quinta-feira, 1 de setembro de 2011
YECHEZK'EL (EZEQUIEL).
INTRODUÇÃO AO LIVRO DE:
EZEQUIEL
INTRODUÇÃO
Visão geral
Autor: O profeta Ezequiel.
Propósito: Incentivar os exilados a permanecerem fiéis ao ETERNO, para que ele cumprisse a sua promessa de reconduzi-los à Terra Prometida e de conduzir o templo e Jerusalém a novas alturas de glória.
Data: c. 593-570 a.C.
Verdades fundamentais:
Judá e Jerusalém merecerem a sentença dada por Yaohu de destruição total e exílio.
O julgamento vem sobre aqueles que violam flagrantemente a lei de Yaohu.
Yaohu julgará as nações que se voltaram contra o seu povo.
Depois do exílio, Yaohu mandaria grandes bênçãos ao seu povo.
Jerusalém e o seu templo seriam o centro do povo restaurado de Yaohu.
Propósito e características
O livro de Ezequiel é inigualável no sentido de que, com algumas exceções ocasionais, ele é inteiramente autobiográfico, isto é, escrito na primeira pessoa do singular, do ponto de vista do próprio Ezequiel. O livro se divide em três partes. Nas duas primeiras, Ezequiel anunciou o julgamento sobre Jerusalém (caps. 1 – 24) e sobre outras nações estrangeiras (caps. 25 – 32). A partir do momento em que um mensageiro chegou relatando a destruição de Jerusalém (33,21 – 22), a pregação do profeta passa a ser dominada pelas promessas de restauração e misericórdia para o futuro (caps. 33 – 48). Tanto à parte que anuncia julgamento sobre Jerusalém como a parte que profetiza restauração, iniciam com oráculos a respeito do papel de Ezequiel como atalaia (3,16-21; 33,1-20).
CHRISTÓS, “O UNGIDO” –, EM EZEQUIEL. (Yaohushua):
O ministério profético de Yaohushua foi antecipado quando Ezequiel anunciou que Yaohu destruiria Jerusalém e enviaria a sua população para o exílio em razão de sua continuada descrença. O julgamento contra os apóstatas dentre o povo da aliança estendeu-se também ao ministério do UNGIDO, “O SALVADOR”, – Yaohushua. Yaohushua apelou para o arrependimento entre os judeus e um REMANESCENTE respondeu em fé. Entretanto, como Ezequiel, Yaohushua – O UNGIDO anunciou que a destruição do templo e de Jerusalém ocorreriam novamente após a sua partida (Mt 24; Jo 2,19). Ezequiel também anunciou julgamento contra as nações que atormentavam o povo de Yaohu (29,19; 30,25; 38,21-23). Num certo grau, esses julgamentos ocorreram na inauguração do reino de Yaohushua (Mt 24,34; Lc 11,32.51), mas serão plenamente realizados no julgamento que acontecerá quando Yaohushua retornar (Ap 11,18; 14,7; 15,1).
A obra de Yaohushua foi antecipada quando Ezequiel anunciou que Yaohu um dia poria um fim ao exílio (caps. 33 – 48), estabeleceria uma aliança de paz (34,5; 37,6) e restauraria Jerusalém a uma glória maior do que nunca antes (cap. 48). De acordo com essas esperanças, a morte, a ressurreição e a ascensão de Yaohushua ocorreram perto da cidade (Mt 16,20). A descida do Rúkha hol – Rodshua (Espírito Santo) ocorreu ali, no dia de Pentecostes, quando milhares de exilados creram no Yaohushua (At 2). Além disso, entre a sua primeira e a sua segunda vinda, a Jerusalém celestial, onde Yaohushua está, tornou-se um aspecto importante da fé dos remanescentes (Jo 3,31; Cl 1,5). O Novo Testamento também fez de Jerusalém a peça central dos novos céus e nova terra a serem estabelecidos quando Yaohushua retornar (Ap 21,2).
