma simples enumeração, mostra-nos sua extensão. Tem as dimensões de um mundo e a cada ano assenta melhor sua autoridade, reduzindo os particularismos e opondo-se às investidas dos bárbaros (germanos, partos...).

Resultado de numerosas conquistas, o império agrupa territórios de estatutos diferentes: o Egito, propriedade pessoal do imperador, que para lá delega um prefeito vice-rei: os protetorados, antigos reinos que conservam suas instituições tradicionais: e as províncias. Entre estas devem-se distinguir as províncias senatoriais (Ásia = Ásia Menor) e as províncias imperiais, onde ainda estacionavam as tropas romanas e a autoridade era exercida pelos governadores responsáveis unicamente perante o imperador (Síria). Os procuradores administram regiões que se assinalam por características particulares (Judéia).

Este sistema autoritário, que não reserva às regiões mais do que uma aparência de autonomia (assembléias provinciais), garante a todos uma paz relativa, mas real, de que se aproveitam particularmente os territórios da Ásia, graças aos intercâmbios que a ordem favorece. De resto, as cidades fruem de certa liberdade: são geridas pela assembléia (ekklésía), cujos membros são todos os cidadãos, e sobretudo pelo conselho (boulé) dos notáveis. As corporações desempenham igualmente função importante na vida local.

Além de ser cidadão da sua cidade natal, uma pessoa pode gozar da cidadania romana: este privilégio pode provir de direito hereditário (é o caso de Paulo), ser adquirido a preço de ouro ou conferido a título de recompensa. O cidadão romano é isento das penas corporais e ignominiosas (At 22,25-29) e pode recorrer ao direito de apelar para o imperador (At 25,10ss.).

Pouco antes da era cristã, os imperadores começam a ser considerados como seres divinos, filhos de deus, deuses eles mesmos. Este processo, que sofre ampla influência das crenças orientais (Egito, Pérsia), corresponde perfeitamente à lógica dos fatos: sendo um o império, o culto deve manifestar o seu único fundamento. Tibério, Cláudio, Vespaziano preferiram limitar-se a incentivar o culto do imperador falecido, mas Calígula, Nero e Dominiciano se fizeram adorar. Na realidade, esta religião não foi imposta por Roma; bastou que o imperador desse livre curso ao entusiasmo, à gratidão... ou à obsequiosidade das províncias, cidades ou corporações. Isto explica a impressionante floração deste culto (Éfeso dedicava-lhe vários templos), que coexistia perfeitamente com as demais formas religiosas. Os sumos sacerdotes eram escolhidos dentre os magistrados locais. Tratava-se de um encargo dispendioso, mas que garantia ao seu titular uma real influência política, uma vez que a religião estava estreitamente imbricada na administração.

Esta situação criaria para os primeiros cristãos um terrível problema: como continuar sendo bom cidadão sem aceitar deixar-se induzir à adoração do imperador? Muitos trechos do apóstolo Paulo se esclarecem quando lidos a esta luz: tratava-se nada menos que de rejeitar toda uma concepção do mundo. As visões do Apocalipse repisam amiúde este problema candente. (Sendo que: “O verdadeiro povo de Yaohu – OS REMANESCENTES – não incidiram a essa regra de adoração...”). Anselmo Estevan.

As massas do povo prendem-se mais particularmente ao culto prestado aos deuses familiares protetores, muito próximo dos cuidados cotidianos, mas os cultos cívicos são os que, junto com o culto imperial, manifestam melhor o caráter essencial da religião da época: toda a vida cotidiana acha-se impregnada de religião e de uma religião que, além do mais, é oficial. As frases da vida do homem, quer como indivíduo quer como membro de uma sociedade, seja ela qual for (família, tribo, corporação, cidade), são por ela profundamente marcadas. Assim, qualquer cargo público implica necessariamente uma participação ativa no culto.



RECORDANDO O TERMO – REMANESCENTE: [Rm 9,27; Rm 11,5]:



Mas relativamente a Israel, dele clama Isaías:

Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, O REMANESCENTE é que será salvo.



VAMOS AO ESTUDO DE “REMANESCENTE” – Rm 11,5:



Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um REMANESCENTE segundo a eleição da graça.



