quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VAYIKRA (LEVÍTICO).

LEVÍTICO




INTRODUÇÃO





Visão Geral



Autor: Moisés.

Propósito: Conduzir os israelitas nos caminhos da santidade para que eles se mantivessem separados do mundo e recebessem bênçãos em vez de julgamento, enquanto vivessem nas proximidades da presença especial de seu Deus santo. (Yaohu).

Data: c. 1446-1406 a.C.

Verdades fundamentais:

• Deus (Yaohu) é santo e exige santidade do seu povo.

• O povo de Deus (Yaohu) não conseguia cumprir perfeitamente as exigências de santidade, mas podia obter expiação temporária por meio do sistema sacrificial.

• Deus (Yaohu) chamou o seu povo para buscar a santidade em todos os aspectos da vida em gratidão pela misericórdia que ele havia demonstrado para com eles.

• Deus (Yaohu) ofereceu bênçãos maravilhosas e ameaçou trazer julgamento caso o seu povo não se arrependesse e se comprometesse com ele.



Público original

Levítico, a forma latina do título grego do livro, significa “acerca dos levitas”. Levi era a tribo de origem dos sacerdotes e cabia aos levitas manter o culto em Israel. O título é apropriado, uma vez que o livro trata principalmente do culto e do que era próprio para ele. No entanto, não é dirigido apenas aos levitas, mas também aos israelitas leigos, dizendo-lhes como oferecer sacrifícios e como ser puro, um requisito para entrar na presença de Deus (Yaohu) em adoração.



Propósito e características

Talvez nenhum outro livro do Antigo Testamento seja tão desafiador para o leitor moderno quanto Levítico, sendo necessário exercitar a imaginação para visualizar as cerimônias e os ritos que constituem grande parte do livro. No entanto, é importante entender os rituais de Levítico por dois motivos. Em primeiro lugar, de modo geral, os rituais preservam, expressam e ensinam os valores e os ideais mais preciosos de uma sociedade. Embora os vários aspectos dos rituais de Levítico pareçam obscuros para os leitores modernos, os israelitas do Antigo Testamento sabiam o motivo pelo qual determinados sacrifícios eram oferecidos em ocasiões específicas e que certos gestos significavam.





Cristo em Levítico:

Por meio de seus símbolos e ritos, Levítico apresenta uma descrição do caráter de Deus (Yaohu) que é pressuposta e aprofundada na mensagem do Novo Testamento sobre Cristo. Esse livro ensina que Deus (Yaohu) é a fonte da vida perfeita, que ele ama o seu povo e quer habitar no meio dele. Vemos nisso uma prefiguração da encarnação, na qual “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Levítico também mostra claramente a pecaminosidade humana: Tão logo os filhos de Arão haviam sido ordenados, eles profanaram o seu ofício sacerdotal e morreram, numa demonstração terrível de julgamento divino (cap,10). Aqueles que sofriam de doença de pele e fluxo, bem como aqueles que possuíam imperfeições morais, eram proibidos de participar do culto, pois suas imperfeições eram incompatíveis com o Deus (Yaohu) santo e perfeito (cap, 12 – 15). Por meio desse simbolo, Levítico ensina a universalidade do pecado humano, uma doutrina afirmada também por Cristo (Mc 7,21-23) e Paulo (Rm 3,23). Preso entre a santidade divina e a pecaminosidade humana, a maior necessidade do ser humano é receber expiação. É nesse ponto que o livro mostra mais instrutivo para o cristão, pois seus conceitos se cumprem na obra expiatória de Cristo. Ele é o Cordeiro sacrifical perfeito que tira o pecado do mundo (1,10; 4,32; Jo 1,29). Sua morte é o resgate por muitos (Mc 10,45) e o seu sangue purifica de todo pecado (4; Hb 9,13-14; 1Jo 1,7). Acima de tudo, Cristo é o sumo sacerdote perfeito que entra, não no tabernáculo terreno uma vez por ano no Dia da Expiação (Lv 16), mas no templo celestial para sempre. Cristo não ofereceu um mero bode pelos pecados de seu povo, mas sim, a sua própria vida (Hb 9 – 10). Quando o véu do templo se rasgou na crucificação de Cristo, ficou claro que sua morte ABRIU O CAMINHO PARA DEUS – YAOHU DE MODO QUE TODOS QUE CRESSEM TIVESSEM UM ACESSO MAIS PLENO (Mt 27,51; Hb 10,20). [POR ISSO, QUE É MUITO IMPORTANTE, SABER O NOME DESSE “DEUS” - NÃO UM TÍTULO SOMENTE OU PIOR, QUALQUER “deus”? MAS SIM O ÚNICO QUE SALVA YAOHU]. Além do mais, enquanto Levítico se concentra na importância de manter Israel separado dos povos vizinhos, o Novo Testamento abre o reino PARA TODAS AS NAÇÕES e desse modo, revoga a observância das leis alimentares (Mc 7; At 10) sem, no enanto, abrir mão dos princípios morais simbolizados nas mesmas (Jo 17,16; 2Co 6,14 – 7,1). O Deus (Yaohwh) santo de Levítico é mostrado nos Evangelhos como sendo CRISTO, que oferece vida, saúde e santidade a todos os que estão dispostos a segui-lo.

