domingo, 12 de junho de 2011

QUANDO O "RECONHECIMENTO DEMORA EM VIR...." 2 PEDRO:

Propósito e características
            (Lembrando que os “GNÓSTICOS”, SÃO FALADOS NOS LIVROS DE: 1Jo; 2Jo; 3Jo; 2Jo 9). Grifo meu.
            2 Pedro foi escrita para messiânicos que estavam sendo ameaçados por falso ENSINO (2,1). Em resposta a esse falso ensino, Pedro enfatizou a verdade e as implicações morais do evangelho.
            Esse falso ensino parece ter sido um precursor do GNOSTICISMO, um termo que designa uma variedade de movimentos heréticos nos primeiros séculos messiânicos (ESPECIALMENTE NO SÉCULO 2) que combinavam as idéias da FILOSOFIA GREGA, do misticismo oriental e do CRISTIANISMO. O protognosticismo com que Pedro deparou ensinava que a salvação se dava por meio do conhecimento intuitivo e esotérico, e não por meio da fé no Mashiach.
            Como eles prezavam muito mais a mente do que o corpo, os GNÓSTICOS DO SÉCULO 2 MUITAS VEZES CAÍAM EM FRAGRANTE IMORALIDADE OU RIGOROSO ASCETISMO. O ascetismo não foi tratado em 2 Pedro, mas a imoralidade é claramente repreendida (2,13-19). Os FALSOS MESTRES aparentemente usavam a liberdade messiânica como uma licença para pecar, especialmente para cometer imoralidade sexual (2,14). Além do mais, eles eram culpados de negar a Yaohu (2,1), desprezar as autoridades e os seres celestiais (2,10) e zombar da segunda vinda do Christós O Mashiach (3,3-4).



            Gênero literário e teologia. Após a saudação de praxe (1,1-2), o autor recorda a índole da vocação messiânica (1,3-11). Vivendo em comunhão com a natureza divina (1,4), o messiânico é chamado à santidade, que supõe a fidelidade à palavra apostólica (1,12-21). De fato, a pregação messiânica não se apóia sobre fábulas fictícias (1,16), mas sobre o testemunho apostólico e sobre a palavra dos profetas pelo Rúkha Qadôsh (1,21).
            A seguir o autor lança um violento ataque, em tom exaltado, contra os falsos mestres, cuja perversão doutrinal e moral ele denuncia (2,1-22). O castigo deles é inevitável, como outrora o dos anjos culpados e dos habitantes de Sodoma e Gomorra (2,6).
            Após este longo trecho, o desenvolvimento iniciado no cap. 1 prossegue com o problema criado pela demora da parusia (3,3-13); o YHWH é paciente, mas seu dia chegará (3,9).
            A carta termina com um apelo á vigilância (3,14-18).
            Mais do que com o gênero epistolar propriamente dito, este escrito se aparenta com o gênero “testamento”, freqüente nas tradições judaicas dessa época: um discurso de despedida que se admite uma pessoa importante faça antes da morte permite desenvolver alguns pontos de doutrina que convêm recordar à comunidade.
            Será que esta epístola de aspecto tão especial merece um lugar no NT? O leitor moderno, cioso do “diálogo”, pode fazer tal pergunta diante da lista de insultos e injúrias do cap. 2
            Não obstante, a epístola fornece enfoques precisos e novos sobre a interpretação e a inspiração das Escrituras, como também sobre a formação do cânon; as profecias do AT e o testemunho apostólico são postos no mesmo nível e servem de base para uma fé sólida (1,19; 3,2). Em nenhum outro lugar do NT, a natureza inspirada das Escrituras é afirmada tão explicitamente: “Nenhuma profecia da Escritura é o objeto de interpretação pessoal: porque nunca uma profecia foi proferida pela vontade humana, mas foi movidos pelo Rúkha Qadôsh que alguns homens falaram da parte de Yaohu” (1,20-21).
            É também nesta epístola que se encontra a primeira menção de uma coletânea de cartas de Paulo (3,15-16), a qual, embora não contenha necessariamente todo o conjunto do corpus Paulino é entretanto considerada como parte integrante das Escrituras.
            Finalmente, a epístola focaliza outro ponto de interesse, tratando resolutamente do problema da demora da parusia: “Que é feito da promessa de sua vinda? Pois desde que os Pais morreram, tudo continua como estava no início da criação” (3,4). O autor denuncia com violência esta falta de fé e se esforça por dar uma resposta: o dilúvio acontecido é uma prefiguração do juízo final, que o autor descreve consciente as categorias de sua época (3,6). O mundo antigo será destruído pelo fogo, para dar lugar a “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (3,13). Sobretudo a noção de tempo não existe para o YHWH: “Um só dia é como mil anos e mil anos, como um dia” (3,8). A demora que se lhe atribui provém apenas da sua amorosa paciência. Ele quer deixar a cada um o tempo de se converter. Por isso, vivam todos desde já na santidade. Através deste ensinamento escatológico, o autor recorda uma dimensão importante da vida messiânica.