Estudo: UM REMANESCENTE: Embora a nação tenha rejeitado Yaohushua, milhares de judeus creram nele (cf. At 2,41; 4,4; 6,1). A eleição da graça. Yaohu não escolheu esse remanescente por causa da sua fé prevista, boas obras, méritos espirituais ou descendência racial, mas sim, exclusivamente, por causa da sua graça (cf. Dt 7,7-8; Ef 2,8-3; 2Tm 1,9). Bíblia de Estudo MACARTHUR. SBB. 2010. RA. (Anselmo Estevan).



Trata-se de uma religião muito diversificada (os deuses são legião), mas o culto deles é sempre meramente ritual. Convém honrar os deuses e oferecer-lhes sacrifícios de acordo com as regras; nisto consiste a piedade.

As cerimônias abrangem orações litúrgicas (invocação, convite ao deus para o sacrifício, pedidos de benefícios) e sacrifícios, concebidos como presentes ofertados ao deus, geralmente alimentos. Uma parte do sacrifício é queimada; o resto é, quer consumido pelo clero local ou pelos fiéis, quer posto à venda no mercado. Daí surgem os problemas para os cristãos que compram essas carnes ou são convidados para tais refeições (1Co 8).

A gratidão do homem para com o deus que o atendeu exprime-se não raro por meio de ofertas votivas como as que foram encontradas nas escavações da piscina Probática em Jerusalém (havia ali um santuário pagão dedicado a um deus curandeiro).

O amálgama das idéias e das pessoas favorecia evidentemente a difusão de cultos de origem oriental e de cunho menos terra-a-terra. Citemos os cultos isíacos, segundo os quais provações sucessivas de iniciação conduzem o homem à assimilação com Osíris, o deus morto, que os sortilégios de Isís devolveram à vida. Neles pressagiava-se uma certeza da imortalidade.

Os “mistérios” ficam mais estreitamente ligados ao culto cívico e conservam seus liames locais, mesmo quando a sua fama se propaga por todo o império. Trata-se de ritos sagrados, antecedidos por uma longa preparação numa atmosfera em que a noção de segredo assume por vezes grande importância. O mais das vezes, não passam de ritos ligados às estações e destinados a garantir a fecundidade. Sucede também que pretendam conferir aos fiéis segurança quanto à vida de além túmulo (sempre e unicamente em virtude do rito; o ensinamento, o dogma quase não desempenham papel algum). Assim, os mistérios de Elêusis e os mistérios dionisíacos (Dionísio = Baco), nos quais se exprimem com selvageria a necessidade de evasão pelo êxtase e o delírio sagrado por ocasião de corridas desatinadas e da manducação de carnes ainda palpitantes. Um deus que assim ensejava furtar-se momentaneamente às condições terrenas não podia desamparar seus fiéis depois da morte.

Eis alguns dos traços característicos do mundo onde os primeiros cristãos iriam viver professando a sua fé: só “(Cristo é o Senhor)”, e não o imperador. Portanto, a ele é que se deve obedecer, arriscando-se a ir frontalmente de encontro ao quadro religioso de qualquer vida. Só ele pode ser adorado numa vida de consagração, numa conduta inspirada pelo amor do qual “(Cristo)” é testemunha e que traz consigo o penhor da vida eterna. {Eu, Anselmo Estevan, como REMANESCENTE QUE SOU, TENHO UMA IDÉIA DIFERENTE EM CONSIDERAÇÃO AOS “NOMES” “CORRETOS”: [...] professando a sua fé (a minha fé): só O UNGIDO é YHVH – Yaohu – o ETERNO, [...], pelo amor do qual O UNGIDO é a testemunha e que traz consigo o penhor da vida eterna! Amém.}.Anselmo Estevan.



O PERÍODO ENTRE OS



TESTAMENTOS







O período entre os Testamentos foi turbulento e repleto de mudanças, um tempo de realinhamento de grandes potências e o fim de uma tradição cultural do antigo Oriente Próximo que havia predominado por quase três mil anos.

Na história bíblica, os cerca de quatrocentos anos entre a época de Neemias e o nascimento de O UNGIDO são conhecidos como período intertestamentário (c. 433-5 a.C.). Por vezes, é dito que foram anos “silenciosos”, uma caracterização que não corresponde em nada à realidade. Os acontecimentos históricos, a literatura e as forças sociais desse período dariam forma ao mundo do Novo Testamento.