Sito as palavras de Paulo:

“Atos 17,23”: Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. (YHWH – “Yaohu” - o Nome pessoal de “EL-ULHIM” = DEUS NO PLURAL = YAOHU UL.).







Levítico. (LUGAR E FUNÇÃO DO LIVRO):



O livro de Êxodo termina com a construção da Tenda do Encontro (40,16-33), que Yaohu imediatamente legitima, vindo instalar-se nela na nuvem (40,34-38).

As primeiras palavras do Levítico exprimem a seu modo esta legitimação: enquanto no Êxodo Yaohu falava a Moisés sobretudo no cume do Sinai, agora é “da tenda da reunião” que o faz (1,1).

Nos 27 capítulos deste livro, Deus (Yaohu) transmite a seu povo “suas leis e seus costumes”, pois “é pondo-os em prática que o homem tem a vida” (18,5). Em suma, vai explicar-lhes o bom uso dessa “tenda”, para que seja verdadeiramente um lugar de “encontro”: não aconteça que um erro ritual (1 – 10), uma impureza física (11 – 16) ou uma infidelidade moral (17 – 26) cause obstáculo a essa comunhão. Por isso tudo é descrito com tanta minucia.

Contudo, o Levítico não apresenta senão certos aspectos do culto israelita. É talvez no saltério que se devam procurar as orações e os cantos que acompanhavam os ritos. São sobretudo os profetas (p. ex. Jr 7,3-11; Os 6,6) que lembra a Israel que a execução dos ritos não basta para proporcionar a salvação. Mas o que o Levítico quer fazer penetrar na consciência dos fiéis, e isto com uma insistência incansável, é que a comunhão com o Deus (Yahu) vivo é a verdade última do homem!



Levítico. (DATAÇÃO, ORIGEM E CONTEÚDO DO LIVRO):



O texto, no seu estado atual e canônico, é de redação pós-exílica, embora reúna em um todo relativamente coerente elementos de origens diversas, alguns dos quais podem remontar a uma alta antiguidade. Na época em que o poder político do sacerdócio vai aumentando, já que não existe mais rei, e o profetismo está em vias de desaparecimento, os sacerdotes de Jerusalém reuniram e completaram, para as necessidades do Segundo Templo, diversas coleções de leis e de rituais.

Numa primeira seção (1 – 7), apresentam-se as diversas categorias de sacrifícios que o israelita pode (ou deve) oferecer a Deus (Yaohu), em certas circunstâncias. Não se trata de uma iniciação para o uso dos profanos, mas da codificação, para os iniciados, dos rituais, numa espécie de livro de referência. Em particular, nada se diz sobre a origem ou a significação dos sacrifícios e dos rituais. Só se pode constatar, por alusões ou comparações, que Israel hauriu o princípio dos sacrifícios das religiões do Antigo Oriente e que soube encher este quadro ritual com um conteúdo novo, correspondente a sua visão do mundo e ao seu conhecimento de Deus (Yaohu)

A segunda seção (8 – 10) descreve as cerimônias que se desenrolam por ocasião da investidura sacerdotal de Aarão e de seus filhos. Esses três capítulos talvez tenham constituído, na origem, a continuação direta do Êxodo, respondendo às prescrições do capítulo 29. Os sacerdotes aparecem ali com toda clareza na sua função de mediação, que implica uma exigência particular de santidade, já que devem servir de intermediários entre o povo de Deus (Yaohu) santo.