O próprio Yaohushua foi antecipado quando Ezequiel mencionou “o príncipe” em 34,24; 37,25; 44,3; 45,7.16-17.22; 46,2.4.8.10.12.16-18. Esse príncipe seria o filho de Davi que reinaria sobre o povo de Yaohu após o exílio. Da época do exílio até Yaohushua, nenhuma figura real da casa de Davi reinou sobre Israel (Lc 1,32-33). Assim, Yaohushua cumpre as esperanças que Ezequiel tinha para a restauração da casa de Davi após o exílio. Veja a nota sobre 37,24.
Ezequiel depositava muitas de suas esperanças para o futuro de Israel na restauração do templo e do seu sacerdócio (caps. 40 – 48). Como filho encarnado de Yaohu, Yaohushua é o cumprimento final tanto do templo de Yaohu (Jo 2,19-22; Ap 21,22) como do sacerdócio (Hb 7,1 – 8,6). Sua morte foi um sacrifício expiatório (Rm 3,25; Hb 2,17). Ele agora ministra diante do trono de Yaohu no céu, intercedendo pelos santos (veja Hb 8). Quando retornar em glória, Yaohushua santificará os novos céus e a nova terra para ser uma morada santa para Yaohu (Ap 21,22-23), substituindo o templo como lugar de sua presença especial – 1Rs 8.
Como a palavra “Christós” – O UNGIDO – foi transliterada erroneamente para o português – “CRISTO”. E, dessa palavra, se derivou a palavra: CRISTÃO – (At 11,26; 26,28; 1Pe 4,16). Entendendo que esse termo é: SEGUIDOR DE CRISTO – DE SUAS OBRAS...! Mas o correto é: REMANESCENTE – OU SEJA: “O QUE RESTA DE ALGUMA COISA, O QUE SOBROU, O SEGUIMENTO MAIS PURO O DNA, ETC”. Sendo desta forma quando houver a palavra: cristão, leia-se REMANESCENTE – OS VERDADEIROS SEGUIDORES DE YAOHUSHUA – SUA SEMENTE – O QUE BUSCA A VERDADE PURA DOS CÉUS SOMENTE...!!! (Is 49,6; Jr 50,20; Rm 9,27; Rm 11,5). Por isso que é fundamental conhecer o seu verdadeiro Nome Pessoal único e intransferível: “Yaohu”, “Yaohushua”, “Rúkha hol – Rodshua” – O ÚNICO NOME QUE “SALVA”! Anselmo Estevan.
Vamos ver o que diz a Enciclopédia Bíblica, O ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO versículo por versículo; da editora HAGNOS. R.N. Champlin. Dicionário – pág. 5154:
REMANESCENTE:
No hebraico temos três palavras diversas, com o sentido de “aquilo que resta”, “escape” e “remanescente”. No N.T. também temos três palavras gregas, Katáleimma, leîmma e loipós, todas com o sentido de “remanescente”.
O conceito de remanescente encontra-se ao longo da Bíblia, com vários aspectos e significações. Aquelas palavras originais algumas vezes eram usadas em combinações que lhes emprestavam um efeito intensificador ou especial. Podiam indicar objetos ou pessoas que sobraram, após o uso ou alguma mortandade ou destruição. Os profetas se utilizaram especialmente de expressões como “restantes de Sião” (Is 4,3; Jr 6,9, “resíduos de Israel”; Mq 2,12, “restante de Israel”; Mq 5,6ss, “restante de Jacó”) e expressões similares. Essas expressões têm um sentido teológico e escatológico, um resumo das esperanças dos crentes israelitas. O povo ao qual seria dada a salvação final consiste na comunidade daqueles que, pelo desígnio gracioso de Yaohu, vierem a escapar do juízo condenatório, por haverem sido escolhidos pelo ETERNO. Todavia, como muitos outros conceitos teológicos, o conceito de “remanescente” também sofreu uma evolução ao longo da revelação bíblica:
1. Uso profano ou natural. A idéia de algo que sobrou é comum no uso secular. A Bíblia alude ao resto das ofertas de manjares ou de cereais (Lv 2,3), ao resto do azeite (Lv 14,18), os restantes dos prostitutos cultuais (1Rs 22,46), etc. A palavra “restante” é usada, especialmente, para indicar minorias políticas de vários tipos (ver Js 23,12; Dt 3,11; 2Sm 21,12; Is 14,22.30; 16,14; 1Rs 14,10; 2Rs 25,11; Ez 14,22; etc.). Os grupos de exilados que retornaram da Babilônia em companhia de Zorobabel e Esdras também eram chamados “remanescente”.