História



Com o exílio na Babilônia, Israel deixou de ser uma nação independente e se tornou apenas um pequeno território numa sucessão de grandes impérios. As informações acerca dos últimos anos de domínio persa são extremamente escassas, uma vez que o historiador Josefo (c. 37-100 d.C.), nossa principal fonte do período intertestamental, praticamente os ignora.

A conquista da Terra Santa por Alexandre o Grande (332 a.C.) representou uma ameaça inédita e ainda mais insidiosa para Israel. Alexandre estava determinado a criar um mundo unido pela língua e cultura grega, uma política seguida pelos seus sucessores. Essa política, chamada de helenização, exerceu um impacto dramático sobre os judeus.

Quando Alexandre faleceu (323 a.C.), o império que ele havia conquistado foi dividido entre os seus generais. Dois deles fundaram dinastias – a ptolomaica no Egito e a selêucida na Síria e na Mesopotâmia – que, por mais de um século, disputariam o controle da Terra Santa.

O governo ptolomaico demonstrou consideração pelas práticas religiosas dos judeus, mas em 198 a.C., os selêucidas assumiram o controle e prepararam o cenário para um dos períodos mais heróicos da história judaica.

Os primeiros anos de domínio selêucida foram, em sua maior parte, uma continuação do regime tolerante dos ptolomaicos, mas Antíoco IV Epifânio (cujo nome significa “Deus manifestado” e que governa de 175 a.C. a 164 a.C.) mudou essa política quando tentou consolidar o seu império decadente por meio da helenização radical. Alguns segmentos da aristocracia judaica já haviam adotado os costumes gregos, mas a maioria dos judeus sentiu-se ultrajada.

As atrocidades de Antíoco tinham por objetivo erradicar a religião judaica. Ele proibiu alguns elementos fundamentais das práticas judaicas, procurou destruir todas as cópias da Torá (o Pentateuco), exigiu que se fizessem ofertas ao deus grego Zeus e sacrificou um porco dentro do próprio templo de Jerusalém.

A oposição a Antíoco foi liderada por Matatias, um camponês idoso de família sacerdotal, e seus cinco filhos: Judas (Macabeu – que provavelmente significa “martelador”), Jônatas, Simão, João e Eleazar, Matatias destruiu um altar grego erigido em Modeim, o vilarejo onde vivia, e matou um emissário de Antíoco, desencadeando a revolta dos Macabeus, uma guerra que durou vinte e quatro anos (166-142 a.C.) e resultou na independência de Judá até que os romanos assumiram o controle em 63 a.C.

No entanto, essa vitória da família de Matatias foi ilusória, pois, com a morte de Simão, o último dos cinco irmãos, a dinastia dos Hasmoneus logo se transformou num regime helenista, por vezes mais severo do que o dos Selêucidas. Durante o reinado de João Hircano, filho de Simão, os judeus ortodoxos que haviam apoiado os Macabeus perderam popularidade. Salvo raras exceções, os Hasmoneus apoiaram os judeus helenizantes e os fariseus chegaram a ser perseguidos por Alexandre Janeu (103-76 a.C.).

A dinastia hasmoneia chegou ao fim quando, em 63 a.C., o Império Romano em expansão interveio numa disputa dinástica entre os dois filhos de Janeu, Aristóbulo II e Hircano II. Pompeu, o general que conquistou o Oriente para Roma, tomou Jerusalém depois de sitiar a área do templo durante três meses, massacrando sacerdotes oficiantes e profanando o Lugar Santíssimo. Esse sacrilégio iniciou a dominação romana de um modo que os judeus jamais seriam capazes de perdoar ou esquecer.







LITERATURA



Durante esses anos terríveis de opressão e conflitos internos, o povo judeu produziu uma grande quantidade de textos literários com relatos e discussões de acontecimentos da sua era. Três das obras mais importantes desse período são a Septuaginta, os Apócrifos e os Manuscritos do Mar Morto.

A Septuaginta. Diz a lenda judaica que setenta e dois estudiosos sob os auspícios de Ptolomeu Filadelfo (c.250 a.C.) foram reunidos na ilha de Faros, próximo a Alexandria, para produzir uma tradução grega do Antigo Testamento em setenta e dois dias. Foi dessa tradição que nasceu o nome em latim “Septuaginta”, que quer dizer setenta. Esse título é abreviado pelo numeral romano para setenta, LXX.