A terceira seção (11 – 16) elenca diversas categorias de impurezas que impedem o homem de entrar em contato com Deus (Yaohu) [praticamente: que o impedem de aproximar-se do santuário]: o consumo se alimentos impuros, a impureza da mulher depois do parto, a lepra, a impureza sexual do homem ou da mulher. O capítulo 16, de certo modo, constitui o coração do livro: descreve a majestosa liturgia do Yom Kippur, o Dia do Grande Perdão, que chegou a ser chamado de “Sexta feira Santa no Antigo Testamento”.

A quarta seção engloba os capítulos 17 – 26, que geralmente são agrupados sob o título de Lei (ou Código de Santidade. Uma vez que Yaohu é um Deus vivo e santo (qadosh, 11,44-45; 19,2; 20,26; 21,8), o povo que escolheu, que reservou para si, que lhe é consagrado [qadosh, 11,44-45; 19,2; 20,7.26; 21,6-8], deve procurar tudo o que facilita a comunhão com Deus [Yaohu] e evitar tudo o que, física ou moralmente, pôr obstáculo a essa comunhão vital: não consumir o sangue, que é a sede da vida dada por Deus [Yaohu]; recusar quaisquer relações sexuais anormais; respeitar a Yaohu entre único DEUS, e o homem enquanto criatura de Deus (Yaohu); garantir a dignidade do sacerdócio e dos sacrifícios e celebrar fielmente as festas e os anos santos).

O capítulo 27, apêndice ao conjunto do livro, trata dos problemas de tarifação dos votos e dos resgates.





PEQUENO LÉXICO DO LEVÍTICO



A leitura do Levítico não é fácil. O estilo é muitas vezes monótono e bastante árido. Encontra-se nele certo número de termos técnicos, cujo valor é importante conhecer. Também é preciso ter consciência de certos traços da mentalidade hebraica e de certas instituições do povo de Israel. Não se deve, por exemplo, imaginar os sacerdotes de Israel à semelhança dos sacerdotes nas Igrejas cristãs de hoje: embora a palavra seja a mesma, ela não designa duas realidades idênticas. O pequeno léxico que se segue quer agilizar a compreensão do livro. {As seções são tratadas na ordem das quatro seções do livro: sacrificais,sacerdócio, puro e impuro, santidade. Na primeira parte, os termos técnicos sacrificais estão classificados por ordem alfabética}.





1. Os sacrifícios. Em todas as religiões, o sacrifício é uma tentativa de entrar em relação mais íntima com a divindade; por isso a história das religiões o estudou essencialmente sob três pontos de vista: o sacrifício enquanto “dom” oferecido à divindade; o sacrifício operando uma “comunhão” com a divindade; o sacrifício visando a uma “expiação” dos pecados e ao perdão por parte da divindade. Os sacrifícios israelitas dividem-se com bastante facilidade entre essas três categorias; dom: holocausto, oferenda vegetal, primícias; comunhão: sacrifício de paz; expiação: sacrifício pelo pecado, sacrifício de reparação.

No decorrer dos séculos e sob o peso das circunstâncias, desenhou-se uma evolução: refletindo sobre a ruína de Jerusalém e sobre o Exílio, Israel adquiriu uma consciência mais viva da força do pecado e da necessidade de perdão. Eis por que o Levítico enfatiza o papel reconciliador dos sacrifícios, dando grande importância à absolvição pelo sangue e reduzindo as oferendas vegetais a complemento dos sacrifícios sangrentos.

a) Aceitar: o verbo (sempre no passivo no Lv) e o substantivo correspondente (sempre em um sentido passivo) designam o escolhimento benévolo que Deus (Yaohu) dá a um ofertante sincero, aceitando e aprovando o seu presente, quando o oferente obedece às regras rituais.

