EPÍSTOLA (PASTORAL) DE PAULO A
FILEMOM
INTRODUÇÃO
Visão geral
Autor: O apóstolo Paulo.
Propósito: Interceder em favor de Onésimo, um escravo fugitivo.
Data: Cerca de 60 d.C.
Verdades fundamentais:
Os messiânicos devem demonstrar amor uns pelos outros e perdoar-se mutuamente.
A obediência messiânica deve feita de modo espontâneo e não forçado.
Propósito e características
O propósito principal de Paulo ao redigir essa carta era suplicar que Filemom recebesse Onésimo de volta como um irmão em Maschiyah (vs. 12-16). Para alcançar esse propósito, Paulo relembrou Filemom da relação fraterna que ele e Filemom compartilhavam em Maschiyah. Uma vez que Paulo havia se afeiçoado muito a Onésimo (vs. 12,16), ele encorajou Filemom a receber de volta o seu escravo da mesma maneira que receberia o próprio apóstolo Paulo (v. 17).
Filemom nos proporciona um claro exemplo de como aplicar o ensino da ESCRITURA aos problemas do dia a dia. Segundo o exemplo de Maschiyah, Paulo agiu como um mediador por amor a Onésimo e apontou para a unidade dos messiânicos como irmãos e irmãs em Maschiyah como um princípio fundamental para a prática do perdão e do amor mútuos.
EPÍSTOLAS PAULINAS: (13ª). E, [4ª E. PASTORAL].
De todas as cartas de Paulo que chegaram até nós, a Epístola a Filêmon é a mais breve. Contudo, não é um simples bilhete, já que nela Paulo observa todas as regras do protocolo epistolar vigente na época. É também a mais pessoal; mas daí não se infere que ela seja uma simples “carta privada”. De fato, Paulo dirige-se também à “Igreja que se reúne em casa de Filemom” (v. 2). Não estaria o motivo profundo disto no fato de que “no Corpo de Maschiyah os assuntos pessoais já não são mais privados”?
Desde em tempos mais remotos, esta epístola impressionou pela delicadeza de sentimentos que Paulo nela exprime. Nunca o apóstolo empenhou-se tanto em não fazer pesar sobre seus discípulos o jugo de sua autoridade. Ele pede, sugere, não impõe. Com justo título pôde Maurice Goguel qualificar esta missiva de “verdadeira obra-prima de tato e coração”.
Foi sem dúvida de Roma ou Cesaréia que Paulo escreveu esta carta. Seja como for, ela é contemporânea da epístola aos Colossenses: na ocasião Paulo está preso (Cl 4,3.10.18; Fm 9.10.13.18) e acha-se rodeado dos mesmos companheiros (Cl 4,7-14; Fm 23-24). O seu destinatário não nos é conhecido por outras vias. Parece ter sido um membro importante da comunidade de Colossos, à qual beneficiava com seus bens e influência (vv. 5-7). Era um convertido de Paulo; o apóstolo recorda-lho discretamente (v. 19); tem por ele grande estima, a ponto de chama-lo de “seu colaborador bem-amado” (v. l).
Circunstâncias. As circunstâncias da carta permanecem um tanto obscuras. Contudo, as várias alusões que Paulo faz permitem-nos levantar hipóteses bastante verossimilhantes.
Onésimo, escravo de Filemom, fugira da casa do patrão, quiçá em consequência de alguma falcatrua (v. 18). Tendo encontrado Paulo em condições que não nos são relatadas, afeiçoou-se a ele e foi convertido (v. 10). Paulo, por sua vez, afeiçoou-se a Onésimo e o constituiu seu colaborador. Na carta aos Colossenses, designa-o como “este irmão fiel e caríssimo” (4,9). Por isso Paulo o conservou junto a si. Tal situação, porém, ao prolongar-se, corria o risco de se tornar melindrosa: Filemom podia tomar-se de ressentimentos pela indiscrição de Paulo que, sem ter recebido consentimento seu, nem sequer tê-lo avisado, tomara a seu serviço o escravo fugitivo. Ademais, consoante o direito em vigor, Paulo, ao conservar consigo um fugitivo, tornava-se cúmplice de grave infração do direito privado. Finalmente, o próprio Onésimo arriscava-se a ser procurado e posto na cadeia antes de, à força, o devolverem a seu dono, que podia infligir-lhe um grave castigo. Compreende-se por isso que Paulo tenha resolvido devolver Onésimo a seu dono. Entretanto, não se limita a devolve-lo. Envia simultaneamente a Filemom esta missiva, na qual implora-lhe que receba o seu escravo, não só como “um irmão muito amado” (v. 16), mas, ainda mais, como se fosse o próprio Paulo (v. 17). Não lhe pede a alforria de Onésimo em termos expressos, mas não duvida de que Filemom fará ainda mais do que lhe é pedido (v. 21). Cabe a Filemom compreender o que comporta aquele “mais”. Em todo caso, Paulo dá a entender com toda a clareza desejável que tem plena confiança de que, alforriado ou não, Onésimo lhe seja devolvido para servir ao Evangelho.