            Adversários e destinatários. O autor denuncia “ímpios” que se infiltraram na Igreja (2,1). Quem são eles? Convertidos à fé messiânica, eles a renegaram e ameaçam por então perverter a comunidade, prometendo-lhe uma falsa liberdade (2,19). A heresia deles é simultaneamente teológica – estes falsos doutores renegam o YHWH que os remiu e desprezam os anjos (2,10-11) – e moral: eles levam uma vida devassa e são insaciáveis no pecado (2,14).
            Para os identificar, tem-se falado de “GNÓSTICOS”; estes, julgando-se dotados de um conhecimento superior e de uma total liberdade, professam o desprezo pela carne, mas nem por isso deixam de levar uma vida dissoluta; assim se poderiam explicar os aspectos moral e teológico de seus erros e a insistência do autor sobre o “conhecimento” messiânico, que ele opõe à falsa ciência dos hereges (1,2.3.5.8.12.16; 2,20.21; 3,17-18). Com relação ao seu desprezo pelas “Glórias” (2,10) difícil é captar exatamente a alusão: cometem eles, a juízo do autor, o pecado de nomear os anjos? De fato, encontra-se no judaísmo – e em particular entre os essênios – a menção a semelhante proibição, motivada pelo respeito aos anjos e pelo temor de recorrer a seu nome para fins mágicos. Ou, pelo contrário, negam-lhes eles toda realidade ou toda superioridade, ultrapassando nisto o pensamento de Paulo, que se contentava em sublinhar a inferioridade dos anjos com relação ao Mashiach (Ef 12,1; Cl 2,15)? É difícil precisa-lo bem, pois, na longa série de invectivas do cap. 2 o autor se vale de expressões convencionais, traçando, como foi dito, uma espécie de “retrato-robô” do ímpio.
            Os destinatários da carta estão familiarizados com a ESCRITURA e as tradições apocalípticas judaicas, às quais o autor faz numerosas alusões sem nunca as citar explicitamente (exceto em 1,17): os anjos culpados (2,4), o dilúvio (2,5), Sodoma e Gomorra (2,6-7), Balaão de Bosor (2,15), tradições referentes à origem do mundo pela água e sua destruição pelo fogo.
            Esta epístola, especialmente em 2,1 – 3,3, e a de Judas acusavam ligações evidentes e estreitas. Encontram-se nelas concepções muito parecidas, expressas freqüentemente nos mesmos termos, aliás raros em todo o NT; as duas epístolas parecem seguir o mesmo fio condutor. Assim, ambas polemizam contra os falsos doutores qualificados, nos dois casos, de “céticos zombeteiros” (2Pe 3,3; Jd 18), que proferem enormidades (2Pe 2,18; Jd 16), banqueteiam-se sem vergonha (2Pe 2,13; Jd 12); o pecado deles é comparado ao dos anjos culpados de Sodoma e Gomorra e de Balaão.
            A menos que 2 Pedro e Judas se inspirem de modo independente num texto mais antigo – o que é pouco verossímil – parece incontestável que 2 Pedro depende de Judas; em muitas passagens, o texto parece secundário; em geral, o autor esclarece os passos paralelos da epístola de Judas; suprime alguns elementos estranhos para leitores menos informados a respeito das tradições apócrifas: o combate do arcanjo Miguel (Jd 9), a prostituição dos anjos (Jd 6), a citação de Henoc (Jd 14). Teria havido em 2 Pedro alguma reticência com relação aos apócrifos? Difícil é resolve-lo.
            De outra parte, 2 Pedro levanta a objeção sobre a demora da parusia, enquanto em Judas a questão nem sequer é aventada.
            Estes diferentes indícios revelam um ambiente solidamente enraizado nas tradições judaicas, mais tardio do que o de Judas; é também mais aberto ao helenismo, como indicam, além das omissões já apontadas, uma linguagem elegante, que não exclui sequer certa preciosidade no abuso de palavras compostas e rebuscadas – chegou-se a contar 56 palavras que são empregadas unicamente nesta epístola: é a proporção mais alta do NT. Seria esta epístola fruto de um esforço pastoral de conciliação ente as tendências mais particularistas manifestadas na epístola de Judas, e outras correntes mais abertas, como as que se manifestam nas epístolas de Paulo? Provém ela de um esforço de síntese entre tendências diversificadas no seio da Igreja primitiva?
            Por outro lado, visto esta epístola ter sido aceita primeiro na Igreja de Alexandria e contestada pela da Síria, nós sugeriríamos de bom grado que ela provém de um ambiente judeu-messiânico da Diáspora helenista.