b) Holocausto: sacrifício de uma vítima totalmente consumida pelo fogo sobre o altar (excetuada a pele, cf. 7,8). É o sacrifício que exprime por excelência a doação: o oferente não recebe nada da vítima sacrificada. Encontra-se o seu equivalente entre os gregos e em Ugarit, mas não entre os demais semitas.

c) Memorial: termo técnico que designa a parte de uma oferenda vegetal (com ou sem incensos) consumida sobre o altar. Quanto à significação da palavra, cf. 2,2 nota.

d) Oferenda consumida: termo geral que engloba tudo o que é queimado sobre o altar para Deus (Yaohu) e, por extensão, a vítima toda inteira de tais sacrifícios. Parece, todavia, que o termo nunca é utilizado explicitamente para as partes queimadas do sacrifício pelo pecado. A etimologia da palavra é desconhecida, mas evoca por assonância a palavra hebraica para “fogo”, donde a tradução: oferenda consumida. i.é. Pelo fogo.

e) Oferenda vegetal: a palavra minhá designava originalmente o conjunto dos sacrifícios da categoria do dom e da comunhão (Gn 4,3-5; Sm 2,17). Mais tarde, o termo especializou-se no sentido de oferenda não-sangrenta e foi substituído na acepção geral pelo termo presente (cf. Tópico J).

f) Paz (sacrifício de -): por vezes é chamado também de sacrifico de “comunhão”, ou sacrifício de “aliança”. As partes gordas da vítima são queimadas sobre o altar para Deus (Yaohu), uma parte da carne é reservada aos sacerdotes e o resto é consumido pelo oferente, sua família e seu amigos. O Levítico distingue três formas específicas desse sacrifício, que correspondem a disposições internas dos oferentes, mais do que a rituais próprios: o sacrifício de louvor (7,12-15), o sacrifício votivo (7,16) e o sacrifício espontâneo (7,16). O sacrifício de paz, assim como o holocausto, tem o seu equivalente em Ugarit e entre os gregos, mas não entre os demais semitas.

g) Pecado (sacrifício pelo -): ele é difícil de ser distinguido do sacrifício de reparação (cf. Tópico K): não se sabe se na origem se trata de dois sacrifícios diferentes, que pouco a pouco se teriam confundido, ou de um único sacrifício conhecido sob duas designações sinônimos, que os redatores teriam artificialmente distinguido no ritual ulterior.

A vítima varia segundo a qualidade ou os meios do delinquente; o sangue desempenha o papel mais importante, pois é ele que proporciona a absolvição; as gorduras são queimadas sobre o altar, como sacrifício de paz; as carnes são consumidas pelos sacerdotes, salvo no caso em que o delinquente é um sacerdote ou o povo no seu conjunto, pois não se pode ao mesmo tempo oferecer um sacrifício pelo pecado e tirar proveito dele.

Este sacrifício não serve para obter o perdão de um pecado deliberado, mas visa restabelecer uma relação com Deus (Yaohu) comprometida pelos pecados involuntários (cf. 4,2 nota) ou por um estado de impureza (cf. 14,19).

h) Perfume: no interior da tenda da reunião (e em Lugar santo do Templo) encontrava-se o altar dos perfumes (4,7), onde se queimava um perfume especialmente composto para este efeito (cf. Êx 30,34 e nota).

À mesma raiz está ligado o termo frequente no Lv e traduzido por “fazer fumegar” (1,9 etc.), que designa toda combustão de sacrifício sobre o altar dos holocaustos. O emprego deste verbo mostra como se entendia que Deus (Yahu) se beneficiava (na forma de “fumaça perfumada”) da doação que lhe era feita.

i) Perfume aplacador: esta expressão está o mais das vezes em estrito paralelo com a expressão oferenda consumida (cf. Tópico d) e, com exceção de um caso (4,31, qualificando o sacrifício pelo pecado), ela se refere a um sacrifício que se pode qualificar de oferenda consumida. Talvez na origem se trate do decalque hebraico de uma expressão acádica que aparece no relato babilônico do dilúvio, por ocasião do sacrifício oferecido pelo resgatado (cf. Gn 8,21). Ela exprime o desejo que o oferente sente de manter uma relação pacífica com um Deus (Yaohu) benevolente.