Por trás da lenda, existe a probabilidade de que pelo menos a Torá (os cinco livros de Moisés) tenha sido traduzida para o grego em c. 250 a.C., com o objetivo de alcançar o público judeu da fala grega em Alexandria. O restante do Antigo Testamento e alguns livros não canônicos foram incluídos na Septuaginta antes do início da era cristã, embora seja difícil determinar exatamente quando.

A Septuaginta não demorou a se transformar na Bíblia dos judeus fora da Terra Santa que, como os alexandrinos, não mais falavam hebraico. É praticamente impossível subestimar a influência desta obra, uma vez que ela disponibilizou as Escrituras tanto para os judeus que haviam perdido a sua língua ancestral quanto para todo o mundo de fala grega. Posteriormente, a Septuaginta tornou-se também a Bíblia da Igreja primitiva. Sua ampla popularidade e uso também contribuíram para que os Apócrifos fossem mantidos em alguns ramos do Cristianismo.

Os Apócrifos. Derivada de um termo grego que significa “oculto”, a designação “apócrifo” adquiriu com o tempo a conotação de algo “falso”, mas, num sentido técnico, descreve um conjunto específico de textos. Essa coletânea é constituída de vários livros e acréscimos aos livros canônicos que, com exceção de 2 Esdras (c. 90 d.C.), foram escritos durante o período intertestamentário. Em decorrência de um processo histórico bastante complexo, o Cristianismo católico romano e o oriental reconheceram esses livros como obras que têm autoridade.

É provável que os limites do cânon hebraico do Antigo Testamento, aceito nos dias de hoje pela maioria dos protestantes, tenham sido definidos no início do século 2º. d. C. Apesar das discordâncias entre os pais da Igreja quanto à canonicidade de alguns livros, os Apócrifos (que faziam parte da Septuaginta) continuaram a ser de uso comum pela maioria dos cristãos até a Reforma. Nesse período, os protestantes decidiram seguir o cânon hebraico original, enquanto os católicos romanos ratificaram no Concílio de Trento (1546) e, mais recentemente, no Primeiro Concílio do Vaticano (1869-1870) o cânon “Alexandrino” mais amplo que inclui os Apócrifos.

Os livros apócrifos mantiveram o seu lugar principalmente por causa do peso da autoridade eclesiástica, sem a qual não teriam preenchido os requisitos de canonicidade. {Ou seja, somente pela vontade “humana”; e, talvez por interesses políticos da “igreja” – “Estado” – daquela época...}. Anselmo Estevan. Não há nenhuma evidência clara de que Yaohushua e ou os apóstolos tenham citado alguma das obras apócrifas como Escrituras inspiradas. A própria comunidade judaica, na qual esses textos foram produzidos, os repudiou e os levantamentos históricos feitos nos sermões apostólicos registrados em Atos ignoram completamente o período do qual eles tratam. Até mesmo o relato histórico sóbrio de 1 Macabeus é desdourado por inúmeros erros e anacronismos.

Além de não apresentarem nada de valor doutrinário que não possa ser encontrado nas Escrituras canônicas, os Apócrifos contém vários elementos que conflitam com os ensinamentos escriturísticos. Não obstante, esse conjunto literário representa uma fonte valiosa de informação para o estudo do período intertestamental.

Os Manuscritos do Mar Morto. Em 1947, um pastor de ovelhas árabe deparou com uma caverna nas colinas da costa sudoeste do mar Morto. Dentro dela, encontrou o que foi chamado de “maior descoberta de manuscritos dos tempos modernos”. Os documentos e fragmentos de documentos encontrados nessas cavernas ficaram conhecidos como “Manuscritos do Mar Morto” e incluíam livros do Antigo Testamento, alguns dos Apócrifos, obras apocalípticas, pseudepígrafos (livros escritos por autores que se faziam passar por heróis da fé da Antiguidade) e vários livros característicos da seita que os produziu.

Cerca de um terço do que foi encontrado era constituído de livros bíblicos, sendo Salmos, Deuteronômio e Isaías – os livros mais vezes citados no Novo Testamento – os de ocorrência mais freqüente. Uma das descobertas mais extraordinárias foi um rolo completo do livro de Isaías com quase oito metros de comprimento.