2. Uso teológico. É nesse campo que a palavra se reveste de grande importância. O destino político de Israel é uma questão escatológica, profetizada. Um exemplo pertinente disso é Mq 5,3: “Portanto os entregará até ao tempo em que a que está em dores de parto tiver dado à luz; então o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel”. Estão em foco os eleitos de Yaohu dentre todas as nações, que serão unidas aos israelitas salvos no fim de nossa dispensação, completando a Igreja. Os profetas do A.T. apenas vislumbravam o que o N.T. descreve com maior clareza.
Aquele que faz a vontade de Yaohu é irmão, irmã ou mãe de Yaohushua (Mt 12,50); Yaohushua não se envergonha de chamá-los irmãos (Hb 2,11). A promessa se estende a todos quantos são chamados por Yaohu (At 2,39).
Que a Bíblia ensina um retorno literal dos judeus à Palestina que pode ser identificado ou não ao contemporâneo movimento sionista, parece claro, através de trechos como Jr 31,7-9 e Mq 5,7.8. Mas, quando chegamos ao N.T., a palavra “remanescente” é usada especialmente em relação aos judeus que, em cada geração, se vão convertendo a Yaohushua, até à grande colheita final de Israelitas, nos dias da grande tribulação. Romanos 9,27-29 é passagem crucial dentro da teologia de remanescente. Só o remanescente de Israel será salvo. Esses são a semente espiritual de Abraão, em contraposição à sua descendência natural – aqueles que são tão numerosos como as estrelas, em contraste com aqueles que são tão numerosos como a areia dos mares. Portanto, é um erro equiparar a moderna nação de Israel com o remanescente profetizado. Contudo, apesar de esse remanescente visar especialmente aos judeus eleitos por Yaohu, também estão em pauta os gentios eleitos (ver Rm 9,24.25: “... a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios...”). Isso esclarece que a Igreja de Yaohushua, em seu estágio final, consistirá de judeus e gentios eleitos, tal como se deu no começo do cristianismo, fortalecendo a posição pós-tribulacional, que não concebe a Igreja gentílica arrebatada antes da tribulação, somente após o que os judeus se voltariam para Yaohushua. As promessas bíblicas, acerca do povo de Yaohu do fim, visam igualmente a judeus e gentios, pois, em Yaohushua são eliminadas todas as distinções que os separavam, formando-se um único corpo místico de Yaohushua. (Ver João 17,22.23).
Romanos 11,4.5 é trecho que fala de um remanescente escolhido de acordo com os propósitos da graça divina. A base histórica disso é a experiência do profeta Elias, que foi relembrado, em um período de grande apostasia em Israel, que havia ali muitos que não tinham dobrado os joelhos diante de Baal. O ponto frisado pelo apóstolo foi que esses fiéis do passado são paralelos ao remanescente da graça na dispensação atual. A soberana eleição de Yaohu está em foco. Apesar de a maioria da nação de Israel ter caído em apostasia, o remanescente permaneceu fiel ao ETERNO. O mesmo sucederá no período escatológico do fim. Outro pensamento que se salienta é que Yaohu jamais rejeita os seus escolhidos, pois a eleição para a salvação não depende das realizações morais dos escolhidos, mas do beneplácito de Yaohu. A ênfase recai sempre sobre a profundíssima misericórdia do ETERNO, em todas as discussões sobe o remanescente!