j) Presente (cf. Tópico e: oferenda vegetal): no “Código Sacerdotal” a palavra qorban designa qualquer espécie de sacrifício, e até oferendas não sacrificais (Nm 7). Significa literalmente aquilo que a gente “aproxima” de Deus (Yaohu) {ou do altar}, mas pouco a pouco a palavra adquiriu o sentido de “oferenda sagrada” ou de “objeto consagrado”, sentido que o termo tem na boca de Cristo – MESSIAS – (Mc 7,11).

k) Reparação (sacrifício de -): (cf. Tópico g: sacrifícios pelo pecado). Na época do Segundo Templo, apesar da identidade dos ritos, o sacrifício de reparação parece ter-se distinguido do sacrifício pelo pecado, essencialmente pelo fato de vir acompanhado de uma reparação do mal causado (restituição ou re-embolso com majoração de um quinto). Talvez ele diga respeito também a casos particulares e mais individuais que o sacrifício pelo pecado. Finalmente, ele não faz parte do ritual de nenhuma grande festa de Israel. Estes dois sacrifícios parecem constituir uma peculiaridade de Israel: não se encontra atestação certa de sacrifício deste tipo em nenhum dos povos vizinhos ou contemporâneos.

l) Santíssimo (ou coisa santíssima): enquanto a expressão qôdesh qodashim (lit. Santo dos santos) tem muitas vezes um sentido local, designando especialmente a segunda parte do santuário (tenda ou templo), conhecida também sob o nome de debir (quarto sagrado, cf. 1Rs 6,16), o redator do Levítico só a emprega para designar uma coisa consagrada a Deus (Yaohu) e do qual, por conseguinte, não se pode fazer nenhum uso profano. Pare ele, são essencialmente as partes dos sacrifícios “expiatórios” e das oferendas vegetais, reservados exclusivamente aos sacerdotes, que são coisas ou oferendas santíssimas.

M) Santo: a palavra qôdesh designa ou qualifica uma grande variedade de coisas: pessoas,lugares, tempos, objetos, oferendas. Cf. Abaixo §4.

2. O sacerdócio. A origem que o Levítico oferece do sacerdócio é o resultado de uma evolução de vários séculos, no qual se manifestaram influências diversas, religiosas, morais, sociais, políticas.

Na época mais antiga, as funções sacerdotais (garante a mediação entre o homem e Deus [Yaohu] pela execução dos ritos e pela comunicação da vontade divina) não parecem ser exercidas exclusivamente por uma classe de especialistas. Os patriarcas, na qualidade de chefes de família, oferecem eles mesmos os sacrifícios (Gn 8,20; 15,9-10; 22,1-14).

Contudo, em torno dos lugares de culto (p. ex. Shilô, 1Sm 1 – 3; Dan, Jz 18,19-20.27-31) estabelecem-se famílias sacerdotais que garantiam o serviço do santuário e conservavam as tradições e os ritos. Em Jerusalém, Davi encontrou uma família sacerdotal (a de Sadoq) que talvez tivesse ligações com Malki-Sédeq, o rei sacerdote da época patriarcal (Gn 14,17-20). A importância adquirida por Jerusalém atraiu muitos sacerdotes dos outros lugares de culto; foram, aliás, obrigados a se reagrupar ali quando Josias decidiu centralizar todo o culto israelita em Jerusalém: mas este aporte de pessoal não deixou de criar litígios entre o pessoal ali instalado e os recém-chegados (2Rs 23,8-9).

Já no reinado de Salomão, havia-se assistido a lutas de influência entre duas famílias sacerdotais, a de Ebiatar e o de Sadoq, cujas origens não são claramente conhecidas. Os sadoquitas teriam acabado excluindo quase completamente os seus rivais do exercício do sacerdócio hierosolimitano (1Rs 2,26-27). O Exílio pôs fim a essas rixas, quando os dois grupos foram genealogicamente ligados a Aarão, fazendo deste último, membro da tribo de Levi, o primeiro sumo sacerdote, no ponto de partida de todo sacerdócio (1Cr 24,1-6).