            Autor e data. O autor se identifica com o apóstolo Simão Pedro (1,1). Se, em 3,1, esta carta é apresentada como a “segunda”, espontaneamente se pensa que a primeira seja 1 Pedro. Além disso, o autor recorda sua presença na Transfiguração do YHWH (1,16); enfim, ele anuncia sua morte como próxima (1,14).
            Esta identificação sempre discutida levanta uma série de dificuldades. De um lado, não se devem urgir demais as indicações biográficas pelas quais o autor se identifica com o apóstolo; isto pertence ao gênero literário dos “Testamentos”.
            De outro lado, as diferenças estilísticas são numerosas entre as duas epístolas; 599 palavras divergentes contra 100 comuns. A problemática referente à escatologia não é a mesma; esta diferença supõe que um lapso de tempo assaz longo separa as duas epístolas.
            O autor não parece pertencer à primeira geração messiânica, que despareceu (3,4). A epístola é posterior à de Judas, dotada comumente nos últimos decênios do século I. Enfim e acima de tudo, como já vimos, ela contém uma menção explícita do cânon das Escrituras: existe uma coleção de cartas de Paulo, que, embora incompleta, é contada entre as “ESCRITURAS”, assim como os demais escritos apostólicos e proféticos.
            Por outro lado, como não é possível recuar demais a composição de uma epístola tão farta de tradições judeu-messiânicas, pode-se propor como data provável de redação a ano 125, período que exclui uma origem petrina direta. Entretanto, poder-se-ia falar de um “círculo petrino”, no qual, para lembrar, em continuidade aos ensinamentos do apóstolo, a necessidade de manter a fé, teria sido composta esta carta em forma de testamento espiritual? Recordemos, a este respeito que, segundo uma tradição de Eusébio (História Eclesiástica, II, 16,1), Marcos, que por certo tempo foi colaborador de Pedro (cf. 1Pe 5,13), teria evangelizado Alexandria, ambiente em que esta epístola foi aceita por primeiro.


            Canonicidade. Justamente com o Apocalipse, este foi o livro do NT que teve mais dificuldades para ser reconhecido como canônico. Foi através da Igreja de Alexandria que esta carta penetrou lentamente no universo das Igrejas. Ausente do cânon de Muratori (pouco antes do ano 200), ela é citada pela primeira vez por Orígenes (nascido em 185/6 e falecido em 254), que a aponta como contestada. Eusébio (falecido em 340) ainda a relaciona entre os escritos controversos. Foi só no século V que a epístola foi reconhecida pela maioria das Igrejas e no século VI, na Síria. No entanto, por volta de 200, ela consta de uma versão egípcia do Novo Testamento e, lá pelos fins do século III, no papiro 72.



           


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