EZEQUIEL: “Ezequiel”: um homem, sem dúvida, desconcertante, de gênio tão variado, tão rico, tão complexo, que seu livro se nos apresenta denso e difícil de percorrer. Todavia este livro dá testemunho de um homem que viveu um dos momentos mais dramáticos da história de Israel e cuja experiência espiritual é uma das mais aptas a esclarecer o destino do povo de Yaohu. Não será, então, de particular atualidade?
O LIVRO DE EZEQUIEL
Sua estrutura se apresenta simples e lógica. Depois do relato da vocação do profeta (1,1 – 3,21), vêm os oráculos que anunciam o julgamento de Jerusalém (3,22 – 24,27), o castigo das nações (25 – 32) e a restauração do povo aniquilado (33 – 37). O livro se completa nas vastas perspectivas de um horizonte distante: aos olhos do leitor, desenrola-se inicialmente a decisiva batalha do povo de Yaohu diante de terríveis inimigos (38 – 39); depois se desenha a alta silhueta da montanha sobre a qual Ezequiel vislumbra a capital futurista do povo de Yaohu renovado (40 – 48).
Mas, depois de ultrapassado esse esquema bastante lógico, o livro espanta por certa liberdade que aparenta desordem. Assim, no interior do cap. 34, em temas do pastor e do rebanho se desenvolvem em sentidos diversos (inspirados, é verdade, em Jr 23,1-6), e o cap. 1 contém um acúmulo de detalhes estranhos, aparentemente supérfluos – as rodas, por exemplo – ou então acrescentados em detrimento da coerência gramatical.
Os discípulos de Ezequiel têm grande responsabilidade nessa desordem. Aparentemente indiferentes a toda lógica, fragmentaram seus oráculos: 3,22-27; 4,4-8; 24,15-27 e 33,21.22 poderiam ser os membros dissociados de um relato contínuo; ou então aproximaram indevidamente oráculos independentes, unindo-os por um vínculo fictício: assim é que o termo de encadeamento “espada” (cap. 21) serve de elo entre parágrafos alheios uns aos outros: a espada do ETERNO (vv. 6-12), espada bem afiada (vv. 13-22), do rei da Babilônia (vv. 23-32), erguida contra os amonitas (vv. 33-37); esses discípulos chegaram a repetir várias vezes os mesmos oráculos: as considerações sobre “os justos caminhos do ETERNO” encontram-se – idênticos, ou quase – em 18,1-32 e 33,10-20.
O próprio Ezequiel não é totalmente estranho à atual fisionomia de seu livro; foi ele o primeiro a sobrecarregar as frases com detalhes, os capítulos com parágrafos, todos portadores de uma doutrina capital, mas sem compromisso com a harmonia primitiva: assim aconteceu-lhe completar os relatos das visões (1 – 3; 8 – 11) ou de certo gesto profético (4,4-17) etc. Aliás, era o que desejava o seu gênio variado, instável, quase doentio, por assim dizer. Não o vemos prostrado (3,15), mudo (3,26), talvez paralisado (4,4-8)? Esse gênio não consegue defender-se da atração dos extremos: é fulgurante e meticuloso, pronto para o sublime e para o vulgar; deixa-se seduzir pelo peso do barroco, deixa-se levar pela embriaguez do surrealismo (ver os poemas da águia: 17,1-10; do dragão: 32,1-8), e em seguida encerra sua imaginação impetuosa e sua frase redundante nas frias distinções de um casuísta (caps. 18 e 33), na monótona descrição de uma geografia de computador (cap. 47 e 48), na seca enumeração de dados arquitetônicos (cap. 40 e 42) ou nos parágrafos cansativos de rubricas minuciosas (cap. 44; 46). É ainda ele que se deixar guiar pelos marcos precisos da história – as alusões históricas são numerosas no pano de fundo dos cap. 16 e 19, ou nos diversos oráculos contra as nações – e que mostra familiaridade com riquezas inesgotáveis, perspectivas fugidias e indefinidas da evocação mítica: o homem primordial e o jardim do Éden (cap. 28), a árvore cósmica (cap. 31), as regiões infernais (cap. 32).