Os Manuscritos contribuíram de modo significativo para a busca por uma forma dos textos do Antigo Testamento que refletisse com mais precisão os manuscritos originais, uma vez que forneceram cópias mil anos mais próximas dos originais do que os textos conhecidos até então. A compreensão do aramaico e do hebraico bíblico e o conhecimento acerca do desenvolvimento do judaísmo entre os testamentos aumentaram consideravelmente em decorrência dessa descoberta. Uma característica dos Manuscritos de grande relevância para os leitores da Bíblia é o cuidado evidente com o qual os textos do Antigo Testamento foram copiados, dando provas concretas de sua confiabilidade geral.







O ÂMBITO SOCIAL



O judaísmo no tempo de Yaohushua é, em grande parte, o resultado de mudanças que ocorreram em resposta às pressões do período intertestamental.

A Diáspora. A Diáspora (Dispersão) de Israel começou no exílio e se acelerou de tal modo durante o período entre os Testamentos que, segundo um escritor da época, os judeus estavam em “todas as terras e mares”.

Os judeus que se encontravam longe da Terra Santa e do templo concentravam a vida religiosa no estudo da Torá e na sinagoga (veja abaixo). Os missionários da Igreja primitiva deram início ao seu ministério entre os gentios na Diáspora usando a tradução grega do Antigo Testamento (a Septuaginta).

Os saduceus. O mundo grego causou impacto mais intenso na Terra Santa por meio do partido aristocrático dos saduceus que se tornou o partido do templo. Devido à posição elevada que ocupavam, os saduceus tinham interesse pessoal em manter o status quo.

Constituíam um grupo relativamente pequeno que detinha poder político desproporcional e controlava o sumo sacerdócio. Rejeitavam todos os escritos religiosos exceto a Torá e qualquer doutrina (como a ressurreição dos mortos) que não se encontrasse nesses cinco livros.

A sinagoga. Durante o exílio na Babilônia, Israel perdeu o aceso ao templo e a sua identidade nacional e se viu cercada de práticas religiosas pagãs, o que ameaçava de extinção a fé israelita. Nessas circunstâncias, os exilados transferiram o seu foco religioso do que haviam perdido para ao que ainda possuíam – A Torá e a convicção de que eram o Povo de Deus – Yaohu. Concentraram-se na lei em vez de na identidade nacional, na piedade pessoal em vez de na retidão sacramental, e na oração como um substituto aceitável para os sacrifícios que não podiam mais oferecer.

Ao voltarem do exílio, trouxeram consigo essa nova maneira de expressão religiosa, bem como a sinagoga (o seu centro), e o judaísmo tornou-se uma fé que podia ser praticada onde quer que fosse possível levar a Torá. A ênfase sobre a piedade pessoal e sobre o relacionamento com Yaohu que caracterizava o culto na sinagoga não apenas ajudou a preservar o judaísmo como também preparou o caminho para o evangelho cristão.

Os fariseus. Uma vez que constituíam o partido da sinagoga, os fariseus se dedicavam a reinterpretar a lei. Construíram uma “cerca” ao redor dela para que os judeus pudessem viver em retidão diante de Yaohu num mundo que havia mudado drasticamente desde os dias de Moisés. Apesar de formarem um grupo relativamente pequeno, os fariseus tinham o apoio do povo, influenciavam a opinião popular e, possivelmente, até a política nacional. Seu partido foi o único a sobreviver à destruição do templo em 70 d.C., fazendo de seus membros os precursores do judaísmo moderno.

Os essênios, Uma seita judaica quase esquecida (porém mencionado por Josefo) até a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, os essênios constituíam um pequeno grupo separatista originado em meio aos conflitos da era dos macabeus. Como os fariseus, enfatizavam a observância rígida da lei, mas consideravam o sacerdócio do templo corrupto e rejeitavam grande parte dos rituais do templo e o sistema sacrifical. Os essênios são mencionados por vários escritores antigos, mas a natureza exata desse grupo ainda é incerta, apesar de haver um consenso de que era essênia a comunidade de Qumran, responsável pela produção dos Manuscritos do Mar Morto.

Convencidos de que eram os verdadeiros remanescentes, os essênios de Qumran haviam se separado do judaísmo em geral, dedicando-se a manter a pureza pessoal e a preparar-se para a guerra final entre os “Filhos da Luz e os Filhos das Trevas”. Praticavam uma fé apocalíptica seguindo os ensinamentos antigos do seu “Mestre da Retidão” e esperando a vinda de dois, ou mesmo três Messias. Ao que parece, porém, a destruição do templo em 70 d.C., desferiu um golpe mortal em suas expectativas apocalípticas.