Depois da volta do Exílio (538 a.C.), não sendo restaurado a realeza, é o clero que assume as rédeas do destino do povo. Aquele que se acabará chamando 'sumo sacerdote' vai pouco a pouco ocupando uma função equivalente à do rei: traz insignias régias (8,9) e, como o rei pré-exílico, recebe a unção (8,12). A partir de Aristóbulo I (104-103 a.C.). tornou-se explícito o que era implícito: o sumo sacerdote assume o título de rei.

O que importa é o que permaneceu imutável ao longo de toda esta evolução, a saber o caráter mediador do sacerdote, o qual, introduzido pela sua consagração na esfera do sacro, pode desempenhar o papel de intermediário autorizado.

3. O puro e impuro. A noção de impureza é bem próxima à de “tabu”, tal como os historiadores das religiões a encontram nos povos mais diversos. Ela supõe que o homem deseja viver uma vida enquadrada por regras estáveis, protegida da angústia do desconhecido. Consequentemente, tudo o que é excepcional, anormal, insólito, tudo o que é mudança, passagem de um estado a outro, aparece como uma ameaça, como a manifestação de um poder que zomba das regras conhecidas, como uma mancha contagiosa da qual é preciso proteger-se, afastando-se dela, ou do qual é preciso libertar-se, purificando-se.

A Impureza não é um ato culpável: com efeito, as obrigações da vida (maternidade, toalete dos mortos, etc.) implicam necessariamente o homem num estado de impureza que o impede de entrar, pelo culto, em relação com o Deus (Yaohu) santo, estado do qual ele tem de se purificar. O ato culpável acontece quando, estando em impureza, a pessoa age como se estivesse em estado de pureza (Lv 15,31). Ezequiel utilizará o vocabulário da impureza para qualificar os pecados de Jerusalém, incluídos os que eram cometidos contra a moral propriamente dita (cf. Ez 22,7). O pecado é com efeito a grande impureza que compromete a relação entra o homem e Deus (Yaohu).

O fato de as proibições de Lv 11 – 15 serem codificadas é o sinal de que quase não são mais vividas espontaneamente; o Levítico as coloca em relação com o Deus (Yaohu) da aliança (11,44-45), o Yaohu da vida, para quem devemos manter-nos puros.

O Novo Testamento é testemunho de vários debates sobre o valor dessas proibições (Mc 7,1-23; At 10; 1Co 6,12-20).

4. A santidade. A santidade é uma das noções capitais do Levítico, e de todo o Antigo Testamento. Ela tem parentesco com a noção de pureza.

Fundal-mente, a santidade designa todo o mistério insondável do Deus (Yaohu) transcendente, do Deus (Yaohu) absolutamente diferente, incomparável, inapreensível, inefável, do Totalmente-Outro inacessível ao homem. Dizer que o Yaohu é santo é, pois, não tanto dar a Deus (Yaohu) uma qualificação moral, mas antes afirmar que ele é radicalmente dessemelhante de tudo o que o homem conhece ou imagina.

No entanto – e isto também é um elemento constitutivo da sua santidade – este Deus (Yaohu) transcendente permite ao homem aproximar-se dele (cap. 23); este Deus (Yaohu) incompreensível dá-se conhecer e comunica a sua vontade (cap. 19); ele faz irradiar a sua santidade e quer fazer a humanidade participar dela: “Sede santos, pois eu sou santo...” (19,2). Ao escolher o povo de Israel, Deus (Yaohu) o quer diferente dos demais; reserva-o para si, distinguindo-o e separando-o dos povos profanos, para que possa entrar em comunhão com o Deus (Yaohu) santo. Esta eleição traz consigo uma exigência moral, consequência da santidade do povo eleito, mas que o levou a santificar-se constantemente, para permanecer nessa COMUNHÃO vital e manifestar assim aos olhos das outras nações a santidade do seu Deus (Yaohu).

Os homens não são os únicos a ser chamados de santos: TUDO O QUE EXPRIME A PRESENÇA DE DEUS (YAOHU) PODE SER QUALIFICADO DE SANTO:

• Pessoas (p. ex. Os sacerdotes, que penetram mais profundamente na esfera de Deus (Yaohu) e que devem abster-se de diversas práticas legítimas, porém profanas, cap, 21 – 22);

• Tempos (p. ex. O sábado, dia do Yaohu, no decurso do qual se deve renunciar às ocupações profanas, Êx 20,8-11);

• Lugares (p. ex. O santuário, no qual não têm direito de penetrar nem os profanos nem os estrangeiros, Hb 9,7-8; At 21,28);

• Objetos (p. ex. O óleo de unção santa, que serve aos ritos de consagração e é proibido para qualquer uso profano, Êx 30,23-33).