O PROFETA EZEQUIEL
Ao longo deste livro, cuja estrutura e estilo já esboçam a silhueta de alguém, finalmente aparece um personagem, Ezequiel, o profeta.
Contemporâneo da queda de Jerusalém (587), às vezes dá a impressão de ter começado sua pregação na capital palestina, antes de continuá-la e de leva-la a termo entre os deportados, às margens do rio Kebar. Assim se explicaria melhor, entre outras coisas, a minuciosa descrição de todos os gestos idolátricos realizados no Templo (cap. 8). Mas o argumento parece pouco convincente, e a maioria dos comentadores julga que toda a atividade profética de Ezequiel se desenrola em terra babilônica, junto a uma cidade: Tel-Abib; o profeta fora levado para lá antes da destruição de Jerusalém, por ocasião das primeiras razzias palestinas de Nabucodonosor (598). São registradas as datas de certos oráculos. A da visão inicial não é confiável (1,1-2; cf. v. 1 nota), mas as outras são dignas de atenção. A visão dos pecados de Jerusalém (8,1) é situada no sexto ano (do exílio do rei Ioiakin, que é também o de Ezequiel), ou seja, em 592; oráculo da panela (24,1) é datado do nono ano, ou seja, em 589, no mesmo dezembro em que se inicia o cerco a Jerusalém; outros são situados no décimo ano, em 588, no tempo em que o faraó do Egito se encontra em má situação (29,1); no décimo primeiro, em 587 (26,1), no décimo segundo, ou seja, no início de 585 (33,21), no vigésimo quinto, em 573 (40,1), e por fim no vigésimo sétimo, em 571 (29,17).
A MENSAGEM DE EZEQUIEL
É, pois, na Babilônia que se desenvolveu a atividade daquele que era até então um sacerdote e que conservou, até o fim da vida, sua mentalidade de sacerdote perito em culto, liturgia, rubricas e sacristias (caps. 40 – 48); é lá ainda que, de repente, tudo nele se transtorna. Produzem-se dois acontecimentos: a irrupção da glória de Yaohu fez desse sacerdote um profeta, e a queda de Jerusalém transforma o pregador de condenação em pregador de salvação.
A irrupção da Glória. Eis, pois, que a partir de certo dia, a vida de Ezequiel é como que invadida pela Glória do ETERNO. Ela se mostra em várias ocasiões (1,28; 3,23; 8,4; 10,1; 43,2), deixando-o todas as vezes atônico, extasiado (3,15).
Que vê ele? No meio de uma grande nuvem, precedido pelo sopro da tempestade, um fogo em forma de redemoinho; e depois, seres vivos. São quatro: eles voam, sustentam um firmamento sobre o qual aparece um trono. Acima, há como que o aspecto de um homem, com uma claridade ao redor dele... É o aspecto da Glória do ETERNO (1,4-28).
No fundo, o profeta está em vias de reviver, mas com gênio diferente e noutro contexto, a visão de seu grande predecessor, Isaías. Ele acaba de receber a revelação esmagadora da transcendência do ETERNO, da Glória daquele que é o rei de toda a terra (Is 6,3). Este último ponto está ausente da descrição inicial de Ezequiel, mas o profeta sugere sua verdade acrescentando traços secundários, com o risco de obscurecer sua intuição primordial. Assim se explica a longa descrição desses animais fantásticos, tomados do bestiário mítico dos babilônios, que o profeta se compraz em ver a serviço do ETERNO; ou ainda a presença, totalmente supérflua, de rodas alucinantes que mostram a seu modo que a Glória é onipotente em todos os lugares.
Esmagado por essa revelação, Ezequiel percebe violentamente sua pequenez; em face da Glória, ele não passa de um ínfimo e derrisório filho de homem, hesitante, atônito (1,28; 2,2; 3,14-17.22-24); sobre ele, a mão do ETERNO (1,3; 3,22; 33,22; 37,1; 40,1) caiu (8,1) pesadamente (3,14); sobre ele também, o Espírito do ETERNO – Rúkha – Yaohu – vem (2,2; 3,24), cai (11,5), para arrebata-lo (3,12.14; 8,3; 11,1.24; 43,5).