Utilidade doutrinal. Às vezes, tem causado estranheza que uma carta “privada”, tão pouco dogmática, tenha sido inserida no cânon das ESCRITURAS. Mas não teria a Igreja dos primórdios conservado esta missiva por ter percebido nela algo que não encontrava alhures sobre o proceder messiânico em face da escravatura? A hipótese parece, quando menos, plausível. Claro está que não se deveria transformar a exegese desta breve epístola num tratado sobre “a escravatura na perspectiva do Evangelho”. Ao escreve-lo, Paulo só tinha em mira um caso concreto, particular, mas talvez fosse exatamente por tratar-se, naquela ocasião, de um caso particular, que ele se abalançou a nos dizer, acerca dos vínculos entre patrão e escravo, algo mais do que em suas cartas mais doutrinais.
Os diversos trechos em que Paulo aborda, em suas epístolas, o problema do relacionamento entre patrões e escravos correm o risco de parecer tímidos (1Co 7,20-24; Ef 6,5-9; Cl 3,22 – 4,1). Não há dúvida de que, ao ouvir esses poucos versículos, o escravo do mundo antigo encontrava neles a afirmação assombrosa da sua dignidade humana. Mas Paulo não contesta radicalmente a instituição da escravatura como tal. Ademais, não se pode tampouco duvidar de que Paulo afirme ousadamente que, no Messias, todas as fronteiras ficaram abolidas, que já não há “nem escravo nem homem livre” (Gl 3,28). Chega mesmo a escrever aos messiânicos de Roma, senhores e escravos: “Que o amor fraterno vos una em mútua afeição” (Rm 12,10). Mas, se garante que “diante de Yaohu”, “no Messias”, no âmago do grupo fraterno e, especialmente, dentro da moldura das assembléias litúrgicas, todos os fiéis são iguais e irmãos, parece não deduzir daí nenhuma consequência no plano exterior e jurídico, o da vida civil.
Paulo distingue indubitavelmente dois planos: “diante de Yaohu”, “diante dos homens”, mas a Epístola a Filemom interdiz a interpretação estritamente dualista que, não raro, se deu ao seu pensamento. De fato, embora Paulo não pretenda em parte alguma que é preciso abolir diretamente o estatuto da escravidão, tão difundido na época, não há como imputar-lhe a ter dito que o escravo deve permanecer escravo, ficar na posição que lhe coube na sociedade, como se esta posição lhe houvesse sido destinada do alto, irremissívelmente. Como bem revela T heo Preiss: “De fato, Paulo não justapõe coisa alguma: pelo contrário, a fraternidade, a unidade no Messias apreendem esta relação senhor-escravo, despedaçam-se e a reconstituem num plano totalmente diverso; Onésimo será considerado, não só como um ser igual, um outro membro da Igreja, mas será membro da família de Filemom, será integralmente irmão. Assim, não resta margem alguma de paternalismo: haverá um fraternidade total”. Como Paulo ressalta, sera juntamente “na qualidade de homem e na do Messias” (v. 16), que Onésimo deverá ser acolhido fraternalmente por Filemom.
Ainda com Theo Preiss, é permitido concluir que “se o Novo Testamento não é revolucionário no sentido moderno, é ainda menos conservador: de fato, toda a ordem social é desarticulada e se desfaz com a estrutura deste mundo”.
Autenticidade. Só raramente se pôs em dúvida a autenticidade desta missiva. De fato, não se pode perceber que, além de Paulo, poderia tê-la escrito: dele é a linguagem, o estilo, o coração (Pe. Benoît). Contudo, aqueles que pensam dever contestar a autenticidade da Epístola aos Colossenses caem na obrigação de suspeitar também da desta epístola; pois, como vimos, há tal conexão entre essas duas cartas, que não se poderiam sustentar, a seu respeito duas opiniões diferentes.
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