Em suma, a noção de santidade comporta três ideias-força: Separação de tudo o que é profano, consagração para entrar em comunhão com Deus (Yaohu), compromisso para fazer a vontade Dele.



O LEVÍTICO NA BÍBLIA E NA VIDA DO CRENTE



O Levítico apareceu tarde demais na vida de Israel para poder influenciar de maneira sensível os demais livros do Antigo Testamento. Por outro lado, apresenta com exclusividade excessiva a “técnica” dos sacrifícios israelitas para ser citado com frequência no NT. As passagens citadas com maior frequência são tiradas sobretudo das leis morais do “Código da Santidade”. Mas a influência de um livro não se mede somente pelo número de citações que dele se fazem. Daí por que a influência do Levítico não é desprezível, embora indireta; com efeito, o culto praticado em Jerusalém consoante as regras codificadas no Levítico é o pano de fundo das reflexões do NT sobre o sacerdócio e o sacrifício de Cristo. Sem o Levítico, falta-nos iam muitos elementos para compreender como Paulo ou a epístola aos Hebreus (cf. Hebreus, Introdução § 8) interpretam teologicamente a morte de Cristo – Messias.

Hoje o Levítico é talvez, entre os livros do AT, o menos lido pelos cristãos. Com efeito, ele não é de acesso fácil, e parece só falar de práticas que caducaram em virtude da nova Aliança. Mas é preciso entender bem esta “caducidade”. Ao aproveitar gestos religiosos dos seus vizinhos ou ao criar novos para elaborar o seu ritual, Israel procurou fazer o culto que celebrava concordar com a fé que professava; o culto tinha a função de exprimir e realizar a reconciliação e a comunhão do povo santo com o Deus (Yaohu) santo, em nome do qual pelejavam os profetas e todos os que zelavam pela pureza da fé em Israel. As festas, os ritos, os gestos variam com os tempos e os lugares, de acordo com o que se quer expressar e de acordo com os meios de que se dispõe para fazer isso. Mas permanece o desejo de exprimir a fé pela festa comunitária e pela linguagem do corpo. Nem as investidas proféticas contra um culto mal celebrado, nem o abandono dos ritos levíticos por parte do judaísmo, privado do seu Templo, e por parte do cristianismo, que reconheceu o valor único e definitivo do sacrifício de Cristo, nada disso abole o fato de que o Levítico está presente na Bíblia. A presença dele responde à necessidade humana de exprimir a fé por gestos religiosos, ao mesmo tempo em que anuncia e prepara a vinda daquele que traz nas suas palavras e realiza na sua vida a reconciliação e a comunhão dos homens com Deus (Yaohu).







PRINCIPAIS 'PERSONAGENS' - DO “LEVÍTICO”





Nadabe/Abiú

Pontos fortes e êxitos:

• Filhos mais velhos de Arão.

• Primeiros candidatos a serem sumo sacerdote após seu pai.

• Envolvidos na consagração do Tabernáculo.

• Elogiados por fazerem “todas as coisas que Yaohu ordenara” (Lv 8,36).



Fraquezas e erros:

• Trataram as ordens diretas de Deus (Yaohu) de forma indiferente.



Lições de vida:

• O pecado traz consequências mortais.



Informações essenciais:

• Local: Península do Sinai.

• Ocupação: Aprendizes de sacerdote.

• Familiares: Pai – Arão; tios – Moisés e Miriã; irmãos – Eleazar e Itamar.

Versículos-chave:

• “E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face de Yaohu, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante de Yaohu e os consumiu e morreram perante Yaohu” (Lv 10,1.2).

A história de Nadabe e Abiú pode ser encontrada em Levítico 8 – 10. Eles são também mencionados em Êxodo 24,1.9; 28,1; Números 3,2-4; 16,60.61.

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