Mas o profeta percebe a Glória que sai do Templo e se afasta de Jerusalém (11,22.23). O ETERNO deixa Sião! Por quê? Como?
Ezequiel descobre no pecado de Israel o motivo de tão dramática separação; o pecado de Israel é o mal endêmico do qual ele procura entrever a gravidade, a extensão, a profundidade. O pecado é o ato de violência, o crime em que o sangue é derramado (7,23; 9,9; 16,36; 18,10 etc.), que, pelo menos uma vez, o profeta põe em pé de igualdade com a idolatria (36,18). Pois o pecado capital é, para ele, a idolatria (14,1-8), que ele vê praticada sobre toda colina, sob as árvores (6,3.6.13; 16,16; 20,28.29) e até no Templo de Jerusalém (cap. 8). Encontra seus sinais na entrada do pórtico interior (vv. 3-6), no adro (vv. 7-13), no santuário do ETERNO (vv. 14.15), entre o vestíbulo e o altar (v. 16). O pecado de Israel é também a imoralidade cotidiana; Ezequiel a descreve inspirando-se nos formulários de confissão dos pecados, em uso nos santuários (18,5-9; 22,3-12.23-30).
Ezequiel diz e repete que esse pecado é um horror, uma abominação (5,9-11; 6,9; 16,22-52); é um gesto de infidelidade, um adultério, um ato de prostituição. O profeta desenvolve este tema na alegria da menina encontrada, adotada e depois desposada, que finalmente se transforma em “prostituta despótica” (16,30); ele retoma depois na história das duas irmãs, Oholá (Samaria) e Oholibá (Jerusalém), esposas infiéis que se entregaram a uma insolente prostituição (cap. 23).
O profeta finalmente chega a descobrir a raiz da impudica infidelidade à qual Jerusalém se abandona no orgulho. O pecado dos pagãos de Sodoma (16,49-50), do rei de Tiro (28,2.5.17), do Egito (30,6.18) e seus faraós (32,12; 35,13), é também o pecado de Israel (7,20.24; 33,28), esposa envaidecida com sua beleza (16,15.56); é também o pecado do príncipe (21,30-31).
Porventura, Jerusalém não tem um origem pagã, ela que descende de pai emorita e de mãe hitita (16,3.45)? Sua corrupção, que se manifesta ao longo de toda a sua história (cap. 20), é congênita (cap. 16), e a permanência prolongada de Jacó-Israel no Egito – onde Yaohu com a mão erguida, jurou, e disse: Eu sou YAOHU vosso Deus (20,5) – deveria ter as mais funestas conseqüências: ela daria a Israel essa paixão pelos ídolos à qual depois ninguém saberia renunciar (cap. 20).
É em meio a esse povo que Ezequiel é estabelecido profeta, com a missão de proclamar a palavra de Yaohu. Ainda que esta palavra penetre nele como um alimento e o encha de doçura (3,2.3), o filho de Buzi deve esperar encontrar em seu caminho sofrimentos e espinhos toda vez que ele clamar: Assim fala o ETERNO – Yaohu – Deus (3,11); mas não deve desistir, pois o essencial é, no fim das contas, que os deportados, por mais rebeldes que sejam, saibam que há um profeta no meio deles (2,5).
Ezequiel será uma “sentinela a serviço de Israel”. Deverá dizer ao perverso: “Vais morrer”, a fim de que o mau abandone a sua má conduta e viva; deverá admoestar o justo para que não peque, a fim de permanecer em vida (3,16-21); pois, ao contrário do adágio que se costuma repetir em Israel, ele afirma: Quem pecar, esse morrerá, o filho não arcará com a iniqüidade do pai, nem o pai com a iniqüidade do filho (18,4-20).