Alguns estudiosos procuram equiparar certos aspectos das crenças da comunidade de Qumran com as origens do Cristianismo. Há quem veja um arquétipo de Yaohushua em seu “Mestre de Retidão”, enquanto outros afirmam que João Batista e Yaohushua eram membros da seita. No entanto, essas conjecturas se apóiam apenas numa base especulativa superficial.









INTRODUÇÃO AOS



EVANGELHOS E ATOS





CONTEXTO HISTÓRICO



Herodes o Grande, que faleceu logo depois do nascimento de Yaohushua, havia designado seu filho Arquelau como sucessor no governo da Judéia e Samaria (Mt 2,19-22). Tendo herdado as fraquezas de seu pai, mas não suas virtudes, Arquelau foi banido dez anos depois de se tornar governador. Em decorrência disso, a Judéia e Samaria foram colocadas sob o controle direto de Roma, exercido por meio de governadores ou prefeitos (chamados posteriormente de “procuradores”), incluindo Pôncio Pilatos, que ocupava esse cargo durante o ministério de Yaohushua.

Herodes havia entregue as províncias da Galiléia (onde Yaohushua passou a maior parte de sua vida e ministério) e Peréia a outro filho, Herodes Antipas, mencionado apenas de passagem nos Evangelhos (p. ex., Mt 14,1-12; Lc 23,6-15). O reinado de Antipas foi longo, mas em 39 d.C., Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, conseguiu banir Antipas e assumir o controle da Galiléia e da Peréia. Dois anos depois, o seu amigo de infância Cláudio, o imperador romano na época, também o coroou rei da Judéia e Samaria. Agripa tinha o apoio dos judeus, mas o seu reinado foi curto. Morreu em 44 d.C. depois de perseguir alguns dos apóstolos e receber louvores como fosse um deus (At 12,1-4.19-23).

Os romanos reassumiram o governo, dando a Agripa II o controle de apenas uma pequena porção da Terra Prometida (At 25,13 – 26,32). As tensões entre judeus e romanos se intensificaram nesse período e eclodiram na revolta de 66 d.C. Esse conflito teve conseqüências desastrosas para o povo judeu e Jerusalém foi destruída em 70 d.C.







O CARÁTER DA NARRATIVA DO NOVO TESTAMENTO



Com exceção do Pentateuco, os principais livros históricos do Antigo Testamento (Josué, Juízes, 1 e 2Samuel, 1 e 2Reis) são chamados na tradição judaica de “Profetas Anteriores”. Seu propósito central não é servir de registro dos acontecimentos históricos nacionais, mas sim de mensagem profética para repreender e consolar. Do mesmo modo, os Evangelhos e Atos não fornecem todos os detalhes históricos que podem ser do interesse dos leitores modernos e também não podem ser chamados apropriadamente de biografias de Yaohushua ou dos apóstolos. Antes, registram acontecimentos selecionados e organizados de modo a apresentar a mensagem do evangelho.

Assim, ao lermos as narrativas do Novo Testamento, devemos nos esforçar para determinar o motivo de certos acontecimentos terem sido incluídos, descritos e organizados do modo como foram. Detalhes que à primeira vista podem parecer insignificantes (p. ex., o voto de Paulo registrado em At 18,18) se mostram extremamente importantes mais adiante (At 21,20-24). Assim também, quando um acontecimento da vida de Yaohushua é relatado em mais de um Evangelho, podemos discernir mais do seu significado se conseguirmos enxergar a perspectiva de cada relato. {“Aqui está a RESPOSTA para a pergunta que não quer se calar! Qual? POR QUE NÃO FALA NADA DA VIDA DE YAOHUSHUA NA SUA ADOLESCÊNCIA[...]? Bem, aí está a resposta: Porque o “EVANGELHO” é para nossa SALVAÇÃO. E não para ser uma auto-descrição do Salvador. Pois se fosse assim, YAOHUSHUA, seria MAIOR DO QUE O PAI – YAOHU. E o Filho em hipótese alguma é maior do que o Pai. E, sim, Os Dois são uma ÚNICA PESSOA EM UMA TRINDADE: RÚKHA hol – RODSHUA – Espírito Santo, RÚKHA – YAOHU – Espírito de Yaohu, RÚKHA – YAOHUSHUA – Espírito de Yaohushua = ESCRITURAS SAGRADAS!”}. Esse é o meu entender. Anselmo Estevan.

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