Todavia, se Ezequiel deixar de admoestar o malvado, terá de prestar contas do sangue do mau que houver perecido por falta de admoestação oportuna (3,18). Esta hipótese não é gratuita; nessa época, não faltavam pretensos profetas, que seguiam sua própria inspiração sem jamais ter tido visão. São semelhantes a pedreiros que se contentam com rebocar um muro rachado, com o risco de deixar ruir todo o conjunto. Tais são os profetas que publicam uma mensagem de paz sem se preocupar em curar o pecado (cap. 13). [está acontecendo hoje nos cultos...!]. A.
A queda de Jerusalém. O pecado não pode deixar de conduzir o povo a um julgamento inelutável e terrível; o profeta vê sua realização bem próxima e se obstina a anuncia-lo incansavelmente, por palavras (caps. 7; 9 – 11) e atos (caps. 4 – 5). Até aquela triste manhã, em que alguém se apresenta para lhe declarar a desgraça que aconteceu: Jerusalém foi tomada, destruída, incendiada; os sobreviventes partem para o exílio.
Foi este o segundo acontecimento capital na vida de Ezequiel. Instigado a não deixar transparecer seu pesar (24,15-27), deve ter sentido uma dor pelo menos igual à de seus companheiros de deportação. Com efeito, o sofrimento e o desespero deles foram tais que chegaram a dizer: Estão sobre nós as nossas revoltas e os nossos pecados, e apodrecemos por causa deles! Como poderemos viver? (33,10). Ou ainda: Os nossos ossos estão ressequidos, pereceu a nossa esperança, estamos esfacelados (37,11).
Então Ezequiel reagiu; pôs-se a anunciar o castigo para as nações cujos sarcasmos intensificavam a dor dos vencidos. Israel não será o único a sofrer o julgamento. Sem dúvida, o profeta outrora entrevia que povos de fala impenetrável e de língua enrolada (3,6) o teriam escutado melhor do que a casa de Israel; contudo, esses povos agora são convocados ao tribunal de Yaohu (25 – 32). O Egito é o principal acusado (cap. 29 – 32), ele que provocou a traição de Sedecias (17,15), infiel às suas alianças (17,19). Tiro deve compadecer por ter tido intenções injuriosas contra Jerusalém. Oprimida pelos exércitos inimigos (26,2), e depois também os países vizinhos da Palestina: Amon, Moab, Edom e os filisteus, todos culpáveis de comportamento odioso com relação ao povo aniquilado (cap. 25).
Mas eis que o profeta, arauto trágico, reduzido até aqui ao anúncio de uma desgraça inelutável, transforma-se em pregador de salvação. Já os seus oráculos anteriores não haviam excluído todo motivo de conforto. O tema do “Resto” aparece em algumas passagens; sua evocação é rápida, tão rápida, aliás, que se pode ver aí o resultado de algum acréscimo secundário; assim os vv. 5,1.2 são explicados aos vv. 12 e 13, ao passo que os vv. 5,3.4, que, ademais, comprometem a lógica do cálculo profético, não recebem nenhum comentário. Contudo, o tema é claramente atestado no cap. 9; aí vem à tona a execução dos habitantes de Jerusalém, precedida por um gesto de seleção que põe à parte os homens que gemem e se lamentam por causa de todas as abominações que se cometem no meio de Jerusalém (9,4).
Haverá, portanto, um “Resto” (ver 6,8-10; 9,4-8; 11,13; 12,16; 14,22.23), mais irrisório, tão frágil (11,13), reduzido talvez aos cadáveres amontoados em Jerusalém (11,7), que sua evocação não pode impedir os exilados de perder sua débil esperança. Então o profeta, sentinela atenta, se posta na brecha. Os mortos viverão, proclama ele; e aí temos o maravilhoso afresco dos ossos ressequidos e revigorados (37,1-14); por mais diminuído e aniquilado que esteja Israel, ainda que fosse semelhante a um ossário abandonado pela vida, o ETERNO saberá faze-lo reviver ao sopro impetuoso de seu Rúkha – Espírito.
Um povo que voltou à vida, mas a uma vida totalmente diferente da anterior, tal será o Israel resgatado do exílio. Porque, diz o ETERNO: eu vos tomarei de entre as nações, vos reunirei de todas as terras e vos levarei ao vosso solo. Farei sobre vós uma aspersão de água pura e ficareis puros: eu vos purificarei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo; tirarei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Infundirei em vós o meu Rúkha e vos farei caminhar segundo as minhas leis, guardar e praticar os meus costumes. Habitareis a terra que dei a vossos pais; sereis para mim um povo, e eu serei para vós Deus – Yaohu (36,24-28).
Essa vida ideal se realizará num reino reunificado (37,15-28), onde o povo não será mais entregue às prevaricações dos chefes indignos (34,1-10); ele será guiado pelo cajado do ETERNO, tornando-se ele mesmo o pastor de seu povo (34,11-16); quanto ao descendente de David, ele será simplesmente um príncipe no meio deles (34,24).
Perspectivas finais. No fim de sua carreira profética, Ezequiel se aplica a mostrar o caminho do Israel renovado. Inicialmente ele vê o povo conseguir, no fim dos anos (38,8), a vitória que o livra de todos os seus inimigos. O povo os enfrentou num combate colossal, reencontrando todos os seus adversários de todos os tempos, por trás da face belicosa de seu campeão, Gog, da terra de Magog, grande príncipe de Méshek e de Tubal. Ele os enfrenta e a todos destrói; com seus armamentos terrificantes ele faz um fogo de alegria; abandona inúmeros mortos deles à rapacidade dos abutres e ao cuidado dos coveiros, por sete meses interminavelmente ocupados em enterrar os corpos dos vencidos (cap. 38 e 39).
Por fim, Ezequiel imagina Israel vitoriosa já instalado numa Palestina também renovada. Vê a terra matematicamente partilhada em zonas que limitam as fronteiras com absoluto rigor (cap.47; 48); ele a vê banhada com a água maravilhosa, que jorra do Templo (cap. 47). Será o lugar privilegiado onde, conforme todas as suas regras (caps. 40; 46), desenrolar-se-á o culto que celebra a Glória do ETERNO que voltou ao santuário (43,1-12). Pois, de agora em diante, o Templo será o centro da vida do povo, o coração de um mistério que o profeta faz entrever em uma só expressão: O ETERNO está aí (48,35).
VAMOS AS PRINCIPAIS PERSONAGENS DE EZEQUIEL:
EZEQUIEL
Pontos fortes e êxitos:
Foi treinado para ser um sacerdote, e chamado por Yaohu para ser um profeta.
Recebeu visões vividas e transmitiu mensagens poderosas.
Serviu como mensageiro de Yaohu durante o exílio de Israel na Babilônia.
Tornou-se um homem firme e corajoso, atingindo, com sua mensagem, as pessoas mais rebeldes (Ez 3,8).
Lições de vida:
Mesmo os repetidos fracassos de seu povo não impedirão que o plano de Yaohu para o mundo se cumpra.
A resposta de cada pessoa a Yaohu determinará o seu destino eterno.
Yaohu escolhe pessoas através das quais pode trabalhar mesmo em situações aparentemente desesperadoras.
Informações essenciais:
Local: Babilônia.
Ocupação: Profeta para os exilados na Babilônia.
Familiares: Pai – Buzi; esposa – seu nome não é citado.
Contemporâneos: Joaquim, Jeremias, Jeoaquim e Nabucodonosor.
Versículos-chave: “Disse-me mais: Filho do homem, coloca no coração todas as minhas palavras que te hei de dizer e ouve-as com os teus ouvidos. Eia, pois, vai aos filhos do teu povo, e lhes falarás, e lhes dirás: Assim diz o ETERNO YAOHU, quer ouçam quer deixem de ouvir” (Ez 3,10.11).
A história de Ezequiel é encontrada no livro que tem seu nome e em 2 Reis 24,10-17.
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